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Dia da Marinha
Mensagem do Almirante CEMA
omemora-se hoje o dia da Marinha. Ao longo dos anos, várias UEsclareci que, para tal, bastaria que os mais velhos continuassem
datas têm sido escolhidas como referência para estas celebrações. a ser bons marinheiros;
CA mais recente, 08 de Julho, assinalava a partida da esquadra de UFinalmente, resumi a minha atitude como sendo de esperança, de
Vasco da Gama para a tentativa de descoberta do Caminho Marítimo determinação e de confiança.
para a Índia, em 1497. Em boa hora, há cinco anos, foi escolhida outra Decorridos que foram seis meses, considero nada ter a retirar, a alte-
efeméride, a chegada de Vasco da Gama a Calecut, em 20 de Maio de rar ou a acrescentar. Direi porquê.
1498, data esta que constitui a referência actual. A Marinha tinha um projecto de referência, datado de 1996 e actua-
Disse que em boa hora tinha sido efectuada a mudança pois, apesar lizado em 98. Este projecto indicava claramente várias opções relativas
de se tratar de uma referência, de um símbolo, é profundamente dife- ao conjunto de meios que a Marinha poderia ter, assumindo as desig-
rente comemorar o início de um projecto ou a sua concretização com nações de desejável, aceitável ou minimalista, em função da dimensão
sucesso. requerida. A componente naval do
Ao dedicarmos, anualmente, um Sistema de Forças Nacional em vi-
dia para as comemorações da Ma- gor traduz esta última opção. Foi
rinha, estamos, também, a praticar uma opção a que não foi alheia a
um acto de justiça. Lembrar e hon- extensão e possibilidades do País,
rar os mortos e distinguir perante mas abaixo da qual são a própria
esta tribuna e as forças em parada segurança e defesa nacional que
alguns dos que mais se evidencia- estão em risco.
ram pelo seu contributo na Mari- Aquele planeamento aponta
nha ou pela Marinha é, não só uma o ano de 2010 para concretizar o
obrigação, mas também um dever. levantamento deste Sistema de
Deve sempre ser feito, independen- Forças, com excepção dos meios
temente das conjunturas. Portugal navais da capacidade de guerra
constrói--se todos os dias. E a Ma- de minas.
rinha sempre contribuiu e contri- Hoje, dia da Marinha de 2003,
buirá para a construção da nossa estou convicto de que tal é pos-
história, inquestionavelmente li- sível e estou confiante em que se
gada ao mar, face à importância irá concretizar em tempo, desig-
estratégica que este facto sempre nadamente a sua componente es-
teve, tem e terá no futuro. sencialmente militar. O estado da
Senhor Ministro de Estado e da esquadra e das infraestruturas e
Defesa Nacional: o desinvestimento de que foram
Dignou-se Vossa Excelência acei- alvo durante mais de uma déca-
tar o convite para estar hoje com a da, já não permitem que se pros-
Marinha e presidir a esta cerimónia, siga outro caminho.
o que muito nos honra. Pretende- De facto, a Lei de Programação
mos fazer deste dia um dia de fes- Militar, recentemente aprovada,
ta. Festa enquanto comemoração de contém as condições necessárias
um projecto que acredito se concretizará e que chegará a bom termo, tal para inverter o anterior rumo, que a Marinha sempre contrariou e para
como a viagem do Gama. É para este sentir positivo que é também im- consubstanciar as opções estratégicas, claramente vertidas no também
portante a Marinha ter como referência um objectivo conseguido e não recém-aprovado CEDN .
um dos muitos que apenas se idealizaram ou ficaram pelo caminho. Manter uma Marinha Oceânica, não exígua, não disfuncional, mas
Embora seja ainda cedo para fazer um balanço, decorridos que fo- que, apesar de minimalista, tenha a capacidade para a projecção de for-
ram apenas seis meses sobre a minha tomada de posse, considero de- ça além mar, não dependente de outros interesses que não o nosso, vai
ver relembrar as ideias-força que estavam contidas na mensagem que exigir, como previsto naquela lei:
dirigi à Marinha, em 26 de Novembro passado, um dia depois de ter UA construção de um navio polivalente de assalto anfíbio e com al-
sido investido como Chefe do Estado-Maior da Armada: guma capacidade de comando e controlo, na nossa indústria em Viana
UAfirmei então que o ano de 2003 ia ser, para a Marinha, um ano do Castelo, com entrada ao serviço prevista para 2008/2009;
extremamente difícil e que tinha feito a escolha de eleger como projec- UAdquirir, até 2010, três fragatas usadas, duas das quais dotadas de
to para o mandato a preparação da Marinha para os melhores tempos capacidade de defesa aérea de área, em substituição das fragatas da
que hão-de vir, limitando os danos já sofridos, preservando o essencial classe “João Belo” que já estão no fim da sua vida útil;
e preparando o futuro; UAdquirir dois submarinos, com entrada ao serviço em 2009 e 2010,
UInsisti que a linha mestra do mandato seria – trabalhar para o fu- mantendo em aberto a possibilidade de comprar um terceiro, para
turo, porque preparar o futuro é sempre mais nobre do que apenas vi- substituir os três submarinos da classe “Albacora”, já no fim da sua
ver o presente; vida útil. Ficará assim desse modo garantida a capacidade de operar
UDisse que seria no âmbito da componente operacional que tería- em áreas avançadas do opositor, obter informação de forma discreta
mos que concentrar os maiores esforços de motivação dos mais jovens, não comprometendo o Estado, proteger as nossas forças, e constituir
mantendo o ânimo dos que acreditam e o exemplo dos que não desis- um potencial de dissuasão activa e passiva sem igual no imenso Mar
tem perante as adversidades; de interesse Português;
4 JUNHO 2003 U REVISTA DA ARMADA