Page 114 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO-DIA




                        Honra, Orgulho



                                  e Desgosto






                ste é, seguramente, o último “ponto ao meio dia” são da grande equipa que serve Portugal na Marinha, à
                da minha carreira naval. E, talvez por isso, não o sua generosidade e à elevada competência profissional
          Ecompletarei. Limitar-me-ei a dar conta da “recta que não cessou de subir.
          da manhã” e a observar a rota até à “meridiana”. Desta, a  Por isso, por tudo isso, sinto uma grande honra e um
          altura será medida pelos que continuarem bolinando na inexcedível orgulho em ter, por 44 anos, pertencido, acti-
          Caravela da Marinha em procura de rumo e mareação vamente, a tão insigne Marinha.
          novos. É que, por certo, o vento continuará contrário.  Dispor de homens e mulheres e de meios prontos para
            Numa manhã, há cinco anos, quando assumi funções, a qualquer das missões que o País institucionalmente nos
          análise da situação a que procedi não me deixou dúvidas confia foi o desafio que assumimos e que vencemos. No
          sobre o caminho a percorrer. Nas directivas de política dia a dia, executámos tarefas de paz no nosso território e,
          naval que promulguei, nas cartas que escrevi à Marinha, no exterior, desempenhamos missões de qualquer tipo
          assim como através de outros processos de comunicação quando para isso fomos ordenados.
          ficaram claros, penso, os objectivos a atingir. Sintetizei-os,  Aparticipação regular em forças navais aliadas, como a
          nessa altura, em cinco pontos respeitantes à renovação da EUROMARFOR  ou a STANAVFORLANT, cujos coman-
          esquadra, ao orçamento, ao pessoal, à administração dos dos também assumimos a par dos mais cotados, bem
          recursos e ao Sistema de Autoridade Marítima. Viria a como as acções dos navios em várias partes do mundo,
          mantê-los, com constância e sempre em mente.        por vezes iniciadas com escasso tempo de preparação,
            Hoje, considero que quase tudo, ou mesmo tudo, o que comprovam o alcançar dos objectivos a que todos nos
          era exequível com os meios postos à disposição da propusemos.
          Marinha foi feito. É que a vontade de bem fazer foi  O pessoal dos navios, helicópteros, fuzileiros, mergu-
          mesmo o único recurso não escassamente obtido.      lhadores, técnicos, cientistas, autoridades marítimas,
            A formação do nosso universo humano evoluiu muito académicos e homens de cultura, todos desempenharam
          favoravelmente, assim como progrediu a qualidade, a missões com disciplina e competência, vocação marítima
          preparação e a organização das guarnições das nossas e humanismo, visão universalista e portuguesismo
          unidades de mergulhadores, de fuzileiros e navais, incluin- acrisolado, num território quase tão vasto como o dos
          do os helicópteros. As avaliações produzidas por insus- Portugueses errantes do passado. Estivemos em
          peitos comandos NATO e por organismos especializados Moçambique, no Zaire, na Guiné, nos Balcãs, em Macau,
          de marinhas aliadas, de maior dimensão, constituem um em Timor, em Entre-os-Rios, nos vales do Tejo e do
          valioso reforço das valorações feitas em sede nacional.  Mondego, no Mediterrâneo, no Adriático, no Atlântico,
            Também não tenho dúvidas de que o material, onde a no Pacífico, etc. Estivemos no mar de outros e também e
          fazenda  naval o permitiu, teve aprontamento adequado sempre no Mar Português. Estivemos e estamos, sempre
          às necessidades. A disponibilidade das 3 fragatas “Vasco juntos e unidos no espírito de que o importante é
          da Gama”, em simultâneo, para fazer face à missão de cumprir a missão. É servir Portugal com honra e orgulho.
          comando da STANAVFORLANT, durante um ano, é          Honra e orgulho são, neste momento, os sentimentos
          disso exemplo.                                      nobres que partilho com os marinheiros (militares, milita-
            A segurança no mar e o exercício da autoridade do rizados ou civis) da Marinha.
          Estado, através do Sistema de Autoridade Marítima, a  Há, no entanto, outro sentimento que, por amor à ver-
          investigação e o desenvolvimento das técnicas e das ciên- dade que sempre usei, tenho de partilhar também con-
          cias do mar no Instituto Hidrográfico e nos navios disponi- vosco. E esse é o de desgosto por não ter alcançado os
          bilizados, bem como a actividade cultural levada a cabo objectivos que só o poder político podia ter tornado exe-
          pelos Museu, Academia de Marinha, Biblioteca, Planetário, quíveis.
          Aquário, Banda, Revista da Armada, etc., constituíram con-  Saio desgostoso porque, apesar de termos planeado, por
          tributos muito significativos para a imagem da Marinha iniciativa da Marinha, uma componente naval do Sistema
          Portuguesa e para a vida cultural da nossa sociedade.   de Forças Nacional mais reduzida, com a aprovação nas
            Sublinho, no entanto, e com traço bem forte, que a sedes próprias do Estado, tardam os passos essenciais à
          qualidade do nosso trabalho se deveu ao espírito de mis- sua edificação. As dilações, as indefinições e as indecisões


         4 ABRIL 2002 • REVISTA DA ARMADA
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