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luções tecnológicas desta tendência que zação dos custos e, em alguns casos, da desempenho e no produto final da Insti-
devem, todavia, ser ainda consideradas própria qualidade das operações desen- tuição. É pois indispensável prestar par-
em evolução. volvidas, mantendo como condição es- ticular atenção à formação de quantos
As restrições da engenharia do Na- sencial a segurança do pessoal. aqui prestam serviço. Para além da for-
vio, logística incluída, relacionadas Em 15 de Outubro de 2002, firmou-se mação de carreira, comum a todos quan-
com o factor humano serão – no futu- entre o Estado e os Estaleiros Navais de tos escolheram a Marinha como forma
ro – ainda mais significativas. Em pri- Viana do Castelo o contrato de constru- de vida, assume especial importância a
meiro lugar, será necessário aproximar ção de dois Navios Patrulhas Oceânicos, formação de natureza académica: mais
o Navio de um local de permanência e primeiras unidades de um programa de de 40% são detentores de licenciatura e,
de trabalho confortável, por oposição 12 navios. Os NPO serão navios robus- em numerosos casos, de formação pós-
às condições de vida espartanas pro- tos, com 80 metros de comprimento, graduada, obtida em Escolas nacionais
porcionadas por grande parte dos na- preparados para as missões de serviço ou estrangeiras.
vios construídos na segunda metade público nas águas de responsabilidade A DN, enquanto organismo instru-
do séc. XX. A redução das guarnições, e interesse económico nacional. O segun- mental da primeira linha das tarefas de
resultante de soluções de maior inten- do par de unidades, cujo contrato foi já edificação da nova Esquadra da Mari-
sidade tecnológica, irá por outro lado igualmente assinado, virá dar ao país ca- nha, participa no enorme desafio que
impor a revisão dos racionais do apoio pacidade de intervenção autónoma em este objectivo representa, e está cons-
logístico que contam com a contribui- incidentes ambientais no mar, bem como ciente da parcela de responsabilidades
ção significativa daqueles recursos viabilizar a substituição do já antiqua- que sobre ela recaem, na futura recepção
humanos. No mesmo sentido influirá do navio-balizador existente. Em estu- de meios navais capazes de defender os
o facto de, na generalidade, os novos do, está a tipologia dos restantes NPO interesses do país e de robustecer a sua
sistemas navais serem menos depen- que deverão vir, na sua globalidade, a voz na comunidade internacional.
dentes de manutenção (sobretudo da revestir características de pluri-funcio- Os homens e mulheres, militares e ci-
manutenção puramente preventiva) do nalidades instaladas sobre uma arqui- vis, que trabalham na Direcção de Na-
que os actualmente disponíveis. tectura de plataforma comum. vios, estão motivados, preparados e or-
Mas, por outro lado, é essencial não O Navio Polivalente Logístico, cujo gulhosos de lhes ser proporcionada a
igno rar que os futuros sistemas exigi- projecto terá início neste terceiro tri- oportunidade de participarem activa-
rão o recurso a pessoal com educação, mestre de 2004, será um meio naval mente num dos mais vastos programas
formação e treino de nível mais eleva- exemplar da conformidade com os pa- de renovação da Marinha Portuguesa
do bem como a equipamento de apoio radigmas modernos de múltiplas capa- que não encontra paralelo na sua his-
e pessoal em terra em maior número e cidades: estas irão da projecção de for- tória moderna.
