Page 302 - Revista da Armada
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VIAGENS DE INSTRUÇÃO
iz-se a bordo que um velho marinhei- bem representativo da dimensão e da abran- As viagens envolveram alunos com uma
ro ouviu o diabo descrever as agru- gência desta tarefa. diversidade de conhecimentos e experiên-
Dras do inferno e respondeu: “a gente Deve salientar-se ainda que devem ter uma cias bastante significativa, levando a que cada
habitua-se a tudo”. Depois de ter andado no dimensão alargada, com um percurso que, viagem tenha as características adequadas à
mar, uma pessoa habitua-se a tudo, quereria normalmente, passa por portos estrangeiros, formação que se pretende dar nesta fase do
ele dizer. Talvez seja verdade. Mas não há dú- constituindo um factor de motivação acresci- respectivo curso. Os alunos do 1º ano e os
vida que ninguém está perfeitamente adapta- da para todo o pessoal, com uma importância cadetes dos cursos de Médicos Navais ape-
do à vida no mar sem ter passado uns tem- bastante grande para a Marinha e para o país. nas tiveram um primeiro contacto com o mar,
pos a bordo de um navio, sujeito às agruras Quando um navio português atraca num por- onde puderam aperceber-se do que é viver a
próprias do ambiente bordo durante algum
adverso. Para uns será NRP VIAGEM DE INSTRUÇÃO PERÍODO PAÍSES tempo, mas sem gran-
mais fácil que para ou- des exigências de natu-
tros, mas todos sentem S. CABRAL 1º ANO E.N. 18JUL - 29JUL PO reza técnica. O 2º ano
os problemas de viver A. ENES teve a sua grande prova
em espaço apertado, de mar na Sagres, com
condicionado pelo ba- SAGRES * 2º ANO E.N. 17JUN - 28AGO UK, NO, GE, NL uma viagem de cerca
lanço, e pela necessi- de dois meses e meio
dade de partilhar quase B. ANDRADE pelo Mar do Norte. O
tudo o que habitual- J. COUTINHO 3º ANO E.N. 20JUN - 31JUL PO, SP, MA 3º ano efectuou uma
mente é privado. Não viagem de pouco mais
há nada que se faça A.CABRAL 4º ANO E.N. 27MAI - 19JUL PO, SP, UK, GE, RU, de um mês – na área do
a bordo que não aca- J. BELO DK Continente, Açores e
be por interferir com Canárias – com a visita
a vida do camarada do lado, exigindo-se de to estrangeiro, apresenta-se como um peda- a dois portos estrangeiros, uma missão de SAR
todos um sentido de grupo, de colaboração, ço do território nacional que cativa a atenção e vários exercícios. O 4º ano tem uma viagem
de tolerância e solidariedade que dificilmen- das gentes e afirma o prestígio de Portugal. As com características específicas, virada para o
te terá paralelo na vida quotidiana em terra. guarnições sentem-no muito bem, e encaram desempenho táctico dos alunos, com variadís-
É por isso que comparamos a guarnição de estas viagens como uma missão especial, que simos exercícios e com uma maior integração
um navio a uma grande família. Poderá haver desperta outro tipo de curiosidade e quebra a dos alunos nos departamentos de bordo, no
quem não se recorde bem de quem prestou rotina de um ano operacional. A missão tem desempenho das diferentes tarefas. Mas fale-
serviço consigo numa unidade em terra, mas outras exigências. É verdade que a vida a bor- mos então de cada uma destas viagens, ten-
ninguém esquece os camaradas com quem do fica dificultada pelo aumento do número tando perceber melhor qual foi o desempe-
esteve embarcado. nho de cada curso e a missão dos
Mas este fenómeno e esta for- navios em cada uma delas.
ma especial de viver – como dizia
eu – exigem adaptação e treino. A CADETES MÉDICOS NAVAIS
guarnição de um navio é – antes Os cadetes Médicos Navais (ex-
de tudo o mais – uma equipa es- cepção para os alunos do 2º ano)
truturada, com uma linha de co- embarcaram no NRP “João Roby”,
mando e com tarefas muito claras durante o período de 4 a 10 de
para todos e em todas as circuns- Agosto último, efectuando uma
tâncias. Por isso mesmo, não é curta viagem na costa portugue-
concebível preparar, seja quem sa, que constituiu a sua primei-
for, para desempenhar funções a ra experiência da vida a bordo.
bordo, sem cuidar da adaptação Naturalmente trata-se de um
à vida do mar. E essa necessidade embarque específico, onde se
de adaptação é acrescida, se es- pretendeu apenas a sensibiliza-
tamos a falar dos futuros oficiais. ção dos alunos para os aspectos
Por isso as viagens de instrução mais importantes de funciona-
dos cursos da Escola Naval as- NRP “João Roby”. mento de um navio a navegar, e
sumem uma particular importância, empe- do pessoal, mas tudo isso é compensado pela para questões específicas do funcionamento
nhando meios que configuram um esforço possibilidade de ir a outras paragens e cum- do Serviço de Saúde nessas condições. O Di-
específico de toda a Marinha para a forma- prir, no fundo, a essência da própria Marinha, rector de Instrução foi o 1º Te nen te MN João
ção dos seus cadetes. Este ano, participaram com o carácter cosmopolita que desde sem- Nuno da Silva, que se encarregou das aulas
neste tipo de missões, oito navios, o que é pre lhe esteve associado. necessárias, abrangendo assuntos relacio-
12 SETEMBRO/OUTUBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA