Page 33 - Revista da Armada
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naqueles instantes – em que toda a   Na guerra que é todo o viver, poucas  que a achou estranha, mas juntará esta a
         destruição à nossa volta, irracional e sem  vezes tive forças para sorrir ao sofrimento.  todas as coisas estranhas de que outrora
         sentido, era vencida por uma sensação de  Quase sempre cedi ao medo e à raiva,  lhe falei...
         paz e racionalidade infinitas.     que é pior que o medo, porque egoistica-  Percebi, nesse dia, que tinha uma dívi-
           Algo, então ali, se passou em mim e  mente nos rouba a paz por dentro...É que  da para com estes homens de guerra. A
         certamente noutros. Por breves instantes,  poucas vezes tive a coragem de aceitar  obrigação de contar aqui tais feitos herói-
         as emoções que senti não foram tristeza  imediatamente e sem reservas o que não  cos, desusados num tempo em que cari-
         ou solidão...foram como o calor da lareira  pode ser mudado...        dade se confunde com fraqueza e co-
         da minha avó, quente e doce, o sentir  Ocorreu-me escrever sobre tão cora-  ragem, por sua vez, é confundida com
         infinito das planícies do Alentejo, o cantar  josos militares, quando um amigo de  crueldade. Faltava-me, principalmente,
         dos pássaros ao raiar do sol, no pinhal, e  faculdade, que há muito tempo já não  agradecer a amizade com que me hon-
         todos os pequenos nadas que, ao longo  via, me perguntava com mágoa:  raram e cujo calor me aquece em dias
         do tempo, mitigaram o vazio com que   – Então vais para o Afeganistão? –  frios, quando os homens me parecem
         muitas vezes sinto a vida...       Transparecia na pergunta um sentimento  maus e alheios aos outros.
           Foi assim que me ocorreu que tal  de real pena pelos que tivessem que ir.   No final sempre digo, à maneira dos
         homem e os seus companheiros eram par-  Respondi-lhe que não sabia, mas que  grandes épicos, que daqui a muitos anos,
         ticularmente perigosos. Certamente mais  conhecia homens corajosos, capazes de  quando se falar dessa missão, também eu
         temíveis que os melhores dos melhores  ir. Que eram poucos, pois a guerra é  vou sorrir, com orgulho, gritando:
         guerreiros, porque esta capacidade de  medonha e só homens, capazes de “sorrir  -Eu também estive lá, com eles!
         sorrir ao mais intenso dos sofrimentos, de  primeiro e fazer perguntas depois” teriam
         sorrir ao medo, de sorrir ao irracional é,  coragem de ir...Não percebeu a resposta
         estou seguro, uma arma letal.      este meu amigo médico. Penso mesmo                               Doc


                                   EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA




                 Faróis da Costa de Portugal





             residida pelo Almirante Vieira Matias,
             Chefe do Estado-Maior da Armada,
         P teve lugar na Sala dos Arcos da
         Sociedade Histórica da Independência de
         Portugal, sediada no Palácio da Indepen-
         dência, em Lisboa, pelas 17 horas do dia 8
         de Novembro, a inauguração de uma
         exposição intitulada FARÓIS DA COSTA
         DE PORTUGAL, constituída por cento e

















                                            Farol de S Marta.
                                                  ta.
                                            onze fotos de faróis da colecção que o Co-  A mostra, que se pensa esteja patente até
                                            mandante José Ferreira dos Santos, promo-  Janeiro de 2002, apresenta oitenta e sete
                                            tor e organizador da exposição, tem vindo  fotos de faróis do Continente, dezoito do
                                            a recolher ao longo dos anos. Uma dezena  arquipélago dos Açores e seis fotos de
                                            das fotografias expostas são de sua autoria.   faróis do arquipélago da Madeira .
                                              Dado  o  impedimento  do  General  No topo da sala, em lugar de destaque,
                                            Themudo Barata, Presidente da Direcção,  um dos mais belos faróis Portugueses - o
                                            a Sociedade Histórica da Independência  do Bugio - do qual se expõem catorze
                                            de Portugal esteve representada pelo  fotos diferentes.
                                            Coronel Limão Gatta, seu director finan-
                                            ceiro, o qual recebeu o Chefe do Estado-          José Ferreira dos Santos
         Farol do Cabo de S. Vicente.       -Maior da Armada e fez as honras da casa.         Capitão da Marinha Mercante
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