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Dia da Marinha
Mensagem do Almirante CEMA
Marinheiros culo XIX Ramalho Ortigão escrevia: Não tem outro remédio se não vir
à Figueira quem quer conhecer a mais linda praia de Portugal.
m ano passado, de novo nos encontramos a festejar o Dia da Não haja dúvida! A Figueira da Foz de há muito escolheu o caminho
Marinha, quinhentos e sete anos depois de Vasco da Gama do Mar. Um rumo quanto a nós certo e seguro, pois é uma garantia
Uter chegado a Calecute, marco significativo da Era dos Des- do desenvolvimento e da riqueza para os anos que se avizinham e
cobrimentos, peça fundamental de uma globalização para que só hoje que a coloca na vanguarda do ressurgimento de uma maritimidade
parece termos acordado, feito de homens que aprenderam a conhe- que se quer para Portugal e da implantação de uma estratégia nacio-
cer e a respeitar o mar, mas sinal claro da determinação de um povo nal também virada para os oceanos.
que sabia o que queria e que, para Em finais de 2006, a Marinha
ser grande, o seu futuro passaria receberá dos Estaleiros Navais de
sempre pelo mar. Viana do Castelo o seu segundo
Festeja-se o Dia da Marinha Foto 1SAR FZ Silva Navio Patrulha Oceânico. Como
como se festeja tudo o que nos é sinal de respeito e homenagem
querido, próximo e faz parte da por esta cidade da Figueira da Foz,
nossa família, mesmo que alarga- que ama o mar, que foi e é berço de
da. Festeja-se aquilo que queremos marinheiros e que respeita a Mari-
seja eterno, que tenha sucesso, que nha do seu País, estando sempre
seja útil à sociedade em que se in- pronta a com ela colaborar, esta
sere, tudo o que gostamos de par- segunda unidade naval, de um
tilhar com os nossos amigos, com conjunto de dez, receberá o nome
os que se revêem em nós. Por isso de “Figueira da Foz”.
é tão importante a escolha do local É o reconhecimento da Mari-
onde queremos que haja festa. nha pelo trabalho dos homens e
O convite para que o Dia da Ma- mulheres desta cidade cujo nome
rinha se realizasse na Figueira da percorrerá muitos mares tornando
Foz estava de há muito feito, mas assim ainda maior um nome, que
teve que esperar por 2005. Agra- tão pequeno foi, e que a tão gran-
deço pois a iniciativa do convi- de já soube chegar.
te ao seu Presidente da Câmara, A Figueira sabe que os seus
como agradeço às gentes desta filhos sempre puderam contar
linda cidade o tempo que espera- com a Marinha, nas boas e más
ram, todo o seu envolvimento e a horas. A Marinha sabe bem que
forma como têm aderido à festa. terá sempre na Figueira um por-
Mas outra coisa não seria de espe- to de abrigo.
rar. A Figueira nasceu por causa do Militares, Militarizados e Civis
seu belo Mondego, mas também da Marinha
por ser aqui que ele se encontra A comemoração do Dia da
com o mar. Marinha é também um dever. O
De diminuto lugar no Séc. XII, dever de apresentarmos contas
era já no século XV uma destacada da missão àqueles que no-la atri-
povoação piscatória, em 1751 uma buíram: os Portugueses, perante
vila em constante desenvolvimento e cidade em 1882. De simples pon- quem nos perfilamos, pois são aqueles a quem no dia a dia servimos
to de passagem na foz do Mondego, a Figueira, ao longo dos tempos no cumprimento de tantas e tão diversificadas missões.
tornou-se um importante porto em torno do qual confluem o comér- A missão da Marinha é enorme. São páginas de documentos oficiais
cio, a pesca, a construção naval e o turismo. Não é assim de estranhar onde a missão, ou melhor, as missões da Marinha, aparecem descri-
que a Marinha esteja presente nesta cidade, através da sua Capitania, tas. Mais páginas surgem para descrever as tarefas em que se desdo-
há mais de século e meio, precisamente desde 1839. bram. Mas tudo pode ser tornado mais simples, se se disser apenas
Figueira da Foz, berço de gente notável e terra de adopção de ilus- que a Missão da Marinha é estar no mar.
tres marinheiros como o Vice-almirante Francisco Pereira da Silva e Estar no mar em apoio à política externa de Portugal. Estar no mar
seu filho o Comandante Artur Baldaque da Silva. actuando no âmbito da defesa militar. Estar no mar fazendo exercer
Figueira da Foz, que se notabilizou na pesca do bacalhau e cujos a autoridade do Estado. Estar no mar fazendo investigação científica,
lugres participavam na “White Fleet”. Figueira, cujos estaleiros na- e apoiando o desenvolvimento económico e cultural.
vais começaram em 1956 a construir para a Marinha – a primeira Ao estar firme na defesa, a Marinha desempenha um papel re-
unidade foi o patrulha “ Boavista” - sendo hoje em dia a sua cons- levante na segurança, e é também um agente mobilizador da eco-
trução em alumínio uma referência a nível europeu. Das mais de 70 nomia do mar.
unidades construídas encontram-se ainda ao serviço os Patrulhas É uma singularidade do nosso País, que soube encontrar o mo-
Quanza e Zaire e as lanchas de fiscalização Pégaso e Sagitário, dos delo adequado à sua dimensão, à sua constituição arquipelágica, e
quais temos hoje aqui presente o Zaire, em honra à terra onde nas- aos seus recursos. Nem sempre assim é, assistindo-se tantas vezes
ceu e foi baptizado. à tentação de copiar modelos importados, que nada têm a ver com
Figueira da Foz do turismo, mas não só de hoje. Já nos finais do Sé- a tradição, com a cultura, com a realidade.
4 JUNHO 2005 U REVISTA DA ARMADA