Page 269 - Revista da Armada
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ENTREVISTA
COMANDANTE FELICIANO GOMES
IIEstamos orgulhosos
da cooperafão com Portugal n
A estadia em Portugal do comandante Feliciano i o ano
Gomes, comandante da Marinha Nacional da Um grupo de estudan·
tes do Liceu Honório
República da Guiné-Bissau, que em Lisboa Barreto, que clandesti-
frequentou o Curso Geral Naval de Guerra, foi namente partilhava os
ideais do PAIGC, deci-
o pretexto para uma conversa com a Revista da
diu deixar Bissau e
Armada. dirigir-se para a tron-
Conhecidos pessoalmente desde há alguns anos feira sul. Poucos dias
depois chegava a
e com a facilidade de um entendimento comum Conacry, onde iniciava
sobre alguns dos problemas mais significativos a sua preparação mili-
que respeitam à Marinha do seu país, o tar, mais tarde prosse-
guida no Centro de
encontro deu-se à mesa de um restaurante à Preparação Política e
beira-mar e num fim de tarde de soberba Militar do PAIGC, em
luminosidade. Durante algumas horas, Madina de Roê.
Entre eles, ~'d::~~~~':;; I
"estivemos" na Guiné-Bissau, evocando nomes, se um jovem
locais e histórias. Feliciano Comes.
Em Maio de 1973, já combatente, Feliciano Gomes é ;;, ,t~,,,do I
no Corpo de Artilharia Terrestre, na Frente SU",i:~~:~~~:~ 1
Entrevista conduzida pelo CTfN Rodrigues da Costa comando de Nino Vieira, e, entre outras acções,
assalto ao aquartelamento de Guileje e no assédio a
Porto.
s primeiras acções de - Que impressões reteve do dia 24 de Setembro de 1973, em Madina do Boé, toma
cooperação com a Ma- Curso Geral Naval de Guerra, cerimónias militares da proclamação unilateral da ;nclep.n· 1
A rinha Nacional (MN), que concluiu? I dê"da da República da Guiné-Bissau.
levadas a efeito pela Marinha - As melhores. i de 1974, voltou a Bissau, integrando a equipa
Portuguesa, têm excedido as A Marinha é um sector em que
05 aspectos técnicos são {)rt!(kr I P,"C;C que preparou a transferência de PO~dt:·:~,:es:,~.;~V.~O::I:t:O::u~~~;; I
expectativas de ambas as par- .. ntigo liceu, onde reencontrou alguns dos
les. Nos últimos dois anos, milldntes. conhecera antes, e foi incorporado na I
muitos dos seus elementos têm O InstitulO Superior Naval de então em formação. Em Setembro de 1976 segue para
frequentado algumas escolas Cuetrà dispde dos mais moder- frequentando durante 4 anos a Escola Naval de
da Marinha, nomeadamente a nos métodos de ensino e lem Baku, no mar Cáspio.
EKola de Fuzileiros, o Grupo um corpo docente de gfànde Oe regresso ao seu país, foi incorporado no Estado-Maior da
n' l de Escolas da Armada, a qualidade, lendo sido um gran- MN. Paralelamente, frequenta a Escola Nacional de Direito,
Escola Naval e o Instituto de privilésio escU/àr e aprender em Bissau exerce funções de promotor de justiça no
Superior Naval de Guerra. com pessoas de tão elevàdo Tribunal Militar, integrando depois, como téc.nico, a comis-
O COI~itÓ .. eilto cirecto que a nível. É um instrumento muito são permanente de Direito~ M~rítimo Inte_rnaclo~al e a dele-
Marinha Portuguesa tem da \'álido na formação de &estores gação guineense à ConferenCIa das Naçoes UnIdas sobre o
República da Guiné-Bissau, das de qualquer organização, que Direito do Mar.
suas populações, da sua rultura, estimula o debate técnico dos Regressa mais tarde à Marin~~, como vi.ce-c.hefe do Estado-
dos seus rios, das suas infra-estru- problemas do mar e da -Maior da MN, frequenta estagros profiSSIOnaIS de cartografia
luras navais e das suas necessida- Marinha" numa base de grande em Argel, de estereotopografia em Paris, e de nave~ação ~ fis-
des, toma o encontro das suas profissionalismo, e que acentua calização marítima na US Coast Guard, exerce funçoes de JuIz-
Marinhas mais motivador. a alta responsabilidade do exer- -vogai do Tribunal Militar Superior e foi, durante algum tempo,
Formalmente, porém, uma cleio da moderna gesMo. Os deputado à Assembleia Nacional da RGB.
parte da longa conversa expres- ensinamentos adquiridos vie- Em 1992, foi designado para o cargo de comandante da
sou-se através de perguntas ram permitir-nos uma maior Marinha Nacional. Com 38 anos de idade, o capitão·de-fragata
concretas, a que, sem hesi- sintonia e compreensão no Feliciano Gomes frequentou o Curso Ceral Nav~1 d.e Gu~~ra,
tação, o comandante Feliciano nosso diálogo com a Marinha em 1993, ao abrigo dos acordos de cooperação tecnrco-mllltar
Gomes nos deu as suas res- Portuguesa, em todas as áreas eslabelecidos entre Portugal e a República da Guiné-Bissau.
postas. Ildvàis.
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