Page 274 - Revista da Armada
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". Por ocasião das comemorações do Dia da Marinha,
~~~~ o Chefe do Estado-Maior da Armada divulgou a sua tradicional
y ~ensagem à Marinha", lida em formatura geral nas unidades, através
'O.. da qual se faz uma reflexão sobre o presente e procura perspectivar o futuro da Marinha.
Pelo interesse que a referida Mensagem tem para os muitos dos nossos leitores e assinantes,
sobretudo para aqueles que vivem intensamente a Marinha, mas que não tiveram possibilidade
de a escutar ou ler, a Revista da Armada decidiu proceder à sua publicação.
Mensagem à Marinha
do Chefe do Estado-Maior da Armada
omemoramos, nesta como sejam os quadros de que viabilizam a rota segura Se isso nos serve de alento,
data, o Dia das Forças pesso.11 a vigorar até 1996. ao navegante, e assegurando, pois diz bem do espfrito que
C Armadas e da Marinha. Considero, assim, que exis- 24 horas por dia, em 365 dias nos anima, é, porém, forçoso
E se não é demais sublinhar a tem hoje razões para confiar- por ano, a soberania dos Por- reconhecer, para além da exis-
relevãncia do seu desempe- mos num fut uro que todos tugueses. tência de limites para o que é
nho integrado no conteúdo construiremos e que por todos levámos bem longe, através legflimo exigir, a necessidade
real da soberania, julgo que será certamente assegurado. dos nossos navios, o nome de imperiosa de se actuar mais no
hoje devemos exercitar uma Contudo, apesar do esforço Portugal ao estrangeiro. e de- domfnio das motivações, com
reflexão conjunta sobre o desenvolvido e de não poder- sempenhámos, com gosto e especia l relevância pa ra o
nosso presente. procurando mos, de nenhum modo, rei- competência, missões de (0<)- caso do nosso pessoaJ embar-
perspectivar o futuro. vindicar O exclusivo do ex!- peração com OS PALOP, onde cado.
Começarei por recordar que guo, é inegável a subsistência muitos tiveram papel de real- Marinheiros!
a iniciativa é, a par da coesão, de um enquadramento finan- ce, com merecida ênfase para Portugal tem necessidade de
da disciplina e da organiza- ceiro muito restrito, o que os nossos fuzileiros. dispor de uma Marinha à
ção, factor determinante no implica, para além de outras Na continuaçao de uma medida das suas tradições e
sucesso. Não me restam dúvi- acções, a necessidade de bem longuíssima tradiçao de servi· necessidades actuais, como
das que esses factores têm gerirmos· com absoluta parci- ço público - agora também nação ini ludivelmente ligada
constituído um importante mónia - os recursos que os descoberta por outras Mari· ao mar. A este fadO deve cor-
veclor na concretizaç~o dos Portugueses entendem colocar nhas amigas - exercemos as responder uma dotação de
nossos objectivos. à nossa disposição. nossas missões de autoridade recursos que, tendo em conta
É. no entanto, forçoso reco- Esta situaçào, bem conheci- marítima, rentabilizando ao as prioridades nacionais, nos
nhecer a existência de alguns da de lodos, tem vindo a afir- máximo os escassos meios permita manter um peso ade-
outros aspectos em que a mar-se, como tendencialmen- humanos e materiais existen· quado na aferição da substân-
nossa capacidade de realiza- te estrutural, também na gran- les. cia real da soberania.
ção poderá ser melhorada. É de maioria das Forças Arma- E se é certo que, neste âm- A n6s, cumpre-nos utilizar,
precisamente na identificação das dos países aliados. É, por- bito, existem ootros enquadra- tão bem quanto formos (apa-
desses pontos que o exerdcio tanto, . não nos iludamos - de mentos possfveis, não o é zes, esses recursos, conferindo-
da reOexão se torna individual- difícil inversão. menos afirmar que o agora ·Ihes valor acrescentado, pela
mente mais necessário, assim Quanto ao plano interno, previsto é aquele que, sem nossa competência e sentido
como é na apresentação de contrariando as profecias dúvida, fornece uma melhor de serviço à Nação e, sobretu-
soluções concretas que a inici- daqueles que consideravam a relação custo-eficácia e garan- do, pelo respeito que devemos
ativa se revela indispensável. Marinha e os marinheiros por· te uma adequada segurança e a nós próprios e a todos aque.-
Numa altura de profunda tugueses incapazes de operar estabilidade aos seus quadros. les que, ao longo de séculos,
mudança institucional, a e manter meios dispondo de É certo que existem grandes fizeram com que a História de
Marinha evidenciou. a par da tecnologia de ponta, conlra· dificuldades motivadas por Portugal se escrevesse também
serenidade crítica que lhe pomos, com o esforço e a mudanças institucionais de - e muito· no mar.
advém de uma cultura multis- competência de muitos, o indiscutível necessidade e Na convicção de que sere-
secular, uma vitalidade indis- facto indesmentível - atestado oportunidade, que incidiram mos capazes de merecer esta
cutível, condizente com o per- por observadores imparciais· praticamente em todos os sec- herança de gerações, manifes-
fil etário próprio de uma orga- do sucesso que tem constitui· tores da nossa actividade e, to a todos os que servem a
nização jovem. do a integração das fragatas naturalmente, em alguns desti- Marinha - militares, civis e
De facto, no enquadramen- da classe ·Vasco da Gama" na natários pouco habituados a militarizados - a minha COIl·
to externo, vieram a revelar-se Armada Nacional. imprescindíveis adaptações. A fiança em que seremos capa-
adequadas as nossas posições A par disto, estivemos onde isto acrescem as insuficiências zes de briosamente cumprir o
relativas às grandes opções do foi preciso. Na ex-Jugoslávia e diversas a que já me referi. futuro.
Conceito Estratégico de em Angola, nas missões com- Esta situação, a que nenhum A Pátria honrai, que a Pátria
Defesa Nacional, às leis orgâ- binadas com os nossos aliados sector da Marinha ficou vos contempla. .t
nicas da Marinha e da e, como sempre, no mar por· imune, tem·se traduzido, fun-
Programação Militar e, ainda, tuguês, preservando os recur- damentalmente, em preten·
em oulros ordenamentos de sos naturais, salvando vidas der-se. e ter-se feito, mais com
grande inleresse para lodos, humanas, fornecendo meios menos.
20 AGOSTO 93 • REVISTA DA ARMWA