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Reminiscências Francesas na História
           Reminiscências Francesas na História

                      da Aviação Naval Portuguesa
                      da Aviação Naval Portuguesa

                                                    Conclusão



              a sequência do artigo publicado  bardeou, em 5/Set/1918, o navio “Deser-  uma referência a um jornalista francês,
              com o mesmo título na Revista da  tas” (*), encalhado na praia entre a Va-  Daniel Constant, que em 1918, com 9 anos
        NArmada de Novembro/01, e con-      gueira e a Costa Nova.             de idade esteve em S. Jacinto, onde seu pai
         forme foi referido, apresento seguida-  Depois da consulta de documentação  era Encarregado-Geral de uma fábrica de
         mente uma informação sobre a sequência  francesa e dos jornais de Aveiro de 1918,  conservas. Passados muitos anos, Constant,
         que o assunto teve depois da comuni-  é possível apresentar os seguintes  vindo a Portugal, teria contado a história do
         cação apresentada perante a delegação  esclarecimentos:               suposto Didier desaparecido.
         da Academia de Marinha francesa.     a) – Na lista dos oficiais da Aviação Naval  História que não tem suporte em nenhu-
           Após o regresso a França dos académi-  francesa até 1921, constam três de apelido  ma das fontes documentais fidedignas que
         cos franceses, o texto da minha palestra (na  Didier: René Didier, nº 2113, Gaston  consultei.
         versão francesa) foi transmitido a outras  Didier, nº 5019 e Claude Didier, nº 5413,  b) – Segundo a tradição, um submarino
         entidades francesas, entre as quais o  todos brevetados antes de 1918. Porém, nos  alemão teria disparado cerca de 30 tiros
         Capitaine de Vaisseau (R) Robert Feuilloy,  “États mensuels”, registo oficial francês do  de canhão sobre o vapor “Desertas”, sem
         Secretário Geral da                                                                     que    houvesse
         ARDHAN (Associa-                                                                        reacção oportuna
         tion pour la Recher-                                                                    da Aviação france-
         che de Documenta-                                                                       sa. Um hidroavião
         tion sur l’Histoire de                                                                  teria saído tardia-
         l’Aéronautique                                                                          mente, não tendo
         Navale), que orgu-                                                                      já avistado o ata-
         lhosamente   se                                                                         cante. A popula-
         auto-proclama “Mé-                                                                      ção teria manifes-
         moire de l’Aéronau-                                                                     tado o seu desa-
         tique Navale”.                                                                          grado por esta apa-
           O Comt Feuilloy                                                                       rente inoperância
         estava então a pre-                                                                     dos meios aéreos,
         parar uma reedição                                                                      cuja missão era,
         aumentada e cor-                                                                        essencialmente, a
         rigida do livro                                                                         vigilância anti-
         “Memorial des pio-                                                                      -submarina.
         nniers de l’aviation                                                                      Porém, o jornal
         – 1909/1921”. Este                                                                      “O Democrata” (e
         livro contém uma                                                                        só ele), publicou em
         listagem de 18666  Donnet-Denhaut - Tipo DD8, que equipava a esquadrilha francesa em S. Jacinto (8 unidades).  6 de Setembro a
         pilotos brevetados                                                                      notícia do ataque do
         em França naquele período, incluindo os  Centro de S. Jacinto, não consta nenhum  submarino alemão na véspera, e referiu que
         portugueses.                       piloto em operação com esse apelido.  “Levantaram 3 aviões de S. Jacinto que
           Perante o meu texto, aquele oficial  O Comt Feuilloy não conhece qualquer  atacaram o submarino e parece que o atingi-
         entrou em contacto comigo, tendo-se  registo relativo ao suposto acidente  ram, pois apareceram manchas de óleo à
         estabelecido uma longa colaboração para  aéreo.                       superfície”.
         a rectificação de muitos erros e lacunas  Nos jornais de Aveiro “O Democrata”  Por seu lado, a versão francesa deste
         relativas aos nossos Pilotos (tanto da  e “O De Aveiro” (**), entre Abril e  episódio é bastante clara, mas deixa-nos
         Marinha como do Exército), e, por exten-  Novembro de 1918, não há notícia de  algo perplexos, por referir uma operação
         são, vários outros factos relacionados  qualquer acidente com aviões franceses,  de ataque ao submarino que não passaria
         com a actividade do Centro Francês em  sendo de assinalar que esses jornais pu-  despercebida à população da Vagueira.
         S. Jacinto, durante o seu período opera-  blicavam frequentes referências ao Cen-  Transcrevo o texto oficial francês que me
         cional, de Abril a Novembro de 1918.  tro de S. Jacinto, que nessa época era  foi fornecido pelo Comt Feuilloy:
           É sobre este período que pretendo  motivo de interesse para os aveirenses.  “L’activité opérationelle du CAM
         transmitir aqui as “novidades” algo sur-  Como referi no artigo anterior, o rela-  d’Aveiro est assez faible. Le mois de sep-
         preendentes para muitos dos que, como  cionamento humano desenvolveu-se  tembre voit cinq ataques sur sous-marins
         eu, confiavam na tradição oral, mal fun-  facilmente, e os voos dos aviões france-  dont celle du 5 septembre décrite ci-
         damentada.                         ses, nas suas frequentes sortidas sobre as  -après dans le rapport d’opérations:
           Os dois principais factos erradamente  povoações suscitavam curiosidade e cria-  Le centre d’Aveiro, entendant des déto-
         propalados, eram: a) – a suposta morte do  ram uma natural familiarização das  nations, fait partir à 16 h la section
         TEN aviador francês Didier, durante um  populações com os “franciús”. Num am-  d’alerte, malgré une fraiche brise de sud-
         voo de patrulha; e b) – a suposta ino-  biente destes, não poderia falhar a notícia  ouest. Un sous-marin, émergeant à envi-
         perância do Centro de Aviação Naval  de um eventual acidente.         ron 3 milles du phare d’Aveiro, canonnait
         Francês de S. Jacinto, perante a presença  No livro “Hidro-aviões nos céus de  le Desertas, vapeur échoué sur la côte à
         de um submarino alemão que bom-    Aveiro”, de Joaquim Nunes Duarte (***) há  quelques milles au sud d’Aveiro. Après

         10 JANEIRO 2002 • REVISTA DA ARMADA
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