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Mensagem de Natal e Ano Novo
do Almirante CEMA
Natal é uma época de reflexão, de fé, de cari- nacionais, saliento o comando e a atribuição do navio-
dade e de esperança num Mundo melhor. É a -chefe à STANAVFORLANT, a participação na
O altura do ano em que a generalidade dos EUROMARFOR e o empenhamento de fuzileiros em
cristãos se predispõe a olhar o mundo de forma mais Timor-Leste. No plano estritamente nacional, destaco
espiritual e a reflectir sobre o modo e princípios de a remoção do navio mercante “Coral-Bulker” do mo-
vida da sua comunidade. Talvez por isso seja também lhe exterior do porto de Viana do Castelo e as opera-
a época em que tradicional- ções de socorro em Entre-os-
mente se manifestam dúvidas -Rios, para além das missões
morais mais profundas, se operacionais e de serviço pú-
sente maior inconformismo blico que a Marinha desem-
perante situações de injustiça, penha de forma continuada e
opressão e violência, e mais fre- discreta, mas por vezes não
quentemente se fala de frater- isenta de risco, no âmbito da
nidade, de solidariedade e de fiscalização dos espaços maríti-
disponibilidade para com os mos sob jurisdição nacional,
outros. Tudo isto, em oposição incluindo a luta contra o narco-
ao culto do individualismo e da -tráfico, da salvaguarda da vida
indiferença que, segundo algu- humana no mar, das ciências e
mas opiniões, ameaça ultrapas- técnicas do mar, da defesa do
sar os antigos padrões morais ambiente marinho e em muitos
da vida pública e privada. outros que dispenso referir.
Aquelas virtudes, presentes No entanto, os gratificantes
na mensagem cristã desde a resultados operacionais obti-
sua revelação há mais de vinte dos não fazem esquecer o preo-
séculos, fazem parte dos pon- cupante estado de conservação
tos de referência ética da da componente mais antiga da
moderna Instituição Militar e Esquadra, nem as questões que
são geralmente reconhecidas afectam há muito o pessoal da
como indispensáveis à sua vida Marinha.
quotidiana e operacionalidade. As dificuldades ainda maio-
Creio mesmo que não é pos- res que se configuram para o
sível conceber Forças Armadas próximo ano não nos desres-
destituídas de valores superio- ponsabilizam de actuar com
res, de grandes finalidades e de ânimo e de continuarmos a dar
uma consciência sólida, sem se admitir que, na sua o melhor do nosso esforço ao País, com a honestidade,
ausência, elas fraquejariam perante a primeira prova competência e dedicação que são apanágio da
ou adversidade. Marinha. Essa atitude, longe de ser um paradoxo,
Apar desses valores, é igualmente fundamental que constitui antes um desafio suplementar que devemos
exista esperança. A esperança que permite sonhar, assumir na lógica de esperança que é indispensável à
fazer projectos, acalentar aspirações e manter o ânimo nossa vida profissional e cívica.
diante de contrariedades, insucessos e carências. Sem Termino com os sinceros votos de Boas Festas e de
ela, os ideais e a mobilização emocional acabam por um Ano Novo cheio de venturas para todos os mili-
desaparecer, o laxismo instala-se e o projecto colectivo tares, militarizados e civis da Marinha, e seus fami-
morre. liares, e com uma palavra especial de solidariedade e
Em 2001, a Marinha serviu o país com abnegação e compreensão para aqueles que nesta quadra festiva se
profissionalismo. Os resultados alcançados demons- encontram distantes por imposição do serviço.
tram claramente a dimensão do esforço desenvolvido
e a qualidade dos serviços prestados. Numa breve Nuno Gonçalo Vieira Matias
referência à intervenção da Marinha em missões inter- Almirante
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2002 5