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aplicar em Operações de Manutenção de  a negociação com
         Paz, tais como a gestão de crises, escolta a  beligerantes para
         comboios, postos de observação, check  manutenção da
         points, reconhecimentos e resgates,  ordem e da paz na
         detecção e inactivação de minas, manobras  região, passando
         com helicópteros, segurança de altas enti-  pela distribuição
         dades, tiro, evacuações médicas, etc.;  alimentar, apoio
         enfim, um breve “curso” que tornou a fase  médico-sanitário,
         muito preenchida mas não menos interes-  até ao resgate de
         sante. Ainda durante essa semana, os mi-  altas entidades se-
         litares nomeados para o Estado-Maior do  questradas por mer-
         Batalhão Multinacional (7) receberam a mis-  cenários. Dentro da
         são para a Operação “Tanque de Ferro” de-  dinâmica e da or-
         senvolvendo todo um conjunto de planos e  ganização já refe-  Delegação portuguesa (DAE/CIOE).
         de ordens necessários à sua execução.  renciadas, será im-
           b) Fase II - a segunda parte do exercício,  portante realçar o papel desses mer-  dade de intervir em qualquer continente,
         decorreu entre 02 e 08 de Novembro de  cenários, cuja representação a cargo de  nos mais diversos tipos de terreno, clima
         2002 e constou de uma operação militar,  militares Brasileiros, foi extremamente  ou circunstâncias, utilizando-se a língua
         cujo cenário criado (fictício) levou a ONU  importante - criando mesmo a sensação de  portuguesa como veículo para projectar o
         a empregar, com base no Cap. 6º da Carta  um cenário real e actual. O exercício ter-  poder e os interesses desta Comunidade
         das Nações Unidas, uma força interna-  minou com a realização de um Vip Day na  lusófona.
         cional para a Manutenção da Paz em  área de exercícios, com a presença (entre  Quanto ao futuro das Operações
         Palma (8). Esta intenção foi coberta pela  outros) do Ministro da Defesa do Brasil,  Especiais em Portugal, a incógnita man-
         Resolução nº1988/02 do Conselho de  dos Chefes de Estado-Maior dos Ramos e  tém-se... A semente, baseada numa tentati-
         Segurança das Nações Unidas, com a fina-  do Adido de Defesa Militar de Portugal em  va de interoperabilidade e acções conjun-
         lidade de garantir o processo de deso-  Brasília, Capitão-de-mar-e-guerra José  tas, já foi lançada há alguns anos e tem
         cupação militar acordada entre a Repú-  Francisco Ventosa.            vindo a crescer lentamente. As expe-
         blica Federativa de Guararapes (9) e do                               riências entretanto acumuladas nestes
         Movimento Revolucionário de Palma CONCLUSÕES                          intercâmbios e os ensinamentos delas
         (MRP), reafirmando o compromisso pela                                 decorrentes, deverão ser alvo de uma
         independência, soberania e integridade  Os exercícios do tipo Felino, no âmbito  análise cuidada, pois poderão vir a con-
         territorial da República de Palma. Tal  da CPLP, têm sido uma ferramenta militar  tribuir para a organização e estrutura de
         desiderato, obrigou ao aprontamento de  extremamente importante para a consoli-  uma possível componente de operações
         uma forçatarefa de escalão Batalhão, cons-  dação do nosso Espaço Estratégico de  especiais, que se espera consensual e onde
         tituído por um Comando (Brasil e Moçam-  Interesse Nacional Variável, unindo e  se deverão aproveitar as sinergias através
         bique, respectivamente o Comandante e o  aproximando os povos de língua portugue-  de uma adequada utilização de capaci-
         2º Comandante do Batalhão), um Estado-  sa, e colmatando uma particular lacuna na  dades específicas, dentro de um quadro de
         -Maior Multinacional e uma Companhia  uniformização de procedimentos referentes  complementaridade e de doutrina comum.
         da CPLP, chefiada por um Oficial de Cabo  à mais antiga arte conhecida: a arte da  Fruto da actual conjuntura internacional,
         Verde; cada Pelotão, por sua vez, foi orga-  guerra, assim proferida por «Sun Tzu».  onde a ameaça é difusa, multifacetada e de
         nizado em quatro destacamentos corres-  Apesar do tema deste ano ter fugido clara-  confronto assimétrico, a capacidade gera-
         pondentes aos vários países integrantes.  mente ao emprego de Operações Espe-  da pelas Forças de Operações Especiais, é
         Este exercício de manutenção de paz, ca-  ciais, considera-se no entanto que possibi-  inquestionavelmente uma das soluções
         racterizou-se sobretudo pelas condições  litou a obtenção de outras experiências,  mais acertadas.
         adversas do teatro de operações (terreno e  claramente centralizadas nas caracterís-
         clima), e ainda pela brilhante organização  ticas “especiais” da Caatinga, nos contac-  (Colaboração do Comando do DAE)
         levada a cabo pelo Exército Brasileiro.  tos multinacionais vividos e ainda, não
         Tendo como pano de fundo a tela da Caa-  menos relevante, no esforço e dedicação  Notas
         tinga, as unidades subordinadas desen-  impostos pelos brasileiros na organização  (1) Comunidade de Países de Língua Portuguesa
         volveram durante uma semana várias  deste evento, e que resultou num trabalho  (actualmente é composta por Angola, Brasil, Cabo
         actividades, em sistema de rotação, desde  de excelente qualidade. A continuidade do  Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal,
                                                              Felino parece in-  S.Tomé e Príncipe, Timor).
                                                                                 (2) Designação atribuída aos Exercícios Militares
                                                              questionável, tendo  da CPLP
                                                              já provado que tem  (3) Doutrina nacional sobre Operações Especiais
                                                              condições para ser  Conjuntas que contempla  o Destacamento de
                                                              um projecto sólido  Acções Especiais (DAE - Marinha) e uma
                                                              e eficaz, nomea-  Companhia de Elementos de Operações Especiais
                                                                               (CEOE - Exército).
                                                              damente para a edi-  (4) As duas primeiras, respectivamente em 2000 e
                                                              ficação de uma   2001, ocorreram em Portugal e conduzidas pelo
                                                              capacidade militar  CIOE – Lamego.
                                                              forte e influente no  (5) Significa  “Mata Branca” num dialecto local,
                                                              plano internacio-  da tribo Guarani – vegetação densa e seca, de difícil
                                                                               transposição.
                                                              nal, com base nu-  (6) Estudo acerca do veneno das cobras, serpentes
                                                              ma raiz cultural  e outros repteis (ofídios).
                                                              uniforme. Em ce-   (7) Portugal contribuiu com 01 Oficial para Adj.
                                                              nários de paz ou de  de Operações (Marinha) e 01 Oficial de Comu-
                                                                               nicações (Exército).
                                                              guerra, os países da  (8) País fictício da América do Sul em processo de
                                                              CPLP demonstra-  Independência.
         Cerimónia de encerramento do exercício.              ram ter a capaci-  (9) País colonizador e vizinho de Palma.
         24 MARÇO 2003 • REVISTA DA ARMADA
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