Page 298 - Revista da Armada
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senhores rei e rainha de Castela e   singradllfils ele léguas ou  como   orescente  que  assinalava  <Ia  do P.lrá, não impedia que a colora-
      de Ar'18.1o,  tantos de uma parte   melhor se puderem concordar.  A   linha". Em simultâneo, os mesmos   ção aplicada  para  marcação da
      como  de outra, para que junl.1-  qlhJI dita rdia  assinem desde o   navios lançavam ao mar placas de   "/inha*fize5Se o efeito de;ejado.
      mente fXl5S<lnJ mellxx ver e rec~   dilo polo .irtico  ao dilO polo   madeira  flutuantes  nas quais esta-  Pass.lClos 30 minutos, estava ter-
      nhecer o mar e os rumos e ventos                       vam  presos  balões grandes,  com   minada  a cerimónia. Então,  as
      e graus do Sol e OOIte, e assinalar   anlárclico que é de norte a sul   as cores das bandeiras de Portugal   guarnições saudaram·se  mutua-
      ,1S léguas sobrOOitas ... "   como dito é."            e Espanha.                 mente e os  navios cumprimenta-
                                   As guarnições estavam em  p0s-  Simultaneamente,  ainda,  na   ram-se com  apitos e sereias de
        No  dia  26  de Julho, os  navios
      chegaram .,  posição  pré-determi-  tos de  honras  militares, com  a   corveta  "Infanta Cristina" e na fra-  nevoeiro. A fragata  "Sacadura
                                 frenle voltada  para dentro,  ou   gata  "Sacadura  Cabral" era  lido,   Clbral" e a COf"\.'e!a  "Inf.lnta  Cris-
      nada  a Norte da bafa  de Marajó,
      onde desagua  o rio do  Pará  (IP  =-  seja, olhando para il marcação da   nas suas línguas originais, o extra-  tina" guinaram depois, respectiva-
      0 40'N,  l = 48 10'W),  mas   "linh.l" e as  bandeiras  nacionais   to do Tratado alusivo à "medição   mente para estibordo e para 00m-
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      enquanto a fragata  "'Sacadura   dos 5 p.líses  p.lrtiôp.lntes, com o   e  assinalamento da  linha  de   bomo, 5.1irxlo da formatura e inici-
      Cabral" e  a corveta  "" nfanta   seu maior número de panos, esta-  Tordesilhas",  enquanto todos os   arxlo o regresso a f\.105queiro, pafa
      Cristina" seguiram  para o rio do   vam  içadas a ré e nos topes. Com   navios lançavam para o ar balões   o desembarque dos  passageiros,
      Pará  para  embarcar 19 personali-  a formalUra  navegando a Norte   mais  pequenos e com  as  cores   enquanto os restantes  navios  da
      dades e 45  jornalistas  no porto   enfiado a uma  velocidade de  12   amarelo, verde e encarnado. O   Força  fICaVam  na  zona  até no dia
                                 nós, as CClr\'e!as  "Infan/a  EIena" e
      fluvial de NIosqueiro, nas proximi-                    ambiente era, simultaneamente,   seguinte.  No dia  27 de Julho, o
                                                                                        c:omar<Io láctko da fo<ça  foi _
      dades de Belém, os outros navios   "Baptista de Andrade", sincroniza-  de solenidade e festa, e a água do
      aguardaram a chegada da corveta   damenle,  lançaram  pela popa,   mar, em que eram visíveis 05 vestí-  mido  pelo cru da  Marinha do
      da  marinha  argentina  "Spiro'" e o   para o mar, um corante verde flu-  gios aca<;(anhac\os das águas do rio   Brasil, que desempenhava, tam-
      navio-transporte da  marinha da                                                   bém, as  funções de comandante
      Venezuela "Esequilxf.         o MERIDIANO DE  rORDESILHAS                         da fragata ·ConstituiçJo".
       Depois, já com os 7 navios reu-
      nidos,  foi estabelecida a MForma_   Nos  termos  do  Tralado de  Tordesilhas, a "linha" situava-se  a   A \IIS/L4 A SALVADOII
      tura  Tordesilhas",  criada  exclusi-  1/370  léguas a oeste de  Cabo Verde". A sua  rigorosa definição   Após  o reagruparnenlo da  Força
      vamente para o acto da marcação   era e ainda é hoje, uma questão complexa e controversa:   Naval,  iniciou-se a navegação
      simbólica da  "tinha". Os navios                                                  para  Salvador,  uma  vez que era
      navegariam para  Norte,  sobre  Na   1. A légua  tinha vários valores,  mas OS  mais comuns, usados no   neste  porto que  terminava a 0pe-
      Iinha ~ em  duas  colunas,  com os   fim do século XV, correspondiam a 16 2/3 e 17 1/2 léguas por grau;   ração Tordesilhas. Com cerca de
      navios  de "afinidade espanhola~   2. Não existia nenhum instrumento que pennitisse medir distânci-
                                  as no mar. Só no fim do século XVI, William  Boume inventa a bar-  urn  milhar de  milhas  para nave-
      na coluna a IXJeIlte e os navios de                                               gar,  os  navios  reabasteceram  a
      "afinidade  portuguesa~ na  coluna   quinha, que, aliás, não viria a ter o indispensável rigor para o efei10i   partir do AOR  "Gastão Mola"',  ini-
      a nascente, numa evocação dos   3. Assim se~, a solução era transformar as 370 léguas em dife-  ciando depois um programa seria-
      terrrM)S do T ralado, que estipulava   rença de longItude, para obter a posição do meridiano procurado.   do de cxerdcios que só termina-
      que os territórios a descobrir a W   Todavia não existia na época um método para calcular a longitude   ram com a entrada da  Força  em
      pertenceriam aos Reis de Espanha   a bordo dos navios. Mas há mais. Quando se falava de 16 2/3 e 17   Salvador.
