Page 189 - Revista da Armada
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Assim, a todos os cidadãos que assumiram a condição militar, é ga- Senhor Ministro da Defesa Nacional
rantida, simultaneamente, uma formação útil e adequada ao exercício Tudo que acaba de ser dito é revelador de uma Marinha viva, compos-
de actividades profissionais de natureza civil, de forma a assegurar- ta por homens e mulheres, militares, militarizados ou civis, que acredi-
-lhes uma mais fácil integração no tecido económico e social, quando tam num futuro melhor para a Marinha e para si próprios. É uma Mari-
deixarem o serviço, conduzindo, pois, a uma maior realização pro- nha que se sabe transformar. É uma Marinha que tem ESPERANÇA.
fissional. A Marinha tem consciência que se insere num sistema que É uma Marinha em que todos se revêem, onde a componente cultu-
é aberto, e extremamente competitivo. ral não é esquecida, onde os mais velhos continuam a ter lugar e que,
A Marinha tem, também, desde sempre, dedicado especial atenção simultaneamente, continua a conseguir atrair os mais jovens.
ao ensino superior, no sentido de conferir aos seus cadetes a adequada É a Marinha de todos, mas onde o presente não pode ser descurado
formação técnico-naval, militar e marinheira, assim como a formação para melhor preparar o futuro. Por isso tanto ênfase coloco na prepa-
humanista e científica de base, por forma a que os futuros oficiais da ração dos recursos humanos, e na sua formação ao longo da carreira.
Marinha possam satisfazer os elevados padrões fixados para o exi- Orgulhamo-nos da qualidade dos nossos homens e mulheres mas para
gente desempenho inerente às funções do comando, direcção, chefia isso, privilegia-se a exigência e premeia-se o mérito. É uma Marinha que
ou estado-maior, as quais são hoje exercidas nos mais diversos, com- se constrói com DETERMINAÇÃO.
plexos e exigentes ambientes nacionais ou internacionais. Mas, se em qualquer profissão, é desejável que a motivação esteja
No ano que decorreu, novamente se reformularam os “curricula” sempre presente, na de militar e marinheiro ela não faz sentido sem
da Escola Naval. Esta reforma resul- esse sentimento. É duro andar no
tou da percepção da necessidade de mar. É importante gostar, mas ajuda
acompanhar a evolução tecnológica, Foto 1SAR FZ Silva saber-se que o trabalho é reconhe-
social e política do país e do mundo, cido pelo País. Por isso são difíceis
e de eliminar as contradições que de entender anos de alheamentos
subsistiam com as linhas de acção relativamente a aspectos que têm
da Declaração de Bolonha. Esta nova a ver com a vida de cada um, que
reformulação colocou a Escola Na- tão importantes são para cada ho-
val num grupo de estabelecimentos mem e mulher, sem os quais nada
de ensino superior pioneiros de um do que hoje somos, se teria conse-
processo que muito irá marcar a vida guido construir.
académica nacional num futuro pró- A área do pessoal é das mais de-
ximo, e de que a Marinha se orgulha licadas e difíceis, e por isso requer
de ter entendido em tempo útil. especial sensibilidade, e profundo
A Marinha continua, assim, a as- conhecimento. Muitos dos aspectos
sumir-se como uma organização ligados à motivação, ao alcance da
criadora de oportunidades de for- Marinha, estão a ser devidamente
mação, de desenvolvimento pes soal tratados no âmbito de uma Direc-
e de progresso, para aqueles que tiva Sectorial dos Recursos Huma-
nela servem o país, e que conserva nos. Mas todos os que têm a ver
uma cultura muito forte de respeito com estatutos, quadros, carreiras e
pelas pessoas, colocando-as sempre progressões, ultrapassam o Ramo,
em primeiro lugar. e não podem continuar esquecidos.
No domínio dos conceitos, don- E algumas questões quase nem en-
de deve emanar a doutrina, base de volvem verbas. Requerem apenas
actuação que se pretende institucio- sensibilidade.
nalmente conhecida, para que por A Instituição Militar tem por certo
todos possam os princípios ser mais que quem a tutela ou comanda, tam-
facilmente seguidos e praticados, bém a representa na resolução dos
embora sem limitação do pensamen- seus problemas. Por isso, esta é uma
to, será formalmente publicado, com Marinha que tem CONFIANÇA.
a data de hoje, todo um conjunto de documentação estruturante, a Agora, que Portugal voltou a acordar para sua maritimidade, que
nível exclusivamente naval. se dispõe das recomendações produzidas pela Comissão Estratégica
A Marinha ficará assim a dispor, a partir de hoje, e após concordân- dos Oceanos para potenciar as riquezas dos seus mares, que se suce-
cia do Conselho do Almirantado, de uma Directiva da Documentação dem conferências, colóquios e seminários para estudar aspectos do
Estruturante da Estratégia Naval, de um Conceito Estratégico Naval e, desenvolvimento nacional sustentável em torno do mar, que existe a
no âmbito da Doutrina Estratégica Naval, de uma Directiva Genética. clara intenção de articular todas as entidades com responsabilidades
Logo que terminadas serão publicadas, no mesmo âmbito, as Directi- nos assuntos do Mar, é tempo de mostrar que afinal Portugal também
vas Estrutural e Operacional. Com estes princípios, mais claros, tornar- gosta de gostar. Porque tem razões para acreditar que o Mar voltará
-se-ão mais simples as futuras Directivas de Política Naval, a publicar a ser seu desígnio, a sua Marinha um vector de segurança e desen-
por cada Chefe de Estado-Maior no início do seu mandato. volvimento nacional, os seus homens e mulheres de novo o orgulho
Mas há áreas onde a Marinha não consegue chegar sozinha, por dos seus maiores.
envolverem, não só investimentos significativos, como também altera-
ções ao seu regime de funcionamento. É o caso do Arsenal do Alfeite, Senhor Ministro da Defesa Nacional
cuja reestruturação vem sendo sucessivamente adiada. As Marinhas A Marinha é de todos, mas está unida. Fala a uma só voz, mas é
não vivem sem arsenais. Todas os têm, pois são o garante da opera- solidária nas decisões. Soube renovar-se por iniciativa própria, e co-
cionalidade das esquadras, que pela singularidade das suas armas, laborou sempre nas soluções possíveis para a sua modernização. Está
sensores, e sistemas integrados, não encontram resposta nos estaleiros motivada, e quer continuar a gostar do que faz.
civis. Para que não se ultrapasse a linha de não retorno, e porque não
é possível administrar racionalmente uma unidade fabril deste tipo A Marinha continua pronta a servir Portugal no MAR.
com base numa leitura estrita das regras da Administração Pública, Z
é importante que a reestruturação, e consequente recuperação do Ar- Francisco António Torres Vidal Abreu
senal do Alfeite, sejam consideradas uma prioridade. Almirante
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2005 7