Page 187 - Revista da Armada
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Felizmente neste caso, ao atribuir-se ao Chefe do Estado-Maior da  sões específicas e de serviço público. Após o regresso de Timor -Leste,
         Armada as competências de Autoridade Marítima Nacional, encon-  em Junho de 2004, os Fuzileiros continuam prontos para ser utiliza-
         trou-se uma boa solução, e são outros países que pretendem importar  dos pelo Estado em missões externas que aconselhem ou recomen-
         o modelo português – uma Marinha de duplo uso – atribuindo-lhe  dem o seu emprego.
         para além das tradicionais tarefas das marinhas militares, também as   A Autoridade Marítima é exercida nas respectivas áreas de respon-
         que são desempenhadas em países de outra dimensão, e com outros  sabilidade, 24 horas por dia, apesar dos curtos efectivos da Polícia Ma-
         recursos, pelas respectivas Guardas Costeiras.       rítima não terem acompanhado o crescimento exponencial das áreas
           As Marinhas não são baratas. Portugal quer, mas além disso tam-  de actividade comercial e de recreio, onde muito especificamente a
         bém seria sempre obrigado a ter, uma Marinha oceânica, factor indis-  sua presença mais deve incidir. A título de exemplo, cito alguns nú-
         sociável de qualquer relevância que se pretenda ter na cena interna-  meros que, a par das outras componentes da autoridade marítima,
         cional. Portugal não pode é ter duas Marinhas, concorrendo entre si  traduzem a sua actividade em 2004:
         na disputa dos escassos recursos disponíveis.         - mais de 22 000 vistorias a embarcações, 1 400 vistorias no Domí-
           Disse há pouco que a Marinha deve estar no mar.    nio Público Marítimo e 14 000 despachos de largada;
           E a Marinha tem estado no mar, tanto quanto os meios existentes o   - 41 780 acções de fiscalização, incluindo as acções de repressão
         permitem. Em missões internacionais, integrando regularmente for-  a crimes violentos de que resultaram mais de 13 490 processos le-
         ças da NATO e da EUROMARFOR, de que destaco, respectivamen-  vantados;
         te, a participação nas                                                                  - 21 acções de com-
         operações reais “Active                                                               bate à poluição co-
         Endeavour”, no Medi-  Foto 1SAR FZ Silva                                              ordenadas ou execu-
         terrâneo, e a Operação                                                                tadas;
         “Resolute Behaviour”,                                                                   - 1 145 acções de
         no Mar Vermelho e                                                                     salvamento, de que
         Golfo de Adem.                                                                        resultaram 698 pes-
           A Marinha continua                                                                  soas salvas ao longo
         a apoiar a Polícia Ju-                                                                das costas do conti-
         diciária e o Serviço de                                                               nente, dos Açores e
         Estrangeiros e Fron-                                                                  da Madeira.
         teiras em todas as ope-                                                                 Há pouco mais de
         rações que envolvam                                                                   um mês o País teve
         meios navais (de que                                                                  oportunidade de ver
         é apenas um exem-                                                                     funcionar, de forma
         plo a Operação GUA-                                                                   bem coordenada e in-
         NARTEME, ao largo                                                                     tegrada, as duas com-
         das Ilhas Canárias, no                                                                ponentes operacionais
         âmbito da União Eu-                                                                   da Marinha no exercí-
         ropeia e da vigilância                                                                cio da Iniciativa para
         das suas fronteiras ex-                                                               a Segurança contra a
         teriores), e exerce diariamente a fiscalização da pesca na extensa ZEE  Proliferação de Armas de Destruição Massiva (PSI), que se desen-
         portuguesa, 18 vezes superior em área ao território continental. Tem  rolou ao largo da costa portuguesa.
         dia e noite navios disponíveis, a navegar ou prontos a responder em   A Marinha orgulha-se da forma harmoniosa e fluida como traba-
         menos de 2 horas, no continente, Açores e Madeira, em apoio à bus-  lham as suas vertentes militar e da Autoridade Marítima, como tam-
         ca e salvamento, cuja área de responsabilidade é 58 vezes superior à  bém se orgulha da sua capacidade para operar conjuntamente com
         sua área territorial.                                as outras componentes militares, com as forças de segurança ou com
           Está no mar em apoio à cartografia náutica e à segurança da na-  outros serviços do Estado, em ambiente nacional ou internacional.
         vegação. Disso são prova, em sintonia com as comemorações do Dia   Constitui ainda motivo de orgulho da Marinha poder continuar a
         da Marinha, a publicação de nova edição da carta náutica oficial da  afirmar que a força naval está pronta para zarpar do Tejo em 48 ho-
         Figueira da Foz e do volume “Rio Minho ao Cabo Carvoeiro”, do Ro-  ras, para a guerra ou para a paz. É um orgulho que resulta do traba-
         teiro da Costa de Portugal, o qual, naturalmente, inclui este porto.         lho de todos, militares, militarizados e civis e que o Comandante da
           E, para além de todos os trabalhos que faz no mar em apoio à comu-  Marinha quer com todos partilhar.
         nidade científica nacional, iniciou, em Janeiro deste ano, um enorme   Iniciei as minhas palavras falando de novos meios navais que co-
         trabalho de apoio à Estrutura de Missão para a Extensão da Platafor-  meçariam a aparecer em 2006. É sinal que a Marinha se está a renovar,
         ma Continental, no sentido de que Portugal disponha dos elementos  o que é bom. A renovação deveria ser um estado permanente. Mes-
         necessários que permitam, onde tal for possível, a proposta da sua  mo numa Marinha pequena como a de Portugal, já obrigaria a um
         extensão das 200 até às 350 milhas.                  esforço de investimento significativo em cada ano, se a renovação se
           Os números de 2004 que traduzem esta presença no mar falam  fosse fazendo sempre de forma faseada e gradual, tantas e tão diver-
         por si:                                              sificadas são as suas vertentes. Mas quando se têm que compensar
           - 5460 dias de missão atribuída;                   largos períodos de desinvestimento (e refiro-me a períodos de mais
           - 47 775 horas de navegação, o que corresponde a mais de 5 na-  de uma década, cada um) as soluções nunca são as desejáveis, são as
         vios no mar, 24 sobre 24 horas, a navegar;           possíveis e aceitáveis.
           - 4000 embarcações vistoriadas no mar territorial e zona econó-  Consciente desta realidade a Marinha, com sentido de Estado, com-
         mica exclusiva;                                      preendeu e reconheceu que a componente naval do novo Sistema de
           - 663 acções de busca e salvamento no mar, que conduziram ao  Forças Nacional tivesse que ficar, temporariamente, reduzida em al-
         salvamento de 359 pessoas nas áreas de responsabilidade interna-  gumas unidades, como até sugeriu que a substituição dos meios de al-
         cional de Lisboa e de Santa Maria.                   gumas capacidades, designadamente os mais dispendiosos, se fizesse
           É muito. Parece muito. Mas a Marinha reconhece que ainda deve-  com recurso a unidades disponibilizadas por outras Marinhas. Mes-
         ria estar mais presente. Mas não pode. Há erros do passado que não  mo assim, a componente essencialmente militar da esquadra só estará
         têm fácil emenda, mesmo que os recursos financeiros fossem abun-  completamente edificada em 2010 e a não combatente em 2015.
         dantes, o que não é o caso.                           Ainda faltam muitos anos. Por isso é tão importante que se cumpra
           Fuzileiros e Mergulhadores são diariamente empregues em mis-  este planeamento, já de recurso, e não se voltem a cometer os erros do
                                                                                        REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2005  5
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