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Alocução do Almirante CEMA
                        Alocução do Almirante CEMA


           Marinheiros,                                        A vontade dos fuzileiros nunca esmorece, a da Marinha tam-
                                                              bém não, mas continuam a ser difíceis de entender as razões da
           Esta será a última vez que presido à cerimónia de Abertura do  sua não utilização em teatros externos, no cumprimento de mis-
         Ano Operacional da Marinha. Pretendo, pois, aproveitar esta opor-  sões de paz, ou outras.
         tunidade, para deixar bem marcadas as mensagens que tenho para   Os mergulhadores são outro elemento do Sistema de Forças Na-
         vos transmitir sobre esta matéria, a praticamente um mês de ter-  cional, progressivamente mais apto e profissionalmente capaz, a
         minar o meu mandato.                                 par dos seus congéneres das Marinhas mais desenvolvidas e cuja
           As palavras proferidas há pouco pelo VALM Comandante Naval  utilização integrada no todo das valências da Marinha é matéria
         facilitam-me o meu discurso pois, na sua extensão, são bem cla-  de que também me orgulho.
         ras na afirmação do quanto se fez, do como se fez, em que par-  É por tudo isto que nunca deixo de realçar o gosto com que afir-
         cerias, onde e porquê.                                                                mo que a Componente
         E fez-se muito mais e                                                                 Naval da Força de Re-
         melhor.                                                                              Foto Júlio Tito  acção Imediata com
           É pois com enorme                                                                   Fragatas e Corvetas,
         orgulho que vos afir-                                                                  Submarino e Reabaste-
         mo ter comandado                                                                      cedor, Fuzileiros e Mer-
         durante mais um ano a                                                                 gulhadores está pronta
         Marinha Portuguesa.                                                                   a zarpar da barra do
           Porque ela é cons-                                                                  Tejo em menos de 48
         tituída por excelentes                                                                horas, numa demons-
         profissionais, de uma                                                                  tração clara de capa-
         dedicação sem par,                                                                    cidade, profissionalis-
         com um profundo es-                                                                   mo, determinação, de
         pírito de missão, que                                                                 efectiva prontidão e de
         não regateiam esfor-                                                                  que todo o orçamento
         ços para ter os meios                                                                 da Marinha tem por fim
         operacionais, disponí-                                                                último e claro o produ-
         veis, prontos para sair                                                               to operacional. Quan-
         para o mar para cum-                                                                  tas Marinhas com os
         prir as suas tarefas de                                                               mesmos meios e recur-
         uma forma cada vez                                                                    sos seriam capazes de
         mais competente.                                     afirmar o mesmo? Poucas ou nenhumas certamente.
           Quando a Marinha opera meios modernos e actuais como as   O país acompanhou, ao longo dos anos mais recentes, a apro-
         Fragatas da classe “Vasco da Gama” com os seus helicópteros orgâ-  vação, pelos órgãos de soberania e entidades competentes (Go-
         nicos, mostra sempre ser tão boa como as mais poderosas, mesmo  verno, CSDN ou mesmo AR), do conjunto de documentação es-
         capaz de fazer melhor, deixando claro que a sua grande riqueza  tratégica de Defesa Nacional que nos indica o rumo a seguir, que
         continua a ser o factor humano e toda a organização que paulati-  nível de ambição devemos ter, quais as missões que temos para
         namente foi montada no sentido de lhe dar o ensino de qualidade,  cumprir, com que meios, e quando e como estes deverão ser edi-
         a formação adequada, o adestramento específico e o treino para  ficados e levantados.
         a operação singular, combinada e conjunta.            A conjuntura que vivemos não é fácil, reconheço-o, pode e
           Quando opera meios no limite da sustentabilidade, como é o caso  deve obrigar a reflectir, mas é boa regra que ela nunca possa pôr
         das Fragatas da classe “Cte. João Belo”, dos Submarinos, do Rea-  em causa as referências estratégicas que nos norteiam, sob pena
         bastecedor de Esquadra, das Corvetas e dos Patrulhas Costeiros é de  de se deixar de saber para onde vamos ou para onde se quer ir.
         novo o brio, a dedicação e a competência dos homens e mulheres   E este Portugal Atlântico, porta do Mediterrâneo, de constituição
         da Marinha que fazem os milagres que noutros países da Europa  arquipelágica, há muito que teve a lucidez de entender que a sua
         Ocidental, onde nos inserimos, nunca precisam de acontecer.   força advém da sua dimensão oceânica e nunca apenas e só da
           É pois com grande orgulho, repito, que saúdo todos os que pres-  Europa, onde desde a sua criação sempre esteve inserido, o que o
         tam serviço em Unidades Navais pelo seu dever de consciência  obrigou a largas singraduras.
         nacional, pelo seu enorme sentido de missão, como é também   Em vésperas de assistir ao abate de mais uma Fragata, e de po-
         de inegável dever de justiça, aqui saudar toda a área logística do  der ficar reduzida a apenas três muito antes do final da década, a
         material pela sua competência e dedicação, o que tem possibili-  Marinha não quer acreditar que o caminho, a prazo, seja o desapa-
         tado a operação de todos os meios em condições de plena explo-  recimento da sua capacidade oceânica, cada vez mais necessária
         ração das suas capacidades e em total segurança para as respec-  para, em colaboração com aliados e amigos, combater as amea-
         tivas guarnições.                                    ças à segurança de pessoas e bens que se multiplicam em todos
           Trata-se de um ponto de honra da Marinha Portuguesa e disso  os mares e oceanos.
         darei prova ao embarcar na próxima segunda-feira no Submarino   Por isso a Marinha continua a aguardar, com serenidade, que seja
         Delfim, em vésperas do seu abate ao fim de 36 anos de actividade  tomada a decisão que permita concretizar a substituição das fragatas
         consecutiva, 11 anos para além dos 25 inicialmente previstos.  da classe “Cte. João Belo”, através da única solução possível, a da
           Os fuzileiros continuam a ser a força de elite de que a Marinha  aceitação de uma oferta irrecusável, não só pelas condições, mas
         sempre se orgulhou, cada vez mais capaz, mais integrada na rela-  por ser irrepetível.
         ção com os navios, e a que só falta de significativo as viaturas de   A Marinha terá dificuldades em entender outra solução. Até por-
         desembarque anfíbio e a capacidade própria de projecção que lhe  que a História de Portugal não a merece, a Geografia não a acon-
         será dada pelo Navio Polivalente Logístico.          selha e a globalização do terrorismo não a permite.
                                                                                     REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2005  5
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