Page 141 - Revista da Armada
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Nessa longa noite, tudo lhe parecia mau.  E estas palavras, como outras, de muitos,  lares e usada, com fervor, contra tentações e
         Ao olhar para trás só via e sentia sofrimento,  certamente melhores que eu, mais não são  maledicências dos homens...
         numa espiral de vazio e tristeza, pela  que a voz desse outro viver, diferente, ao  Era já madrugada alta quando regressei
         existência a que chamava viver...   mesmo tempo cheio e solitário. Rabiscos  ao beliche. Não consegui dormir. Devia ser
           A principio não consegui dizer nada.  mal amanhados de um sentir, que talvez  do forte balanço que se sentia, ou das
         Houve um silêncio longo, naquela enfer-  não interesse a outros. Ao contrário, eu  emoções à solta, rondando um Perdigão de
         maria, entrecortado apenas pelo incremento  encontro neles um sentido para o que não  penas perdidas...Parece-me agora, na bruma
         de rotações na máquina e confundido pelo  tem sentido, uma dignidade para o maior  do tempo, que estava frio. Um frio cortante,
         barulho, ensurdecedor, do ventilador.  aviltamento, uma razão para continuar, e,  arrastado por recordações passadas...
         Lembrei-me, eu também, do que tinha sido  de todas as coisas da vida - aqui confesso -  Não sei se o Perdigão percebeu tudo o
         a minha vida até então. Muitas vezes, afir-  só me cansam, só me assustam, a falsidade  que eu tentei dizer-lhe, sei apenas que após
         mo-o sem pudor, senti a vida vazia, triste e  e a indelicadeza dos homens...   o processo disciplinar e tratamento a que se
         sem sentido.                         Expliquei ao Perdigão, que compreendia  sujeitou, o Perdigão passou por mim algu-
           Há muito tempo, numa das muitas noites  bem tudo quanto me dizia. Afirmei-lhe que  mas vezes, nos corredores do Hospital
         em que não dormi, olhei um precipício  não tinha dúvidas de que era um bom  dizendo:
         fundo, que dá para um rio, na terra onde  homem. Disse-lhe, com quanta convicção  - A espada Doutor, lembra-se da espada?
         nasci. Estava uma noite escura e não se ouvia  quanto me foi possível, que nada estava  A minha ainda brilha!
         vivalma. Então, horas a fio, encontrei-me  perdido, que todos os dias são bons para  Quem o ouvia, ficava estupefacto. Que
         com os meus pensamentos...Nesse caminho  um princípio. Falei-lhe desse outro mundo  raio de coisa aquela a espada?
         medonho, devo ter visto a morte (que parecia  para além deste, saturado de sangue e lágri-  Há muito que não o vejo. Disseram-me
         bela nessa noite)...Senti-lhe o afago frio, no  mas, onde cada um pode construir o que o  que passou à vida civil, quando acabou o
         horizonte distante. Nesse momento, não sei  coração lhe pede, onde mesmo a morte e a  contrato. Não sei como está a sua vida de
         se foi do sabor da água salgada que me per-  dor atroz sucumbem, à força de sentimen-  Perdigão, mas espero que não tenha encon-
         corria a face, ou da brisa ao amanhecer, que  tos mais fortes, que estão, tenho a certeza,  trado novas penas...A mim restar-me-ão
         sussurrava verdades esquecidas em desertos  em todos os homens perdidos, como ele  sempre estas palavras, soltas, que o leitor
         longínquos, tive a certeza que, para alguns, o  estava.               paciente fará o favor de suportar. Aquece-
         caminho é diferente...mas que era preciso  Disse-lhe, ainda, que há dignidade no  -me, contudo, nesta outra noite, o conforto
         vivê-lo, nessa diferença...        sofrimento que ele partilhara. Seria essa di-  de pensar que qualquer outro Perdigão, per-
           Desde esse dia, considero que se pode  gnidade que ele deveria usar para resistir à  dido, as possa ler e agarrar, ele também, a
         perder tudo e continuar a viver, desde que  droga, pois aquilo que não se enfrenta  sua própria vida...
         se vença o medo. Só assim encontro  regressa, como sabe o leitor, mais forte que  Veleidades de um homem simples e
         palavras para cumprimentar aqueles que  nunca.                        ingénuo - dirá o leitor avisado. Certamente,
         vou encontrando em encruzilhadas de  A seu tempo, a dignidade do sofrimento  sonhos de um outro mundo, respondo eu
         sofrimento, nos corredores dos hospitais,  superado, seria o que o prenderia à vida e  daqui, com um sorriso...
         nos leitos frios das enfermarias, na solidão  ao trabalho. Essa dignidade deve ser usada
         da dor...                          como uma espada, polida a tempos regu-                          Doc.


                                                  CONVÍVIOS


                  DF3 MOÇAMBIQUE 72/74                             “FILHOS DA ESCOLA” DE 1949


           Vai realizar-se no dia 11 de Maio o respectivo almoço  Para comemorar os 53 anos, de incorporação na Armada, os
         “Família Fuzos” do Destacamento de Fuzileiros Nº 3, que per-  “Filhos da Escola” de 1949 vão realizar no próximo dia 25 de
         maneceu em Moçambique na sua comissão entre 1972 e 1974.  Maio, um convívio no restaurante “A Valenciana”, na Rua
                                                              Marquês da Fronteira, 157 Lisboa.
           Os interessados em estar presentes deverão contactar:
           •SAJ FZ Reis, (Ext. 1338) ou TM. 914019762          As inscrições deverão ser feitas para:
           •SAJ FZ Lebre, (Ext. 652-517037) ou TM. 933529094   •Adelino – Telf. 213638811/219612614
           •Ex-MAR FZ Soares. TM. 966465027                    •Vilela – Telf. 212749272/212960853.



          “FILHOS DA ESCOLA” DE MARÇO 1963                               “FILHOS DA ESCOLA”
                                                                          DE SETEMBRO 1962
           Vai realizar-se no próximo dia 25 de Maio na Quinta de S.ta
         Teresinha, na Sertã, um almoço de confraternização do 39º aniver-  Os “Filhos da Escola” de Setembro de 1962 comemoram o
         sário do referido recrutamento. As inscrições devem ser dirigidas a:  seu 40º aniversário de sua incorporação na Armada.
           •António do Rosário Rodrigues, CFR SEB RES          Informam-se todos os interessados que se realiza no próximo
           Rua Cesário Verde, nº 1 – Vale de Milhaços, 2855-423 Corroios  dia 21 de Setembro um almoço-convívio na Base Naval do
           Para outros contactos:                             Alfeite.
           •CFR SEB RES Rodrigues – Telef. 21 2541205, Tm. 965758536
           •CFR SE Carvalho – Telef. 21 3945419 (ext. 6319), 21 2245048  Os interessados poderão contactar com:
           •1TEN OT RES Pegacho – Telef.21 2961153, Tm. 934254392  •Arnaldo B. Duarte
           •SMOR SE RES António – Telef. 21 2250238, Tm. 967541011  Telef. 219660594, Tm. 965758340
           Para efeitos de transporte:                         • António J. Rodrigues
           •SAJ U REF Santos – Telef. 21 2593099, Tm. 962442474.  Telef. 226174916, Tm. 967602893.
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2002  31
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