Page 356 - Revista da Armada
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A natação na Marinha
A natação na Marinha
1ª Parte
screver sobre o tema em 1969 exprimia a situação da
epígrafe é, em primeira seguinte forma: “O problema
Eanálise, escrever sobre o da natação da Armada tem
papel educativo e social que a merecido especial cuidado da
Marinha tem desenvolvido parte desta Repartição, dada a
junto da população militar e gravidade que ele assume,
civil. quer pela quantidade de indi-
As actividades físico-des- víduos que continuam a não
portivas têm sido frequente- dar as garantias mínimas de
mente entendidas segundo segurança, quer pela sua
uma perspectiva redutora, repercussão no treino físico
dimensionando excessiva- do pessoal, quer ainda pela
mente uma das vertentes sob precaridade de meios que a
a qual podem ser analisadas. Armada dispõe para ministrar
As vertentes utilitária e des- o seu ensino.”
portiva, assim como a ocupa- Com efeito, segundo o
cional e a terapêutica têm um mesmo documento, apenas de educação Física e as neces- necessário criar condições
papel social importante, não 40% de praças que termi- sidades operacionais de fu- ambientais e organizacionais.
sendo aconselhado menospre- navam a instrução militar zileiros e mergulhadores entre Muitos dos que passaram pela
zar nenhuma delas. básica (ITE), revelavam falta outros, também contribuiram Escola de Fuzileiros, em Vale
Tentaremos demonstrar, nas de segurança em natação. para a necessidade da gene- de Zebro, ainda se lembram
linhas que se seguem, como a Outro documento elabora- ralização da instrução a todos das aulas na doca! Também
Marinha tem contribuído para do em 1973 é mais drástico, ao os que prestam serviço neste no Alfeite muitas aulas foram
a incorporação de conceitos dadas aos Cadetes da Escola
que favorecem a compreensão Naval e não só, na piscina
e a generalização da prática da descoberta em condições de
natação no contexto das activi- temperatura menos agra-
dades físicas. dáveis. A instrução até à cons-
Meio a sério, meio a brincar, trução de piscinas cobertas so-
houve quem afirmasse que corria-se dos meios que tinha
para ser marinheiro não era ao seu alcance e que era o
preciso “saber nadar”. reflexo dum País ainda não
Era uma afirmação jocosa desenvolvido e economica-
baseada no pressuposto da mente empenhado numa
existência de navios, embar- guerra.
cações e medidas adequadas A construção de piscinas
que garantiam a segurança afirmar que apenas 2% dos Ramo das Forças Armadas. cobertas nas Unidades em
dos que prestavam serviço na indivíduos que terminaram o Mas “Roma e Pavia não se fize- terra no Grupo Nº1 de Escolas
Marinha, mas que também período de treino básico (PTB) ram num dia” diz o ditado... da Armada em Vila Franca de
poderia funcionar como des- podiam sobreviver no mar. À medida que a necessi- Xira, na Escola de Fuzileiros
culpa face ao elevado número Mas outras razões para além dade de generalizar o ensino em Vale de de Zebro, e no
de elementos que “não sabiam da questão da segurança da natação a todos os elemen- Centro de Educação Física da
nadar”. havia que ponderar. tos que fazem serviço na Armada, poderão ser encara-
Um documento datado de A formação de monitores Armada se fazia sentir, o das como um luxo para esses
corpo de técnicos especializa- homens que tanto souberam
dos em Educação Física que dar à Armada Portuguesa
prestam serviço na Marinha, com o seu espírito de sacrifí-
quer em serviço militar obri- cio! Obviamente que a estru-
gatório, quer em regime de turação do ensino de maneira
contrato, assim como os Ofi- consequente não podia dis-
ciais especializados em Edu- pensar estas instalações, pelo
cação Física ajudaram a incul- que elas foram um passo
car uma cultura física em que importante nessa direcção.
“saber nadar” era uma com- Contudo, não bastava ter
petência que qualquer cida- instalações. Era necessário es-
dão deveria possuir. tabelecer objectivos e organi-
Face a acções concertadas e zar a instrução.
persistentes, este “saber” pas- Neste sentido, as primeiras
sou a estar em pé de igual- questões que se colocaram aos
dade com o “saber ler e escre- mentores dum programa para
ver”. Mas, para passar da combater o “analfabetismo
intenção à concretização era aquático” e que respondessem
30 NOVEMBRO 98 • REVISTA DA ARMADA