Page 393 - Revista da Armada
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políticos – a grande maioria apresentado,  mente incorrecta – que os continua a fazer  dia. Tem que perdoar. Só assim poderá
         de forma implícita ou explícita, pouca  sofrer com tanta intensidade. Tenho pena,  fechar, acredito sinceramente, o abismo
         simpatia pelos militares - interessam os  também, de pertencer a um país que não  profundo que lhe dilacera a vida.
         sofrimentos de um grupo de homens  distingue entre o poder e os homens sim-  Fala-se agora mais nestes assuntos, do
         tristes, marcados pelo dor e pela desgraça.   ples, quase sempre joguetes inocentes...  que na época em que ouvi o Combatente,
           Eu nunca combati. Nunca estive na  E talvez eu seja indigno sequer de falar  no silêncio daquele corredor barulhento...
         Guiné. Não posso compreender, na sua  deste assunto, já que para mim “os turras”  Também houve um filme ou outro, sobre
         totalidade o sofrimento deste homem,  e a guerra de África, são apenas vozes e  esta forma tão dolorosa de sofrer...Talvez as
         nem de outros como ele...Impressionou-  notícias, dispersas, de infância. Fica aqui,  coisas melhorem finalmente.
         -me a história de um homem destroçado,  pelo menos aqui, este pequeno contributo  Eu desejo, do fundo da alma - para ele
         ainda a combater pela vida, tantos anos  para que tal injustiça seja reconhecida.  e para todos como ele - que atinjam a
         após o fim da guerra. Pareceu-me um  O Combatente, sei de fonte segura, fre-  benção do esquecimento e tenham a
         preço patriótico demasiado elevado, num  quenta há pouco tempo uma consulta de  força para criar um novo princípio...Do
         país em que cada vez mais os valores da  psicopterapia, com outros da sua geração  pouco que tenho, ofereço aquilo que
         nação se vergam ao dinheiro, ao voto  que também perderam a juventude na  mais me custou a conquistar e mais prezo
         fácil, à falsidade e à negociata barata.  guerra. Nunca recuperará a família, o  na vida: ofereço-lhes o meu respeito...
           Sei, que quando penso no Combatente,  emprego, mas talvez recupere o respeito  Bem hajam pelo sacrifício!!
         e na história da sua vida, tenho pena,  dos filhos – um objectivo meritório.
         muita pena de toda uma geração apanhada  Tem que deixar morrer os sons da
         numa guerra – agora considerada politica-  batalha dentro de si e aceitar que há outro             Doc.

                                               BIBLIOGRAFIA


          Os Últimos Navios do Império                                      Agenda 2002



                                     Telmo Gomes e as Edições  O Comandante Está-
                                   INAPA têm-nos habituado a  cio dos Reis, que em
                                   umas edições bastante interes-  boa hora descobriu um
                                   santes sobre navios, de tal modo  editor à altura das
                                   que a Revista da Armada seleccio-  obras de qualidade
                                   nou, nos números 318 a 330, para  gráfica que produz, e
                                   publicação nos versos das suas  os CTT Correios, que
                                   capas, uma boa dúzia de exem-  em boa hora descobri-
                                   plares que relembram sem qual-  ram um autor capaz de
                                   quer critério de sucessão histórica  responder bem às soli-
                                   ou outra escolha especial, o livro  citações de requinte
                                   agora referido. Em boa verdade,  gráfico que, acima de
                                   pode realmente dizer-se que uma  tudo, pretendem im-
                                   escolha, neste caso, não apresen-  primir nas suas pro-
                                   taria um objectivo específico.  duções, mais uma vez
                                   Foram publicadas as que foram,  juntaram vontades e esforços na impressão de uma Agenda para
         como podiam ter sido outras. Sobre o livro em si diz Vasco de Melo nas  o ano de 2002, que acabou por aparecer à luz do dia verdadeira-
         palavras de prefácio que a edição é “ilustrada com 46 preciosas  mente a extravasar funções de calendário, e de botar apontamen-
         gravuras acompanhadas de resenhas literárias, onde estão narrados  tos “pró memória”, que é para o que serve uma agenda a qual-
         episódios das memórias desses navios que serviram uma pátria”.  quer ser mortal que se preze.
           Deve dizer-se que Telmo Gomes não é (não quer ser) um historia-  É que, se o tal livrinho (ou livrão) tiver conteúdo de interesse
         dor. Desenha os navios que copia (não tem a preocupação do rigor  histórico , ou científico, ou os dois, ainda por cima com beleza
         no pormenor da construção naval, da mareação, mas tão só na estéti-  de arranjo gráfico cativante para quem o abra e folheie, já dá o
         ca e beleza da cópia). Com o deslumbramento de ter visto o mar pela  salto muito para além das funções que seriam de se lhe exigir,
         primeira vez, em Lisboa, aos seis anos, vindo das margens do Pavia, o  resultantes do nome, para se tornar coisa de luxo, de que o dono
         rio de Viseu, onde começou por fazer barcos de corcódea, deixou-se  se envaidece. De cuja posse, pelo menos, sente orgulho.
         encantar, e não mais parou: foi uma vida a seu modo dedicada ao  Tal o caso desta Agenda 2002, que os CTT acabam de editar,
         mar, mais rigorosamente, aos navios. Para além de pintura, ou do  e o autor, com a gentileza que se lhe conhece, como timbre pes-
         desenho aguarelado, dedicou-se também ao modelismo naval, de  soal, fez chegar à Revista da Armada na pessoa do seu Director.
         que fez já inúmeros modelos. Consoante afirmação sua na nota  Claro que a Revista agradece reconhecida. É realmente obra di-
         biográfica do livro a que nos reportamos, de que respigamos alguns  gna de se usar e de se oferecer: boa encadernação, boas fotogra-
         destes apontamentos: “É considerado um dos melhores modelistas  fias, um intróito feliz sobre as andanças e desandanças do sis-
         navais contemporâneo, e o melhor artista português de temas rela-  tema métrico, de que o autor faz longa e exaustiva história,
         cionados com o mar e os navios”. Acompanhando cada gravura do  nesta data em que se comemoram os 150 anos de introdução
         livro é apresentado um texto que parece ter sido recolhido de um dos  em Portugal: medirmos tudo com as mesmas unidades, não
         autores que Telmo Gomes apresenta em nota final como “principais  esquecendo que, sendo “agenda” não falha aquela secção final
         fontes de consulta” talvez com uma certa mistura do entusiasmo do  do: dono, nome, telefone, etc., etc., Está obra completa, bela e
         autor. Mas, sem um pouco de fantasia, não seria mais triste e mais  útil.
         monótona a vida?
           A R. A. agradece reconhecida a oferta deste bonito livro que passa                          S. Machado
         a guarnecer a sua biblioteca.                                                                   CMG REF
                                                                                    REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2001  31
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