Page 141 - Revista da Armada
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Fuzileiros de ontem,
Fuzileiros de sempre
em cedo, no passado A placa com as fotografias
5 de Março, a Escola foi descerrada pelo próprio
Bde Fuzileiros regista- 1TEN REF Pascoal Rodrigues,
va uma azáfama pouco habi- que contou com a presença
tual a um fim-de-semana. A dos restantes homenageados
sua parada ao redor do Mo- –, SAJ FZ João Santinhos e
numento ao Fuzileiro, en- SAJ FZ Ludgero Silva –, à
contrava-se salpicada por excepção do SAJ FZ Mário
homens à civil exibindo or- Claudino que já nos deixou,
gulhosamente a boina azul e foi representado pela viúva
ferrete coroada pela antiga Sr.ª D. Augusta Paulo.
âncora dourada. Não era O dia só terminaria com
para menos pois tratava-se o almoço convívio do DFE4
de homenagear os quatro onde, numa iniciativa da As-
militares que em 1960 foram sociação de Fuzileiros, foi con-
a Inglaterra frequentar o pri- cedido o Diploma de Sócio
meiro curso de Fuzileiros, e Honorário aos quatro home-
no ano seguinte haveriam de MAR M Santinhos, MAR M Silva, 2TEN Pascoal Rodrigues, MAR M Claudino – 1960. nageados do dia.
A propósito das efemérides
Os Fuzileiros da Era Moderna reiniciar o brilhante historial herdado do do dia, aqui se publica a primeira estrofe de
antigo Terço da Armada Real. O evento era um poema do SAJ FZ Ludgero Silva, mais co-
No seguimento dos actos de terror no Norte
de Angola, o Almirante Roboredo e Silva, com- completado pelo reencontro dos Fuzileiros nhecido pelo «Piçarra» pelo seu gosto verseja-
preendeu a necessidade de a Marinha dispor de pertencentes ao DFE4 – Angola 1963-1965 –, dor e fadista, com o título «Quatro Fuzos»:
uma força anfíbia, de forma a poder participar comandado pelo 1TEN Pascoal Rodrigues,
no esforço de guerra que se avizinhava. Assim 40 anos após o regresso da sua comissão. Quatro gotas de água caíram
nomeou os seguintes quatro militares para rei- Como é tradição foi descerrada uma pla- Nos mares dos Descobrimentos
niciar os fuzileiros:
2TEN Pascoal Rodrigues ca alusiva ao DFE4, onde se pode ler a frase: Se elevaram nos tempos, e saíram
MAR M Ludgero Silva «Um homem só morre quando os outros es- Nas histórias, nas praias, e nos ventos.
MAR M João Santinhos quecem», e colocada uma coroa de flores em
MAR M Mário Claudino memória daqueles que já partiram. Abel Melo e Sousa
São estes militares que seguem, em Agosto de CFR RES
1960, para Inglaterra para frequentarem o curso Do programa fazia parte a Missa, celebrada
«Command Course» no Centro de Formação dos por Frei Eugénio Paiva Boléo, Ex-Imediato do
Royal Marines, em Lympstone. Foram 13 semanas DFE4, merecendo realce um excerto do texto Pascoal Rodrigues,
de extrema dureza física que estes homens soube- de Albert Nolan – incluído em folheto distribu- o homem que sonhou
ram superar com distinção, indo ao ponto de o MAR ído durante a celebração – donde se lê: «…To-
Claudino obter o 1º lugar na marcha dos 60 Km. Na Alberto Manuel Barreto Pascoal Rodrigues, 68
classificação final os portugueses quedaram-se nos dos nós temos um instinto agressivo…Pode- anos, natural de Lisboa, casado, pai de três filhas,
dez primeiros lugares, entre 31 militares, onde se in- mos também usá-lo como fonte de energia e e gerente de um grupo de fazendas no Estado do
cluíam ingleses, portugueses e 1 americano. decisão para lutar contra o mal e o sofrimento Paraná no Brasil, onde reside.
Regressados a Portugal iniciam, no então Cor- no mundo, desenvolvendo um saudável sen- R.A. – Como é que sente este dia?
po de Marinheiros, a árdua tarefa de seleccionar e P.R. – Foi de facto uma surpresa, pela associa-
treinar os primeiros fuzileiros. É formada desta ma- timento de indignação em relação ao mal, ao ção da homenagem com o reencontro do DFE4.
neira o Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº1 pecado individual e colectivo…» Sinto ao mesmo tempo uma grande alegria por
que seguiria para Angola em Novembro de 1961, O ponto alto do dia passou pela significa- ter deixado qualquer coisa nestas paragens.
antecedendo as unidades de fuzileiros que em 14 tiva homenagem aos primeiros Fuzileiros do R.A. – Ainda se recorda do curso nos Royal
anos de guerra em África, envolveram cerca de século XX, como se depreende do discurso Marines em 1960?
12.500 homens. P.R. – Fisicamente foi violento, o que não foi
do CALM Vargas de Matos, Comandante do surpresa, mas no final sentia-me outro homem.
Corpo de Fuzileiros: Pessoalmente fiz tudo para o poder ir frequentar,
«… Assim este Museu pois sentia que havia uma lacuna nessa área.
dos Fuzileiros, espaço R.A. – E logo a seguir…
P.R. – O Almirante Roboredo chamou-me para
de cultura e abrigo de iniciar os fuzileiros, o que foi extremamente grati-
tantas das nossas me- ficante para mim. Começou-se do nada, pois não
mórias, ficará doravan- existiam instalações, nem doutrina, nem pessoal,
te um pouco mais rico. foi o desafio total.
R.A. – E que diz dos «fuzos» de hoje?
Vamos poder contar, a P.R. – Vim encontrar um Corpo de Fuzileiros
partir de hoje com uma como eu sonhava. Vim encontrar uma força de
moldura onde figuram elite com um notável espírito de corpo, moder-
as fotografias dos Pri- no e onde se respeita a história e as tradições,
meiros Fuzileiros que caminhando para o futuro sem esquecer as li-
ções do passado.
há 45 anos, vencendo R.A. – Quer deixar uma mensagem?
barreiras e desafios nos P.R. – Que tenham orgulho de serem fuzileiros,
apontaram pelo exem- e que esse facto possa ter sempre visibilidade.
SAJ FZ Santinhos, D. Augusta Paulo, SAJ FZ Silva, 1TEN REF Pascoal Rodrigues, plo o caminho a trilhar
CALM Vargas de Matos. no futuro.» Z
REVISTA DA ARMADA U ABRIL 2005 31