Page 285 - Revista da Armada
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“bicos de pés”, que estou a preparar a viverem e se eu alguma vez conseguir edi- é que algumas palavras vivem sempre e no
minha carreira. Não interessa Zé, sei que tar aquelas encarquilhadas páginas, que tu final só nos restaram essas palavras e o que
partilhei, honestamente, coisas da alma, conhecias, talvez não morra nunca... demais partilhámos, genuinamente e sem
que, de facto serão estranhas para muitos e Aos teus pais, a quem a saudade custa máscaras, com os outros.
é verdade que não são lá muito lucrati- mais, digo daqui que estás vivo. Estás vivo Estas são as minhas histórias. As histórias
vas... nos nossos corações, nos quais gravaste, de um vazio por preencher, de um mundo
E sabes Zé, quando penso que já docilmente, marcas eternas. Ficas um mito, estranho, de cores próprias, sem tempo,
partiste, aflige-me uma grande incom- como todos os seres humanos de valor, nem história. A vida de um homem à
preensão, porque conheço muitos seres que morrem aos 30 anos de idade. Vais procura de si próprio no coração de ou-
disfarçados de humanos, mas infelizmente escapar às dores, às artroses, e às outras tros...Haverá sempre histórias sobre mari-
embebidos de poder, de dinheiro, de maleitas da velhice... E continuarás sempre nheiros velhos e novos, sobre coisas, sobre
egoísmo e esses vivem para nos prender a a fazer-nos falta... lugares – reais e imaginários – sobre
alma, com a sua soberba, a sua ignorância E aos marinheiros que achem estranha ansiedades e medos, enfim sobre a
e a sua insensibilidade...Só há pouco ou descabida esta história, recordo que a saudade...
tempo percebi que, a esses, vão-lhes cor- única coisa que temos de eterno, que fica E neste delírio de grandeza, em que pre-
roer o dinheiro ao mesmo tempo que aos para além desta curta vida, são as marcas, sentemente me encontro, acredito, tal
ossos. limpas, da amizade que por cá deixamos... como o amigo árabe do herói, no final do
Um dia talvez o mundo finalmente Se as pessoas quiserem saber quem sou, recente filme do Robin dos Bosques, que
mude, Zé. Talvez os fortes deixem de basta que saibam que tive um pequeno também eu acabei por matar a bruxa e
oprimir os fracos, talvez todos possam viver grande amigo, que como eu ficava silen- cumprir o voto de gratidão que tenho para
em paz. Até lá, Zé, contigo aprendi, restam- cioso ao pôr do sol, gostava de passear nas contigo. - Matei a bruxa do meu anonima-
-nos pessoas que ousaram ser diferentes, ruas escusas de Lisboa, a horas impróprias to e deixei-te livre para sempre, para
como tu, que venceste o mundo com uma para pessoas de bem...Gostava também de seguires o teu caminho. Boas viagens
dose maciça de amizade, humor e cora- ler poemas e riam-se dele por parecer um amigo!!!
gem. Na verdade, a tua memória está viva. Zé Ninguém. Ainda se riem de mim, às
Viverá enquanto todos os teus amigos vezes...mas pouco interessa, o importante Doc.
A Marinha presta assistência a um iate no Mar Alto
A Marinha presta assistência a um iate no Mar Alto
o passado dia 24 de Junho uma tripulação
conjunta alemã/brasileira, membro do “TO-
N-TRANS-OCEAN” fazendo a travessia transa-
tlântica dos Açores para Lagos no veleiro S/Y “Afrodita”
do tipo “52’ Ketch”, ficou à deriva com máquina e ge-
radores avariados. Durante mais de 48 horas suportou
más condições de mar, com ventos de 35/40 nós, mar
cavado e com previsão de agravamento do tempo
para as horas seguintes.
Após contacto rádio com a Polícia Marítima de Faro,
o iate que se encontrava a 90 milhas a SW do Cabo de
S. Vicente, foi assistido pelo NRP “Afonso Cerqueira”
que se encontrava em serviço SAR. Um grupo de técni-
cos daquele navio foi transferido cerca das 01.30 horas
para bordo do iate, apesar das más condições locais, e
após mais de 3.30 horas de trabalho, foi possível pôr a
máquina em funcionamento e reabastecer de gasóleo,
permitindo que o iate recomeçasse a navegar.
A corveta portuguesa manteve-se nas proximida-
des do iate até se aproximar da costa portuguesa. O
NRP “Sagitário” que rendeu a corveta, navegou em companhia pela Marinha Portuguesa, a tripulação do S/Y “Afrodita” deu conhe-
da embarcação até ao porto de Lagos. cimento do feito à Comunidade Internacional de Iates.
Como forma de reconhecimento pelo importante apoio prestado
CIÊNCIA VIVA NAS FÉRIAS COM OS FARÓIS
A Direcção de Faróis e a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica,
levam a cabo todas as sextas-feiras e sábados entre 2 de Agosto e 14 de Setembro, a iniciativa
“Ciência Viva nas Férias com os Faróis”.
Esta iniciativa realiza-se ao final da tarde, nos principais faróis da costa do Continente, e consta da
apresentação, por um oficial da D.F., da história e serviço dos faróis, sua utilidade, forma de utilização
pelos navegantes, explicação da óptica e luminotécnica aplicadas, e de uma visita guiada ao farol.
Para finalizar, os visitantes assistirão ao acender do mesmo.
REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2002 31