com maior sofisticação. ça militar com meios conjuntos dos três Z
Um último factor a merecer referên- ramos, até à condução de operações de F. David e Silva
cia neste âmbito, é o elevado valor pa- apoio à paz e de assistência a catástro- CALM EMQ
trimonial representado pelos novos na- fes humanitárias (valendo-se da referi- Notas
vios, que irá determinar uma utilização da capacidade de transporte e de uma (1) A esfera de acção da DN não engloba os sub-
operacional mais intensiva: o Navio do infra-estrutura hospitalar permanente marinos, cujo tratamento logístico integrado é encar-
futuro será solicitado a operar frequen- completa). go do Arsenal do Alfeite. Esta solução foi adoptada
temente em teatros afastados da sua base O programa dos novos submarinos em 1974, visando ultrapassar dificuldades surgidas
com a primeira grande intervenção de manutenção
de apoio fixa por períodos eventualmen- está igualmente lançado. A DN conti- nos submarinos da 4ª Esquadrilha (agora em fim
te prolongados, suscitando a teorização nuará a proporcionar apoio técnico à de vida útil).
e a emergência de novas soluções logís- equipa encarregada de conduzir o acom- (2) Designa o conjunto de cerca de 70 embarca-
ticas, aliás já visíveis nos escritos dos panhamento da construção e a futura in- ções que constituem os meios de intervenção de di-
think-tanks da especialidade. tegração destes navios na Marinha. versos Organismos da Marinha (entre os quais o Ins-
tituto Hidrográfico, a Direcção de Faróis, o Instituto
A logística naval do futuro será, tal A substituição das fragatas da clas- de Socorros a Náufragos, as Capitanias e a Direcção
como as operações, conduzida com se Comandante João Belo será inicia- de Transportes). O Navio de Treino de Mar Creou-
base na rede, em fluxos contínuos de da através da transferência de navios la e a Fragata D. Fernando II e Glória são também
processos de monitorização directa do da marinha americana, dotados de ca- UAM devendo notar-se que o último destes navios
tem, desde data recente, uma solução de manuten-
comportamento dos sistemas, dedução pacidades modernizadas (7), que asse- ção independente da DN para os seus desenvolvi-
quanto às necessidades de manuten- gurarão a transição até que seja possível mentos correntes.
ção, identificação e movimentação dos completar o dispositivo nesta capacida- (3) Isto é, do fornecimento de todos os bens fixos
sobressalentes necessários e, finalmente, de com navios construídos expressa- e consumíveis que devam existir a bordo antes de
acompanhamento das intervenções e da mente para o efeito. o Navio iniciar a sua vida útil.
(4) Engloba o tratamento integrado de todas estas
reposição das capacidades nominais de Outros programas têm já a necessida- disciplinas, essencial ao funcionamento eficaz dos
funcionamento. de bem identificada (como é o caso do sistemas do Navio.
Como noutros domínios, militares e novo reabastecedor de Esquadra, dos (5) Convenções internacionais a que os Estados
civis, da actividade humana, o paradig- patrulhas costeiros (8) e do completa- estão obrigados e a simples responsabilidade éti-
ca impõem a adopção de soluções “verdes” para o
ma será o da e-Logística. mento da Esquadrilha de helicópteros), processamento dos efluentes de diversa natureza
A Marinha atravessa um período de para assegurar a construção da Esqua- produzidos a bordo.
profunda renovação da Esquadra. Como dra equilibrada de que Portugal carece. (6) MCM – Mine Counter Measures, ASW – Anti
resultado de sucessivos adiamentos das Todos estes programas, após a identifi- Submarine Warfare, AAW – Anti Air Warfare,
decisões indispensáveis à substituição cação da necessidade e a aprovação dos ASUW – Anti Surface Warfare.
(7) Capacidades de fragata AAW de defesa de
de meios navais cujo núcleo data de fi- requisitos operacionais, são passados área.
nais da década de 60 e princípios de 70 à DN para desenvolvimento das fases (8) Destinados, respectivamente, a substituir o re-
do século passado, a Marinha viu-se for- subsequentes. abastecedor “Bérrio”, transferido da Marinha britâ-
çada a prolongar a vida útil de algumas Na DN, como no resto da Marinha, o nica e já com 34 anos de serviço, e os últimos patru-
lhas da classe Cacine, construídos entre 1969 e 1973
das suas classes de navios, com penali- factor humano tem um peso decisivo no para serviço em África.
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