Page 19 - Revista da Armada
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A recupera,ão tI.



                       -D.                                        II e .'óri.-





           A Fragata "D.Fernando II e Glória" está desde        moso  nem  de  melhores qualidades  náuticas~; coooborando esta
                                                               afirmação. aquele  ilustre ofiCial  de Marinha  referiu  o fado de a
           Maio de 1997 no Arsenal do Alfeite para             construção da  ~o. fERNANOO~ ler seguido os  planos da  airosa e
           completar as obras de restauro, efectuar o seu       bela  fragata  -Ouquesa de  Bragança~.  navio  que os ingleses copi-
           aprestamento (mastreação, aparelho e velame)        aram quando esteve em doca seca, e !Xlr ela construíram  muitos;
                                                                mais  recentemente,  o segundo.  Comandante Marques  Esp;:!r1eiro.
           e o apetrechamento museológico do navio.            deu  razão  às  apreciações que sobre o mesmo  navio  foram  feitas
           Espera-se que em Maio deste ano seja entregue       por Celestino Soares.
           ao Museu de Marinha e preparada para figurar,            As  (araderls';,,,s principais do navio eram:
           em cais próprio, na EXPO'98, onde será um dos        Comprimento (ora.l for,l .   ..... ................   .86,75 III
           polos de atracção para os milhares de visitantes     Soca 110 convés ....................   .....................   ..12,80 m
                                                                Pontal na  tolda ..................................................................... 9.27  fll
           que virão a Lisboa, no ano em que se co,!,emora      I01crs..io ii vanle           ........................... 5.79 m
           a chegada por mar de Vasco da Gama à India.          lrner:;.'io ii ré ...................... ............................  . ....... _ ............ 6.40 m
                                                                Ahuról do centro véhco ólClma dól flutuaç30 ............ _ .... _ ...... t9,42 m
                                                                Superilde do vel,lme ......................................................... 2052,2012
           1. RESENHA HISTÓRICA DO NAVIO                        Superfície d"  secç.'iO mestra mergulhdda ......   . .................. 51,7 m2
                                                                TonelaR('m ........................   ......................   . ... 1849.16Too
                Fragata "D.  FERNANDO  II  E GLÓRIA",  o último  navio de   Fundo (00.1(10 a cobre
                guerra  exclusivamente à vela da  Marinha  Portuguesa e tam-
           A bém a última "Nau" a fazer a  chamada "carreira da  índia" -  A viagem  inaugural,  de  Goa  para  Lisboa,  leve  lugar  em  1845
           verdadeira  linha  mililar regular que, desde o sêculo XVI  e durante   com largada em  2 de Fevereiro e chegada ao Quadro dos  Navios
           mais de 3 séculos, fez a ligação entre Portugal e aquela antiga colónia   de Guerra,  no Tejo, em 4 de Julho.  Desde então, fOi  utilizado em
           - foi  o último  navio que os estaleiros do antigo Arsenal  Real  de   missões de vários tipos até Setembro de 1865, data em que substi·
           Marinha de Damão construíram para a nossa f.."\arinha.   tuiu  a Nau  Vasco  da  Gama,  como  Escola  de Artilharia,  tendo
            Sob a suj)er\·isão do Guarda-Marinha COfIstrutor Naval Gil José da   ainda, em  1878, efectuado  uma  viagem  de instrução de Guarda-
           Conceição, ioi encarregam da sua construção o mouro Yadó Semogi   Marinhas aos Açores,  que foi  a sua  última  missão  no  mar,  onde
           e nela  participaram operários portugueses e indianos.  O casco ioi   teve  a oportunidade de  salvar a tripulação da  barca americana
           construído com madeira de teca  proveniente de Nagar-Aveli e, após   MLAURENCE 80STOW que se incendiara.
