Page 73 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
24.O Atlas de Ortélius e o Mais Antigo Mapa de Portugal
Dispõe a Biblioteca Central de Marinha de um exemplar, em muito bom estado, do primeiro Atlas
Geográfico – o Theatrum Orbis Terrarum, editado pela primeira vez em 1570, em Antuérpia, por
Abraham Ortélius.
A edição de 1570, em latim, continha setenta cartas das quais cinquenta e seis representam a Europa
e Portugal apresentava-se na posição número oito.
Deste Atlas foram feitas quarenta e uma edições, vinte e uma em latim, duas em holandês, cinco em
alemão, seis em francês, quatro em espanhol e uma em inglês, sendo a última de 1612.
À medida que as edições iam avançando, mais mapas iam sendo acrescentados, verificando-se que
na edição do exemplar que a Biblioteca de Marinha dispõe, de 1584, em latim, Portugal encontra-se na
posição dezasseis.
No anterrosto todos os mapas têm um texto descritivo do respectivo país, que no caso de Portugal
tem o seguinte título – PORTUGALLIA REGNUN.
O mapa de Portugal que figura em todas estas edições é o famoso mapa de Fernando Álvares Seco,
de 1560, e que foi o primeiro mapa de Portugal a ser impresso em Portugal. Este mapa além de ser o
mais antigo de Portugal, representa o primeiro levantamento em grande escala, apoiado em métodos
matemáticos, talvez mesmo trigonométricos, que se conhece em todo o território de um estado. Pode-
-se dizer que pelo menos com quatro anos de antecedência em relação a qualquer país, os cartógrafos
portugueses fizeram um levantamento de grande escala do todo o seu território.
Aquiles Estaço, professor na Universidade de Sapiência em Roma encomendou no início da segun-
da metade do século XVI ao seu compatriota Álvares Seco uma carta de Portugal com a intenção de a
dedicar ao Cardeal Guido Sforza, protector do Reino das Quinas. Satisfeita pelo cartógrafo a pretensão
do humanista, a carta é apresentada e oferecida ao Cardeal italiano em 1566 em Roma acabando por
entrar no domínio público em 20 de Maio de 1560.
Uma das características que este mapa apresenta é a sua posição horizontal, foi desenhado na
escala 1:1.500.000, numa projecção cilíndrica, tem as dimensões 57,5x34 cm., sendo de assinalar tam-
bém a riqueza de nomes nas áreas da actual Estremadura e Trás-os-Montes e ainda a significativa repre-
sentação hidrográfica. Ornamentam a carta dois escudetes com inscrições, em que o superior apresenta
a seguinte inscrição – PORTUGALLIAE // que olim Lusitania, novissima // & exactissima descriptio,
Auc= // Vernando Álvaro Secco. //, uma nau no Oceano Atlântico, uma barca a Sul junto à Andaluzia e
ainda um grande peixe.
A carta é limitada a leste por uma escala de latitudes com o desenvolvimento de 5° de 38° a 43°. A
escala de latitudes arrasta dois erros. O primeiro ao indicar 40° para latitude Lisboa, quando naquela
data já diversos autores (João de Lisboa, D. João de Castro, Padre Carvalho Costa entre outros) afir-
mavam que devia ser 38° /3. O segundo erro quando coloca o valor de 43° /2 entre os 42° e 43°. A
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natureza destes erros indicia que não devem ser assacados ao seu autor mas sim a gravação não revista.
Por todos estes motivos o Atlas – Theatrum Orbis Terrarum merece uma visita à Biblioteca Central de
Marinha para se apreciar não só o primeiro mapa de Portugal mas também as restantes magníficas car-
tas impressas no fim do século XVI.
- The Story of Maps – Lloyd A. Brown
Little, Brown and Company. Boston. 1949
- O Mais Antigo Mapa de Portugal. Alves Ferreira, Custódio de Morais,
Joaquim da Silveira e Amorim Girão.
Instituto de Alta Cultura. Coimbra. 1957
Biblioteca Central de Marinha
(Texto do CALM EMQ Luís A. Roque Martins)