Page 353 - Revista da Armada
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património e sabes bem  que nem sem-  do dique, puxando a avenida algumas  Notas
         pre o tem feito (4). Não quero, no en-  dezenas de metros para o Sul.(6) Dois  (1) Ver o artigo “...E, afinal, falam”,  publicado
         tanto, esquecer um camarada teu que  anos mais tarde, na Administração-  em Março de 1989, no nº 202 desta Revista.
         em 1960 propôs a reabertura do dique  -Geral do Porto de Lisboa, o arquitecto  (2) Para melhor conhecer a figura e a obra de
         para lhe meter a fragata D. Fernando (5).  Fernando Morgado, ao ocupar-se da  Bartolomeu da Costa, veja-se do autor O Dique da
                                                                               Ribeira das Naus, Academia da Marinha, Lisboa,
         Pobre fragata que, também, acabou por  urbanização da zona, também reabre o  1987, comemorando o 2º centenário do início da
         desaparecer, destruída pelo fogo.  dique e nele mete um veleiro(7). Mas  construção do dique. Por essa ocasião foi inaugura-
         Entretanto, em vez de salvarem o   tudo ficou na mesma. Assim, nada há a  do um busto de Bartolomeu da Costa, da autoria de
         dique, cada vez o molestaram mais.  fazer. Todavia, estou reconhecido a  Raúl de Sousa Machado, que foi colocado nas ime-
         Depois da avenida o ter cortado, enca-  quem, nessas obras que se estão a  diações do dique.
                                                                                 (3) No início da sua vida militar, estamos em
         fuaram-lhe um enorme equipamento de  fazer, pôs à mostra o pouco que restou  1744, Bartolomeu da Costa assentou praça de arti-
         condicionamento de ar (e neste mo-  do dique e que, acima de tudo, lhe  lheiro na 5ª esquadra, contando pouco mais de 12
         mento, voz de Bartolomeu da Costa co-  extraiu esse afrontoso cano. Poderá ser  anos de idade. Embarcou doze vezes, em navios de
         meçou a aumentar de tom). Mas ainda  uma luz no fundo do...dique!     guarda-costa, e fez quatro viagens a Angola e ao
                                                                               Brasil. Teria, possivelmente, seguido a carreira
         fizeram pior quando, alguns anos antes  E a sua voz foi esmorecendo até que  naval se não tivesse sido promovido, em 1758, a
         o violentaram metendo-lhe um grosso  acabou mesmo por desaparecer. Ainda  condestável-mor de artilharia e como esta gradua-
         cano pela carne dentro, que lhe destruiu  dei um salto até à estátua equestre de  ção o dispensava de embarque foi mandado servir
         parte da estrutura.                D. José, da autoria desse grande   no Arsenal do Exército.
                                                                                 (4) Julgamos que Bartolomeu da Costa queria
           - Mas que queres tu fazer. O dique  Machado de Castro e que Bartolomeu  referir-se aos fogos que destruíram, primeiro, a Sala
         não pode ser recuperado. A avenida  fundiu de um só jacto, o que nunca se  do Risco, em 1916, levando um importante
         marginal impede a sua abertura, pon-  tinha feito com um bronze de tão  património museológico e, meio século depois, no
         derei eu, numa tentativa de acalmar um  grandes dimensões. Admiti que tivesse  mesmo local, os Serviços de Hidrografia, consumin-
         brigadeiro exaltado.               ido buscar algum conforto, chegando-  do material e cartas náuticas de valor histórico.
                                                                                 (5) Jorge Ramos Pereira, “O Ministério da
           -Isso é o que tu pensas. O traçado da  -se a essa outra grande obra que, feliz-  Marinha e as suas precárias instalações”, in Anais
         avenida foi feito na prancheta, sem  mente, não foi vilipendiada. Mas não.  do Club Militar Naval, 1960, pp. 745-6. Note-se a
         tomar em linha de conta a realidade.  O silêncio era total.           má posição do dique no desenho anexo.
         Aliás, em 1979, na Câmara Municipal  Quando tornarei a ouvi-lo?         (6) Proposta de remodelação da Avenida da
         de Lisboa, o arquitecto José Tudela, ao                              Ribeira das Naus, CML, Direcção de Serviço de
                                                                               Urbanização, 18 de Janeiro 1979.
         estudar a remodelação da zona, quis                  A.Estácio dos Reis  (7) Proposta de Ordenamento da Faixa Marginal,
         emendar mão e considerou a reabertura                           CMG   Gabinete de Estudos e Planeamento, Maio de 1982.




                                               BIBLIOGRAFIA


                                         Vila de Ribamar
                                         Vila de Ribamar



               um escrito de Américo                                                 bém, para além do texto, de
               Teodoro Maçarico Moreira                                              inúmeras fotografias e gravuras, em
         NRemédio, 1º Tenente na                                                     preto e branco e a cores, a última
         situação de Reserva, que quis                                               das quais tem a legenda: fotografia
         entregá-lo em mão na Revista , é                                            nº 149, sem contar com outras qua-
         feita  uma exaustiva exposição                                              tro que vêm depois desta.
         sobre a Vila de Ribamar, florescente                                         Enfim, um luxo de edição onde
         burgo das terras de Lourinhã e suas                                         metade dos espaços quer represen-
         vizinhas                                                                    tar alguns aspectos rurais de terras
           São objecto de particular des-                                            que estão (parece) a desenvolver-
         taque, no livro,dois temas impor-                                           -se, e a outra metade (menor) a
         tantes: as terras da freguesia de                                           explicitar a família Maçarico, numa
         Ribamar com 140 páginas, e a                                                genealogia deste que casou com
         genealogia da família Maçarico, a                                           aquela e tiveram a, b, c, e d filhos, e
         qual se desenvolve por outras 80                                            assim por diante, para não deixar
         páginas, tudo isto em papel couché                                          de fora algum “maçarico” exis-
         de excelente gramagem, encader-                                             tente. Enfim, ... (parabéns...).
         nação em cartolina couché, da me-                                            Estamos, de facto, a viver num
         lhor, e tudo cheio de uma prosa                                             país rico, onde tanto luxo nos deixa
         densa em composição ligeiramente                                            perplexos face às carências do país,
         anárquica, e profusão de tipos com                                          mas ainda bem!. Parabéns à Vila de
         bolds, negritos e tamanhos um                                               Ribamar que tal edição inspirou e
         pouco acima do quantum satis.                                               produziu.
           Todas as páginas cheias até aos                                            A Revista agradece o exemplar
         bordos, poucas manchas brancas                                              oferecido.
         remanescentes para que o texto
         possa respirar. Um livro bem re-                                                               S. Machado
         cheadinho, mas recheadinho tam-                                                                     CMG
                                                                                   REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2002  27
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