Page 186 - Revista da Armada
P. 186

Dia da Marinha




          Mensagem do Almirante CEMA





              omemora-se hoje o dia da Marinha. Ao longo dos anos, várias   UEsclareci que, para tal, bastaria que os mais velhos continuassem
              datas têm sido escolhidas como referência para estas celebrações.  a ser bons marinheiros;
         CA mais recente, 08 de Julho, assinalava a partida da esquadra de   UFinalmente, resumi a minha atitude como sendo de esperança, de
         Vasco da Gama para a tentativa de descoberta do Caminho Marítimo  determinação e de confiança.
         para a Índia, em 1497. Em boa hora, há cinco anos, foi escolhida outra   Decorridos que foram seis meses, considero nada ter a retirar, a alte-
         efeméride, a chegada de Vasco da Gama a Calecut, em 20 de Maio de  rar ou a acrescentar. Direi porquê.
         1498, data esta que constitui a referência actual.    A Marinha tinha um projecto de referência, datado de 1996 e actua-
           Disse que em boa hora tinha sido efectuada a mudança pois, apesar  lizado em 98. Este projecto indicava claramente várias opções relativas
         de se tratar de uma referência, de um símbolo, é profundamente dife-  ao conjunto de meios que a Marinha poderia ter, assumindo as desig-
         rente comemorar o início de um projecto ou a sua concretização com  nações de desejável, aceitável ou minimalista, em função da dimensão
         sucesso.                                                                       requerida. A componente naval do
           Ao dedicarmos, anualmente, um                                                Sistema de Forças Nacional em vi-
         dia para as comemorações da Ma-                                                gor traduz esta última opção. Foi
         rinha, estamos, também, a praticar                                             uma opção a que não foi alheia a
         um acto de justiça. Lembrar e hon-                                             extensão e possibilidades do País,
         rar os mortos e distinguir perante                                             mas abaixo da qual são a própria
         esta tribuna e as forças em parada                                             segurança e defesa nacional que
         alguns dos que mais se evidencia-                                              estão em risco.
         ram pelo seu contributo na Mari-                                                 Aquele planeamento aponta
         nha ou pela Marinha é, não só uma                                              o ano de 2010 para concretizar o
         obrigação, mas também um dever.                                                levantamento deste Sistema de
         Deve sempre ser feito, independen-                                             Forças, com excepção dos meios
         temente das conjunturas. Portugal                                              navais da capacidade de guerra
         constrói--se  todos os dias. E a Ma-                                           de minas.
         rinha sempre contribuiu e contri-                                                Hoje, dia da Marinha de 2003,
         buirá para a construção da nossa                                               estou convicto de que tal é pos-
         história, inquestionavelmente li-                                              sível e estou confiante em que se
         gada ao mar, face à importância                                                irá concretizar em tempo, desig-
         estratégica que este facto sempre                                              nadamente a sua componente es-
         teve, tem e terá no futuro.                                                    sencialmente militar. O estado da
           Senhor Ministro de Estado e da                                               esquadra e das infraestruturas e
         Defesa Nacional:                                                               o desinvestimento de que foram
           Dignou-se Vossa Excelência acei-                                             alvo durante mais de uma déca-
         tar o convite para estar hoje com a                                            da, já não permitem que se pros-
         Marinha e presidir a esta cerimónia,                                           siga outro caminho.
         o que muito nos honra. Pretende-                                                 De facto, a Lei de Programação
         mos fazer deste dia um dia de fes-                                             Militar, recentemente aprovada,
         ta. Festa enquanto comemoração de                                              contém as condições necessárias
         um projecto que acredito se concretizará e que chegará a bom termo, tal  para inverter o anterior rumo, que a Marinha sempre contrariou e para
         como a viagem do Gama. É para este sentir positivo que é também im-  consubstanciar as opções estratégicas, claramente vertidas no também
         portante a Marinha ter como referência um objectivo conseguido e não   recém-aprovado CEDN .
         um dos muitos que apenas se idealizaram ou  ficaram pelo caminho.  Manter uma Marinha Oceânica, não exígua, não disfuncional, mas
           Embora seja ainda cedo para fazer um balanço, decorridos que fo-  que, apesar de minimalista, tenha a capacidade para a projecção de for-
         ram apenas seis meses sobre a minha tomada de posse, considero de-  ça além mar, não dependente de outros interesses que não o nosso, vai
         ver relembrar as ideias-força que estavam contidas na mensagem que  exigir, como previsto naquela lei:
         dirigi à Marinha, em 26 de Novembro passado, um dia depois de ter   UA construção de um navio polivalente de assalto anfíbio e com al-
         sido investido como Chefe do Estado-Maior da Armada:   guma capacidade de comando e controlo, na nossa indústria em Viana
           UAfirmei então que o ano de 2003 ia ser, para a Marinha, um ano  do Castelo, com entrada ao serviço prevista para 2008/2009;
         extremamente difícil e que tinha feito a escolha de eleger como projec-  UAdquirir, até 2010, três fragatas usadas, duas das quais dotadas de
         to para o mandato a preparação da Marinha para os melhores tempos  capacidade de defesa aérea de área, em substituição das fragatas da
         que hão-de vir, limitando os danos já sofridos, preservando o essencial  classe “João Belo” que já estão no fim da sua vida útil;
         e preparando o futuro;                                UAdquirir dois submarinos, com entrada ao serviço em 2009 e 2010,
           UInsisti que a linha mestra do mandato seria – trabalhar para o fu-  mantendo em aberto a possibilidade de comprar um terceiro, para
         turo, porque preparar o futuro é sempre mais nobre do que apenas vi-  substituir os três submarinos da classe “Albacora”,  já no fim da sua
         ver o presente;                                      vida útil. Ficará assim desse modo garantida a capacidade de operar
           UDisse que seria no âmbito da componente operacional que tería-  em áreas avançadas do opositor, obter informação de forma discreta
         mos que concentrar os maiores esforços de motivação  dos mais jovens,  não comprometendo o Estado, proteger as nossas forças, e constituir
         mantendo o ânimo dos que acreditam e o exemplo dos que não desis-  um potencial de dissuasão activa e passiva sem igual no imenso Mar
         tem perante as adversidades;                         de interesse Português;

         4  JUNHO 2003 U REVISTA DA ARMADA
   181   182   183   184   185   186   187   188   189   190   191