Page 186 - Revista da Armada
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Dia da Marinha
Dia da Marinha
Mensagem do Almirante CEMA
Mensagem do Almirante CEMA
memória da viagem que mudou o Mundo tem sido, desde A tão insigne embaixador-marinheiro junta-se o Senhor
há muitos anos, inspiradora das comemorações do Dia da Embaixador do Brasil, ilustre e respeitado diplomata, quão apreciado
AMarinha. Celebrou-se, durante muito tempo, na data cor- historiador, que cumprimento com muita consideração e estima pes-
respondente à largada da esquadra de Vasco da Gama de Belém. soal.
Contudo, há três anos, passámos a comemorar a conclusão da Mas a presença do Brasil neste Dia da Marinha é ainda mais rica
viagem, a chegada do grande navegador a Calecute, em 20 de Maio pela participação activa que nele tem Sua Eminência Reverendíssima
de 1498. A Marinha passava, pois, como normalmente faz, a privile- o Arcebispo Militar do Brasil, D. Geraldo do Espírito Santo Ávila, a
giar a realização do feito, em vez de cele- quem reconhecidamente agradeço ter
brar o momento das intenções, por mais aceite o meu convite para celebrar a
esperançosas que sejam as que preen- Missa no Dia da Marinha e estar entre
chem o ponto de partida dos grandes nós. Julgo ser a primeira vez que um
projectos. É que, o simbolismo dos actos bispo brasileiro veio rezar a missa deste
deve ser inspiração objectiva da capaci- dia, retribuindo a tradição iniciada por
dade concretizadora, com prioridade frei Henrique (de Coimbra), em 26 de
sobre as ideias que se subentendem. Abril de 1500, como relata Pero Vaz de
Por isso, presto homenagem aos Caminha: “Ao Domingo de Pascoela,
homens que, nos frágeis lenhos dos seus pela manhã, determinou o capitão d’ir
navios, cruzaram mares desconhecidos, ouvir missa e pregação naquele ilhéu, e
encontraram passagens entre oceanos e mandou a todos os capitães que se cor-
juntaram continentes e os seus povos. regessem nos bateis e fossem com ele; e
Vasco da Gama é, sem dúvida, a figura assim foi feito.”
mais celebrada por ter levado a bom
termo a navegação mais complexa e E assim foi feito digo eu, hoje, aqui,
desafiante para o mundo de então, a li- neste encontro com a História que a ilus-
gação por mar entre a Europa e a Índia. tre Embaixada Brasileira nos ajudou a
Mas essa viagem só aparentemente teve carregar de simbolismo, nesta vila de
Calecute como ponto de destino. Cascais.
Na verdade, o ponto de destino do Cascais que é, para este acontecimen-
Português foi o Mundo, com a sua to, a comemoração do Dia da Marinha,
vocação universalista, e “Se mais Mundo um lugar apropriado pela sua ligação ao
houvera lá chegara”. mar, com o qual tem convivido desde a
Chegou ao Brasil, quem sabe pelos sua formação e por ele viu passar todas
mares da primeira viagem de Vasco da as velas para as epopeias de além-mar.
Gama ou, oficialmente, dois anos depois, Tem sido berço de marinheiros e porto
pelos de Álvares Cabral. De qualquer e terra de abrigo para gentes da nossa
forma, foram mares que, a juntar aos de Marinha. Por isso, também aqui viemos
tantos outros navegadores, formaram o enorme oceano da língua hoje homenagear Cascais e a maritimidade que lhe é própria. À sua
portuguesa. Câmara Municipal e, em particular, ao seu Presidente, testemunho o
Oceano que foi salgado por lágrimas de povos tão distantes como reconhecido muito obrigado da Marinha por nos terem recebido e
o de Timor, mas também oceano da língua exuberante e fecunda que apoiado como o fizeram.
dá expressão concreta aos laços que unem os corações dos povos do
Brasil e de Portugal. Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Por isso, as Marinhas dos dois países têm ligações muito fraternas
e também por isso se conhecem bem. Conhecemos a Marinha do Aceitou V. Exª presidir a esta cerimónia, o que muito honra a
Brasil, apreciamo-la e respeitamo-la. Marinha que interpreta na presença do ilustre responsável político
É sempre com um grande prazer que os nossos marinheiros se pela Defesa Nacional o interesse e o apoio governativos pelas suas
encontram e colaboram e que os nossos navios navegam juntos. missões e programas. Agradeço, pois, esse estímulo, como fico reco-
Podem ser lindos veleiros como o “Cisne Branco” e a “Sagres” ou cir- nhecido pelos esforços que certamente continuará a fazer para dotar
cunspectos navios cinzentos ou pretos como as fragatas e os sub- a Marinha dos meios necessários ao exercício das tarefas que lhe
marinos, mas em todos há guarnições que são capazes de operar em estão cometidas.
conjunto e de se respeitarem com admiração. Sem pretender transformar esta alocução num relatório da activi-
É, pois, motivo de grande orgulho para a Marinha Portuguesa a dade da Marinha no último ano, considero adequado fazer referência
presença nesta cerimónia do Comandante da Marinha do Brasil, a alguns aspectos da gestão passada e aludir a questões presentes e
Almirante de Esquadra Sérgio Chagasteles que efusivamente saúdo futuras que, pela sua relevância, merecem especial atenção.
e em quem homenageio a Marinha do Brasil. Louvo-o também, Ao longo do último ano, julgo não ser imodéstia dizer que, por
Senhor Almirante, pelos esforços e acções que tem mantido para mais de uma vez, a Marinha surpreendeu o País pela forma como
aproximar ainda mais as nossas Armadas. Muito obrigado pela sua executou algumas missões. Tal surpresa só pode radicar na cons-
presença. ciência do desequilíbrio entre o reduzido investimento que nela tem
4 JUNHO 2001 • REVISTA DA ARMADA