Page 30 - Revista da Armada
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CLUBE MILITAR NAVAL
MISSÃO EM CASTELO DE PAIVA
A tragédia que chocou o país na noite de 4 marina, para aquele rio escuro, espesso, e quecida nunca por quem a sentiu na perda
de Março findo, em que um autocarro cheio rugidor de fúria da corrente. O comandante de entes queridos, nem durante muito tempo
de passageiros regressados a casa, de um cumpriu, como normalmente cumprem os por quem a viveu emocionado. Oxalá não
descontraído passeio às amendoeiras em flor, militares, em situações de risco, de prontidão seja esquecida também por quem tem o
se precipitou no rio Douro por ter caído um e de emergência. dever de lhe dar seguimento adequado: o de
pilar da ponte de Entre-os-rios, e com ele, Não vamos, aqui e agora, referir os porme- evitar repetições. Porque aconteceu por falha
dois troços do tabuleiro onde o veículo ia nores da operação. O que temos de fazer é humana, de vários humanos. Que cada um
passar, arrastando para o trabalho muito mais sim- se julgue, porque não estamos aqui para jul-
fundo todos os passageiros ples, o de trazer a conheci- gar ninguém.
e condutor, serviu de mo- mento por intermédio da Diz António Barreto no Prefácio: “Esta nar-
tivo a que um camarada da Revista da Armada o apa- rativa mostra, de modo digno e contido, as
Marinha, o comandante recimento de um livro que dificuldades criadas pelos mitos da
Augusto Ezequiel, viesse a trata com controlado desen- “transparência”, da “abertura” e da “informa-
escrever a sua vivência volvimento o que foram os ção em directo”[...] “ Estou convencido de que
como chefe da equipa de dias terríveis da operação, este pequeno livro vai durar anos e anos. Vai
salvamento, amarga expe- que, sem sucesso final do ser lido e estudado nas escolas, nas redacções
riência que, no dizer do agrado de todos, foi o que e nas instituições”. “[...] “Assim, não teremos
próprio, “o deixou um podia ter sido feito. um livro de escândalos e revelações, tão ao
bocado mais Homem”. O livro não aparece ape- gosto das modas em vigor, mas sim um relato
Palavras simples, espon- nas escrito pelo coman- racional e contido de grande valor”.[...] “De
tâneas, que deveriam ser dante Augusto Ezequiel ; excepcional valor é a prova aqui feita de que é
lidas e pensadas, (se é que juntou-se-lhe um jornalista, possível ser-se, ao mesmo tempo, decente e
pensamento ainda existe por “sugestão” involun- eficaz. Rigoroso e sensível. Aqueles mari-
em privilegiados cérebro- tária do comandante, que nheiros cumpriram o seu dever de modo
zinhos mangas de alpaca ele próprio, homem da excepcional, mas souberam acatar todas as
de qualificados anti-milita- Comunicação Social, evoca, regras essenciais da vida em democracia.”
ristas), para sua melhor conformação. Foram no seu intróito, desta maneira: “Muito ficou E nós achamos que com tão sábias pala-
para o fundo mais dois veículos ligeiros, com por contar. Pouco tempo antes de regressar a vras não precisamos acrescentar mais nada.
o fatal destino do autocarro. Lisboa, o Comandante deixou escapar um Não deixe de ler MISSÃO EM CASTELO DE
O comandante Augusto Mourão Ezequiel, desabafo: “Uma experiência tão intensa até PAIVA, livro lançado em cerimónia que
foi naturalmente designado, como Director dava um livro”. E remata o jornalista: Ele ocorreu no nosso Clube Militar Naval, lugar
Técnico do Instituto Hidrográfico da Mari- aqui está. próprio para obra de um oficial da Armada.
nha, organismo naturalmente vocacionado Dizemos nós agora: está e vale a pena ler. Agradecemos o exemplar oferecido, que fica
para tratar trabalho similar em detecção sub- A tragédia foi grande, enorme, e não será es- a enriquecer a nossa Biblioteca.
EXPOSIÇÃO DE HERLANDER ZAMBUJO
Falar de Herlander Zambujo como pintor, Então, que dizer? Ver esta exposição de Her-
face a uma exposição sua, é acto que me faz Ao camarada lander Zambujo é, porém, sair
sentir a um tempo temerário e temeroso, Zambujo apetece com a tal sensação de não saber o
coisas que se podem considerar no mínimo pintar de forma que há-de vir depois a ser escrito.
antagónicas. Porquê? Herlander Zambujo é semelhante aos São trinta e oito trabalhos quase
um pintor. É. Dos quatro costados. Já pinta fauvistas? Porque todos iguais neste sentido: nem
há um ror de tempo, tem tido o que pode não? Quem é que diferem nada entre si, quanto a
considerar-se uma carreira de sucesso pelo tem a ver com técnica, nem diferem nada quanto
que vende; resultado, para escrever sobre ele, isso? Não faz mui- ao que o autor já tem vindo a
era só dizer bem. Reparando em comentários to empenho em fazer. É uma verdade. Mas não
anteriores a respeito de outras exposições que desenhar o que vê. deixa de ser pintura o que ali está:
já fez, é o que se verifica. Mas eu sinto que Perspectivas, pla- a prova são as oito ou nove ven-
trairia a amizade que sinto por este camarada nos, composição, das que já fez. O resto podem ser
se me deixasse levar na mesma onda. Dizer cores, espaços, li- teorias.
mal? Também não. Quem sou eu? Se até me nhas de força, para quê? Lança as tintas na E o reconhecimento de Zambujo como
perece ele representar o ressurgimento de superfície que tem em frente sem grandes pintor da Marinha não pode já ser posto
uma Escola que deu os seus passos há mais preocupações de rigor quanto à mãe em causa. Se tem dúvidas vá até ao salão
ou menos uma centena de anos, a escola dos natureza, quanto a obter (e transmitir) de cima do Clube Militar Naval. Não vai
”Fauvistas”, porque havia eu de voltar ao impressão de profundidade, de atmosfera, perder tempo, e distrai-se. Até pode
que então disseram deles? Não se subenten- de distância, de perspectiva da cor, tudo, depois vir a escrever um artigo com muito
da que foi mal. Chamaram-lhes “fauvistas” bem visto, sem interessar aqui se o faz com mais mérito que este.
porque a sua maneira de pintar lembrava pincel, com espátula, com os dedos; de resto
feras desesperadas, enfurecidas, de tal modo não há regra nenhuma que imponha seja o S. Machado
tratavam as cores, as tintas, o espaço, a tela. que for, a tal respeito. CMG
28 JANEIRO 2002 • REVISTA DA ARMADA