Page 7 - Revista da Armada
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Mensagem de Natal e Ano Novo


                                   do Almirante CEMA





                  Natal é uma época de reflexão, de fé, de cari- nacionais, saliento o comando e a atribuição do navio-
                  dade e de esperança num Mundo melhor. É a -chefe à STANAVFORLANT, a participação na
          O altura do ano em que a generalidade dos           EUROMARFOR e o empenhamento de fuzileiros em
           cristãos se predispõe a olhar o mundo de forma mais Timor-Leste. No plano estritamente nacional, destaco
           espiritual e a reflectir sobre o modo e princípios de a remoção do navio mercante “Coral-Bulker” do mo-
           vida da sua comunidade. Talvez por isso seja também lhe exterior do porto de Viana do Castelo e as opera-
           a época em que tradicional-                                            ções de socorro em Entre-os-
           mente se manifestam dúvidas                                            -Rios, para além das missões
           morais mais profundas, se                                              operacionais e de serviço pú-
           sente maior inconformismo                                              blico que a Marinha desem-
           perante situações de injustiça,                                        penha de forma continuada e
           opressão e violência, e mais fre-                                      discreta, mas por vezes não
           quentemente se fala de frater-                                         isenta de risco, no âmbito da
           nidade, de solidariedade e de                                          fiscalização dos espaços maríti-
           disponibilidade para com os                                            mos sob jurisdição nacional,
           outros. Tudo isto, em oposição                                         incluindo a luta contra o narco-
           ao culto do individualismo e da                                        -tráfico, da salvaguarda da vida
           indiferença que, segundo algu-                                         humana no mar, das ciências e
           mas opiniões, ameaça ultrapas-                                         técnicas do mar, da defesa do
           sar os antigos padrões morais                                          ambiente marinho e em muitos
           da vida pública e privada.                                             outros que dispenso referir.
            Aquelas virtudes, presentes                                             No entanto, os gratificantes
           na mensagem cristã desde a                                             resultados operacionais obti-
           sua revelação há mais de vinte                                         dos não fazem esquecer o preo-
           séculos, fazem parte dos pon-                                          cupante estado de conservação
           tos de referência ética da                                             da componente mais antiga da
           moderna Instituição Militar e                                          Esquadra, nem as questões que
           são geralmente reconhecidas                                            afectam há muito o pessoal da
           como indispensáveis à sua vida                                         Marinha.
           quotidiana e operacionalidade.                                           As dificuldades ainda maio-
           Creio mesmo que não é pos-                                             res que se configuram para o
           sível conceber Forças Armadas                                          próximo ano não nos desres-
           destituídas de valores superio-                                        ponsabilizam de actuar com
           res, de grandes finalidades e de                                       ânimo e de continuarmos a dar
           uma consciência sólida, sem se admitir que, na sua o melhor do nosso esforço ao País, com a honestidade,
           ausência, elas fraquejariam perante a primeira prova competência e dedicação que são apanágio da
           ou adversidade.                                    Marinha. Essa atitude, longe de ser um paradoxo,
            Apar desses valores, é igualmente fundamental que constitui antes um desafio suplementar que devemos
           exista esperança. A esperança  que permite sonhar, assumir na lógica de esperança que é indispensável à
           fazer projectos, acalentar aspirações e manter o ânimo nossa vida profissional e cívica.
           diante de contrariedades, insucessos e carências. Sem  Termino com os sinceros votos de Boas Festas e de
           ela, os ideais e a mobilização emocional acabam por um Ano Novo cheio de venturas para todos os mili-
           desaparecer, o laxismo instala-se e o projecto colectivo tares, militarizados e civis da Marinha, e seus fami-
           morre.                                             liares, e com uma palavra especial de solidariedade e
            Em 2001, a Marinha serviu o país com abnegação e compreensão para aqueles que nesta quadra festiva se
           profissionalismo. Os resultados alcançados demons- encontram distantes por imposição do serviço.
           tram claramente a dimensão do esforço desenvolvido
           e a qualidade dos serviços prestados. Numa breve                           Nuno Gonçalo Vieira Matias
           referência à intervenção da Marinha em missões inter-                                       Almirante

                                                                                       REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2002  5
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