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Assim, a todos os  cidadãos que assumiram a condição militar, é ga-  Senhor Ministro da Defesa Nacional
         rantida, simultaneamente, uma formação útil e adequada ao exercício   Tudo que acaba de ser dito é revelador de uma Marinha viva, compos-
         de actividades profissionais de natureza civil, de forma a assegurar-  ta por homens e mulheres, militares, militarizados ou civis, que acredi-
         -lhes uma mais fácil integração no tecido económico e social, quando   tam num futuro melhor para a Marinha e para si próprios. É uma Mari-
         deixarem o serviço, conduzindo, pois, a uma maior realização pro-  nha que se sabe transformar. É uma Marinha que tem ESPERANÇA.
         fissional. A Marinha tem consciência que se insere num sistema que   É uma Marinha em que todos se revêem, onde a componente cultu-
         é aberto, e extremamente competitivo.                ral não é esquecida, onde os mais velhos continuam a ter lugar e que,
           A Marinha tem, também, desde sempre, dedicado especial atenção   simultaneamente, continua a conseguir atrair os mais jovens.
         ao ensino superior, no sentido de conferir aos seus cadetes a adequada   É a Marinha de todos, mas onde o presente não pode ser descurado
         formação técnico-naval, militar e marinheira, assim como a formação   para melhor preparar o futuro. Por isso tanto ênfase coloco na prepa-
         humanista e científica de base, por forma a que os futuros oficiais da   ração dos recursos humanos, e na sua formação ao longo da carreira.
         Marinha possam satisfazer os elevados padrões fixados para o exi-  Orgulhamo-nos da qualidade dos nossos homens e mulheres mas para
         gente desempenho inerente às funções do comando, direcção, chefia   isso, privilegia-se a exigência e premeia-se o mérito. É uma Marinha que
         ou estado-maior, as quais são hoje exercidas nos mais diversos, com-  se constrói com DETERMINAÇÃO.
         plexos e exigentes ambientes nacionais ou internacionais.   Mas, se em qualquer profissão, é desejável que a motivação esteja
           No ano que decorreu, novamente se reformularam os “curricula”   sempre presente, na de militar e marinheiro ela não faz sentido sem
         da Escola Naval. Esta reforma resul-                                         esse sentimento. É duro andar no
         tou da percepção da necessidade de                                           mar. É importante gostar, mas ajuda
         acompanhar a evolução tecnológica,  Foto 1SAR FZ Silva                       saber-se que o trabalho é reconhe-
         social e política do país e do mundo,                                        cido pelo País. Por isso são difíceis
         e de eliminar as contradições que                                            de entender anos de alheamentos
         subsistiam com as linhas de acção                                            relativamente a aspectos que têm
         da Declaração de Bolonha. Esta nova                                          a ver com a vida de cada um, que
         reformulação colocou a Escola Na-                                            tão importantes são para cada ho-
         val num grupo de estabelecimentos                                            mem e mulher, sem os quais nada
         de ensino superior pioneiros de um                                           do que hoje somos, se teria conse-
         processo que muito irá marcar a vida                                         guido construir.
         académica nacional num futuro pró-                                            A área do pessoal é das mais de-
         ximo, e de que a Marinha se orgulha                                          licadas e difíceis, e por isso requer
         de ter entendido em tempo útil.                                              especial sensibilidade, e profundo
           A Marinha continua, assim, a as-                                           conhecimento. Muitos dos aspectos
         sumir-se como uma organização                                                ligados à motivação, ao alcance da
         criadora de oportunidades de for-                                            Marinha, estão a ser devidamente
         mação, de desenvolvimento pes soal                                           tratados no âmbito de uma Direc-
         e de progresso, para aqueles que                                             tiva Sectorial dos Recursos Huma-
         nela servem o país, e que conserva                                           nos. Mas todos os que têm a ver
         uma cultura muito forte de respeito                                          com estatutos, quadros, carreiras e
         pelas pessoas, colocando-as sempre                                           progressões, ultrapassam o Ramo,
         em primeiro lugar.                                                           e não podem continuar esquecidos.
           No domínio dos conceitos, don-                                             E algumas questões quase nem en-
         de deve emanar a doutrina, base de                                           volvem verbas. Requerem apenas
         actuação que se pretende institucio-                                         sensibilidade.
         nalmente conhecida, para que por                                              A Instituição Militar tem por certo
         todos possam os princípios ser mais                                          que quem a tutela ou comanda, tam-
         facilmente seguidos e praticados,                                            bém a representa na resolução dos
         embora sem limitação do pensamen-                                            seus problemas. Por isso, esta é uma
         to, será formalmente publicado, com                                          Marinha que tem CONFIANÇA.
         a data de hoje, todo um conjunto de documentação estruturante, a   Agora, que Portugal voltou a acordar para sua maritimidade, que
         nível exclusivamente naval.                          se dispõe das recomendações produzidas pela Comissão Estratégica
           A Marinha ficará assim a dispor, a partir de hoje, e após concordân-  dos Oceanos para potenciar as riquezas dos seus mares, que se suce-
         cia do Conselho do Almirantado, de uma Directiva da Documentação   dem conferências, colóquios e seminários para estudar aspectos do
         Estruturante da Estratégia Naval, de um Conceito Estratégico Naval e,   desenvolvimento nacional sustentável em torno do mar, que existe a
         no âmbito da Doutrina Estratégica Naval, de uma Directiva Genética.   clara intenção de articular todas as entidades com responsabilidades
         Logo que terminadas serão publicadas, no mesmo âmbito, as Directi-  nos assuntos do Mar, é tempo de mostrar que afinal Portugal também
         vas Estrutural e Operacional. Com estes princípios, mais claros, tornar-  gosta de gostar. Porque tem razões para acreditar que o Mar voltará
         -se-ão mais simples as futuras Directivas de Política Naval, a publicar   a ser seu desígnio, a sua Marinha um vector de segurança e desen-
         por cada Chefe de Estado-Maior no início do seu mandato.  volvimento nacional, os seus homens e mulheres de novo o orgulho
           Mas há áreas onde a Marinha não consegue chegar sozinha, por   dos seus maiores.
         envolverem, não só investimentos significativos, como também altera-
         ções ao seu regime de funcionamento. É o caso do Arsenal do Alfeite,   Senhor Ministro da Defesa Nacional
         cuja reestruturação vem sendo sucessivamente adiada. As Marinhas   A Marinha é de todos, mas está unida. Fala a uma só voz, mas é
         não vivem sem arsenais. Todas os têm, pois são o garante da opera-  solidária nas decisões. Soube renovar-se por iniciativa própria, e co-
         cionalidade das esquadras, que pela singularidade das suas armas,   laborou sempre nas soluções possíveis para a sua modernização. Está
         sensores, e sistemas integrados, não encontram resposta nos estaleiros   motivada, e quer continuar a gostar do que faz.
         civis. Para que não se ultrapasse a linha de não retorno, e porque não
         é possível administrar racionalmente uma unidade fabril deste tipo   A Marinha continua pronta a servir Portugal no MAR.
         com base numa leitura estrita das regras da Administração Pública,                                    Z
         é importante que a reestruturação, e consequente recuperação do Ar-        Francisco António Torres Vidal Abreu
         senal do Alfeite, sejam consideradas uma prioridade.                                             Almirante
                                                                                        REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2005  7
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