           o lançamento à água, em 22 de Outubro de 1843, foi  rebocado para   Durante os 33 anos em que navegou.  percorrendo cerca de  100
           Goa  onde aparelhou  a galera.  A sua  construção  importou  em   mil  milhas, correspondentes a quase 5 voltas ao mundo, a "O.  FER-
           lOO.630milréis.                r-.."..---------------,  NANDO ~,  como  era  conhecida,
            A Fragata  recebeu  o nome de  "D.                                      provou  ser  um  navio  resistente e de
           FERNANDO 1/  E GLÓRIA",  não só em                                       grande qualidade, tendo efectuado nu-
           homenagem  a  D.  Fernando  Saxe                                         merosas  viagens  à lndia,  a Moçam·
           Coburgo  Gota,  marido  da  Rainha                                       bique e a Angola  para  levar àqueles
           O.Maria  II, mas  tambem  por  ter  sido                                 antigos territórios portugueses unidades
           entregue  ~ protecção de Nossa  Se-                                      mililares do  Exército e da  Marinha e,
           nhora  da Glória,  de especial devoção                                   até,  colonos e degredados,  estes  úhi·
           entre os goeses.                                         -rifdIiiii~     mos  normalmente acompanhados de
            O navio  ioi preparado para  receber                                    familiares.  Chegou  até  a levar emi·
           50 bocas de fogo, sendo 28  na bateria                                   grantes  politicas espanhóis  para  os
           (coberta) e 22  no convés.                                               Açores.
            A lotação do  navio  variava  con-  "/r<lpl.llunde;JC/a em Ponla DelgiIdJ.  nos Aç~. t'm A801lo ck   De entre as  missões que  lhe foram
                         ..j_~_           18; 8, no decursodd $Ud ufúrld li.JgetTIll"ldndo d bordo d$pIr.Jf!f('j
           soante a missão a ~mpenhar, indo  d.J &coId  'dl'd/                      confiadas.  destacam-se a participaç~
          do mínimo de  '45 homens na  dagem                                        como navio-cheie de uma  força  na\'aJ
           inaugural ao máximo de 379 numa viagem de representação.   na ocupação de Ambriz, em Angola. que em 1855 se revoltara por
            As  suas qualidades náuticas e de  habitabilidade foram  objecto   ms!igação da Inglaterra, e, ainda, a colaboração na colonização de
          de acalorada polémica nos meios navais portugueses da êpoca. No   Huíla em que. corno navio de guerra, teve a insôlita e curiosa mis·
          entanto.  a maioria dos  especialistas que sobre elas se  pronuncia·  sào de  transportar ovelhas,  cavalos e éguas  do  Cabo  da  Boa
          ram  com  objectividade,  evidenciaram  as  boas qualidades  mari-  Esperança  para  Moçamedes (Angola).  Colaborou,  ainda.  com  O
          nheiras, a facilidade  de  manobra  e o desafogo das  instalações,   grande sertanejo António Silva  Porto, transportando,  em  1855, os
          aspecto este de importância  numa época em que ainda se faziam   seus  13  pombeiros da  ilha de Moçambique para Benguela, depois
          viagens.  sem  escala.  de  3 meses,  com  650  pessoas  a bordo,   destes terem completado a travessia de Áírica, de Benguela à Costa
          incluindo passageiros.                               de Moçambique.  Numa das viagens que fez  da  india  para Lisboa,
            De entre esses especialistas.  destacam·se o Almirante  Joaquim   escreveu uma página de epopeia, ao sobreviver a um temporal, em
          Celestino  Soares  e o Comandante António Marques  Espaneiro.  Que  andou desarvorada,  no  Oceano  fndico. Diversas  personali-
          ilustres  historiadores  navais; o primeiro,  ainda  no  século  XIX,   dades da época  navegaram  na  ~D. FERNANDO": a ImperaTriz do
          provou que o navio  não era  inferior aos  do seu  tempo sob qual-  Brasil,  Duquesa de Bragança, a segunda  mulher de D.  Pedro  IV e
          quer aspecto.  tendo afirmado que "não há outro de vela  mais  ior-  sua  filha.  Princesa  Maria  Amélia.  enteada daquele e noiva  do  .:
                                                                                        REVISTA  DA ARMAOA  •  JANEIRO 98  17
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