      e os  territórios descobertos ou  a   1/1. léguas por grau, tratava~ de léguas medidas no meridiano 0lJ   Durante este  trajecto o '"Rei
      descobrir a E, eram  pertença do   no Equador. Como as 370  léguas eram percorridas no paralekJ de   Neptuno" visitou  a Força  Naval
      Rede Portugal.              Cabo Ve~e, esta distâ~cia cor:espondia a uma diferença de longi-  nos diferentes navios que ainda
       A COf\.'e!a  "Infanta  E/ena" exer-  tude  maIOr da  que sena  medKia  no  Equador.  Em  tennos actuais,   não tinham sido sujeitos ao seu
      cia a função de guia da formatura,   havia que multiplicar as 16 2/3 e 17 1/2 léguas pelo coseno da lati-  "ardente" desejo de controlar e
      tendo  a  estibordo  a  corveta   tude de Cabo  Verde. Mas  esta  redução  não seria um  preciosismo
      "Baptista de Andrade"', a uma dis-  para a época, quando em meados do século seguinte, o ilustre   julgar aqueles que ousam passar o
      tância de 60 metros,  constituindo   matemático e cosmógrafo Pedro  Nunes  afirmava que, até aos 20   Equador. Assim aconteceu nos
      os dois navios as  referências para   graus de latitude Norte 00 Sul, se deveriam considerar os graus de   navios espanhóis e portugueses,
      a "marcação d.1linha".      latitude iguais aos de longitude?                     num cerimonial que  na nossa
       Para  ré daqueles navios, a 300   4.  No  texto  do Tratado fala-se de  370 léguas a oeste de  Cabo   Marinha é uma verdadeira  institu-
      jardas, mas  deixando  entre  si a   Verde, sem se definir a partir donde a contagem será feita. Parece   ição. No dia  1 de Agosto a Força
     distância  de  200 jardas,  navega-  lógico  que  deveria .ser a partir da  ponta oeste, isto  é, da  ilha  de   Tordesilhas entrou em Salvador.
      vam a corveta  "Infanta Cristina" e   Santo Antão. TodaVIa, não era esta a opinião geral: o catalão Jaime   A estadia da Força Naval  bene-
      a fragata  "Cornandante Sacadura   Ferrer afinnava  que deveria ser cOflsiderada a "ilha  do  meio"; o   ficiou  de  uma  excelente  prepara-
      Cabral",  nas quais haviam embar-  nosso  Duarte Pacheco Pereira,  também escolhia para o efeito a   ção e de  um  bom  acolhimento
     cado as personalidades e os jorna-  ilha de Santiago.                              por parte das autoridades  navais
      listas. Depois, ainda  em  coluna   5. Mas mesmo que os negociadores de Tordesilhas chegassem a   da Marinha do Brasil corporizadas
     com a "Infanta Crislina" e às mes-  um acordo, relativamente às mencionadas imprecisões, como assi-  pelo  ZO  Distrito  Naval. O progra-
     mas distâncias, seguiam a corveta   nalar o meridiano "por sinal e limitação perpetuamente para sem-  ma  foi vasto, diversificado, nobre
     da  marinha  argentina  "5piro'" e a   pre e jamais"  como estabelecia o Tratado? Por  uma  bóia, que é   quando necessário  e aligeirado
     ré desta, o navio-transporte vene-  uma  marca efémeral A menos  que  viesse a encontrar-se,  como   quando oportuno, contribuindo
     zuelano "'fsequibo"' que, tal como   ali~ o Tratado  previa,  "uma  ilha  ou  terra  finne", facto  que  tem   para o eslreitamento de  relações
     os navios portugueses, trazia   servIdo de argumento de um pré-conhecimento do Brasil.   entre as Marinhas presentes e,
     cadetes da Escola Naval embarca-  _Como ~ pode constat.ar, a localização do meridiano de partilha   sobretudo, para dar a conhecer
     dos. A ré da fragata  "Comandante   nao  era fácil  de detenmnar, e mesmo  hoje, quando a navegação   Salvador às nossas guarnições.
     Sacadura Cabral'" e mantendo a   no  mar se faz  com  o máximo  rigor, nem mesmo assim se conse-  No dia 5 de Agosto terminou a
     coluna a 300 jardas, navegava  a   guem resolver os problemas que os nossos antepassados não COfI-  operação Tordesilhas, tendo os
     fragata  "Constituição'",  que entre-  seguiram ultrapassar.  Não quererá o leitor debruçar~ sobre este   navios portugueses  deixado a
     tanto tinha O seu helicóptero no ar   assunto?  Aproveite os elementos  que  lhe deixamos e procure,   Bahia de Todos os Santos e ruma-
     com repórteres TV.           numa noite de inverno, traçar O almejado meridiano.   do para Lisboa.        J.
     "u. e ali onde se acabarem se f.lÇ.J                                               A Revi5IiJ cid Nm.ld.l j.f ~ as tem.lS
     o {JOIJIO e sinal que COtwenha por   (út~(to th um tt"to eli//xmdo peto CMG EstSc;o do!; Reis,  que ilSSisliu " j(J   "Tratado de  TO«k:silfhls- e -OperolÇJO
                                  Ioco".t  "'m.1rarJo di/linha")                        TOtdesiIh.lS" nas SIJ,iIS ediçt'Je$ N' 262, 266
     graus  do sol ou do norte ou por
                                                                                        "68.
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