Page 83 - Revista da Armada
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Mas cumprem ...
Baseadas no Alfeite, são destacadas para
actuar nas três Zonas Marítimas (ZM) do
Continente, uma vez que as da Madeira e
dos Açores exigem navios com porte ade-
quado ao mar que aí, normalmente, é ainda
mais violento.
Depois dum trânsito que pode atingir as
doze horas, alcançam o porto da Zona
Marítima Sul ou Norte a partir do qual dia-
riamente operarão durante um período que
de Junho a Outubro apenas conhecerá fol-
gas de 5 dias a, mais ou menos, cada
quinzena.
A simples chegada à Zona origina, sabe-
-se, uma certa agitação entre os faltosos
menos atrevidos, pois de imediato co-
esse alimentar e/ou comercial, lá onde
nascem, se desenvolvem e se reproduzem.
Pior ainda, as reduções dos caudais
decorrentes das barragens, sobretudo das
grandes hidroeléctricas, e os efluentes
industriais não tratados que, despejados nos
nossos rios, os degradam, bem como ao
mar onde desaguam.
Tudo aspectos que em democracia tor-
nam difícil a lúcida procura do ponto de
equilíbrio entre as opções que tornam
palpável, a curto prazo, o ambicionado vo-
to dos cidadãos e as que asseguram, a longo
termo, vantagens que precisam de ser justifi-
cadas, embora a abundância de peixe con-
tribua inequivocamente para o bem estar da
Nação, social e economicamente (7), pelos
negócios que gera a montante e a jusante Alando redes.
da estrita actividade piscatória.
Em águas pouco profundas, outra activi- transportados e ser calados, isto é, operados. meçam a recolher as artes que em manifes-
dade que vem delapidando, directa ou indi- Estando tudo perfeitamente legislado, ta violação tinham lançado ao mar. No
rectamente, os recursos vivos das nossas pareceria que deveriam, no interesse de entanto, por muito dissuasora que seja a
costas são as Artes ditas Caladas. todos, especialmente dos próprios profis- mera presença há sempre quem, mais
Trata-se de uma das muitas Artes ou sionais, estar protegidas as diversas espécies ousado, jogue na sorte que sendo con-
meios artesanais de pesca praticados pelas marinhas que se pretende preservar para o trária, ponderados factores diversos (10),
diversas comunidades piscatórias ao longo futuro longínquo e, no tempo presente, tam- opte ainda por nem sequer reclamar as
das nossas costas, sobretudo do continente, bém já no devir imediato. Se em terra o artes apreendidas.
com as suas variantes, umas mais frequente- cumprimento da Lei sofre tantos atropelos Na posse das informações localmente
mente utilizadas que outras. não nos deve surpreender que no deserto recolhidas através das CPs e dos comandos
Duma maneira muito geral diremos que que o mar é, as ocasiões sejam uma floresta de ZM, inicia-se a acção fiscalizadora destas
se trata de meios lançados à água num ponto de tentações. lanchas que, devido às características
não necessariamente à vista da costa, onde Também, neste caso, o Estado continua a intrínsecas desta missão, operam, regra
permanecem depositados por um período entregar à Armada, a complementar o Sistema geral, apenas durante o arco diurno (11) e
mais ou menos longo que, se não estiver de Autoridade Marítima que as Capitanias de por períodos aleatórios que serão condi-
condicionado por lei, será o julgado, pela Porto (CP) representam, a missão de garantir cionados pelo tipo de intervenção que vier
prática de séculos, necessário e suficiente no mar a efectiva aplicação da Lei. a decorrer.
para que, ao serem recolhidos, assegurem Actualmente, dotadas de um alador para Aquele aspecto decorre do facto de a
um retorno que justifique satisfatoriamente o recolha destas artes onde, no castelo, exis- acção fiscalizadora se basear na visualiza-
esforço dispendido, pelo menos financeira- tia uma peça «Oerlinkon» de 20mm, quem ção local das artes caladas que devem ser
mente, dos diversos sujeitos activos (8). especificamente cumpre este desiderato são assinaladas por uma bóia dotada de uma
Cada variante está devidamente caracteri- lanchas da classe «Albatroz» (9). haste de dois metros em cujo topo deve
zada, bem definidas as espécies alvo, as Deslocam 43,5 toneladas à velocidade drapejar, para que sejam facilmente
áreas onde podem operar ao longo do ano, máxima de 15 nós com uma autonomia de detectadas, uma bandeirola de cor fluo-
bem como os períodos e as zonas interditas 2.500 milhas a 12 nós, mas, concebidas nos rescente.
e as circunstâncias que a podem interditar, anos setenta para operarem nos rios da Poder-se-á imaginar uma bóia esférica ou
interromper ou determinar a devolução ao Guiné, os seus 21,8 metros domam com cónica, pintada de amarelo ou laranja, as
mar dos exemplares capturados. E, claro, dificuldade o Atlântico que ao longo da cores mais visíveis no mar, porém acontece
considerado o tipo de barco, de licença e a nossa costa, na maior parte do ano, feroz- que para os nossos pescadores, bóia é o que
quantidade destes meios que podem ser mente «ruge». quer que seja que ... flutue. Um garrafão de
REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2003 9