Page 331 - Revista da Armada
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Alocução do Almirante CEMA
Alocução do Almirante CEMA
Marinheiros, A vontade dos fuzileiros nunca esmorece, a da Marinha tam-
bém não, mas continuam a ser difíceis de entender as razões da
Esta será a última vez que presido à cerimónia de Abertura do sua não utilização em teatros externos, no cumprimento de mis-
Ano Operacional da Marinha. Pretendo, pois, aproveitar esta opor- sões de paz, ou outras.
tunidade, para deixar bem marcadas as mensagens que tenho para Os mergulhadores são outro elemento do Sistema de Forças Na-
vos transmitir sobre esta matéria, a praticamente um mês de ter- cional, progressivamente mais apto e profissionalmente capaz, a
minar o meu mandato. par dos seus congéneres das Marinhas mais desenvolvidas e cuja
As palavras proferidas há pouco pelo VALM Comandante Naval utilização integrada no todo das valências da Marinha é matéria
facilitam-me o meu discurso pois, na sua extensão, são bem cla- de que também me orgulho.
ras na afirmação do quanto se fez, do como se fez, em que par- É por tudo isto que nunca deixo de realçar o gosto com que afir-
cerias, onde e porquê. mo que a Componente
E fez-se muito mais e Naval da Força de Re-
melhor. Foto Júlio Tito acção Imediata com
É pois com enorme Fragatas e Corvetas,
orgulho que vos afir- Submarino e Reabaste-
mo ter comandado cedor, Fuzileiros e Mer-
durante mais um ano a gulhadores está pronta
Marinha Portuguesa. a zarpar da barra do
Porque ela é cons- Tejo em menos de 48
tituída por excelentes horas, numa demons-
profissionais, de uma tração clara de capa-
dedicação sem par, cidade, profissionalis-
com um profundo es- mo, determinação, de
pírito de missão, que efectiva prontidão e de
não regateiam esfor- que todo o orçamento
ços para ter os meios da Marinha tem por fim
operacionais, disponí- último e claro o produ-
veis, prontos para sair to operacional. Quan-
para o mar para cum- tas Marinhas com os
prir as suas tarefas de mesmos meios e recur-
uma forma cada vez sos seriam capazes de
mais competente. afirmar o mesmo? Poucas ou nenhumas certamente.
Quando a Marinha opera meios modernos e actuais como as O país acompanhou, ao longo dos anos mais recentes, a apro-
Fragatas da classe “Vasco da Gama” com os seus helicópteros orgâ- vação, pelos órgãos de soberania e entidades competentes (Go-
nicos, mostra sempre ser tão boa como as mais poderosas, mesmo verno, CSDN ou mesmo AR), do conjunto de documentação es-
capaz de fazer melhor, deixando claro que a sua grande riqueza tratégica de Defesa Nacional que nos indica o rumo a seguir, que
continua a ser o factor humano e toda a organização que paulati- nível de ambição devemos ter, quais as missões que temos para
namente foi montada no sentido de lhe dar o ensino de qualidade, cumprir, com que meios, e quando e como estes deverão ser edi-
a formação adequada, o adestramento específico e o treino para ficados e levantados.
a operação singular, combinada e conjunta. A conjuntura que vivemos não é fácil, reconheço-o, pode e
Quando opera meios no limite da sustentabilidade, como é o caso deve obrigar a reflectir, mas é boa regra que ela nunca possa pôr
das Fragatas da classe “Cte. João Belo”, dos Submarinos, do Rea- em causa as referências estratégicas que nos norteiam, sob pena
bastecedor de Esquadra, das Corvetas e dos Patrulhas Costeiros é de de se deixar de saber para onde vamos ou para onde se quer ir.
novo o brio, a dedicação e a competência dos homens e mulheres E este Portugal Atlântico, porta do Mediterrâneo, de constituição
da Marinha que fazem os milagres que noutros países da Europa arquipelágica, há muito que teve a lucidez de entender que a sua
Ocidental, onde nos inserimos, nunca precisam de acontecer. força advém da sua dimensão oceânica e nunca apenas e só da
É pois com grande orgulho, repito, que saúdo todos os que pres- Europa, onde desde a sua criação sempre esteve inserido, o que o
tam serviço em Unidades Navais pelo seu dever de consciência obrigou a largas singraduras.
nacional, pelo seu enorme sentido de missão, como é também Em vésperas de assistir ao abate de mais uma Fragata, e de po-
de inegável dever de justiça, aqui saudar toda a área logística do der ficar reduzida a apenas três muito antes do final da década, a
material pela sua competência e dedicação, o que tem possibili- Marinha não quer acreditar que o caminho, a prazo, seja o desapa-
tado a operação de todos os meios em condições de plena explo- recimento da sua capacidade oceânica, cada vez mais necessária
ração das suas capacidades e em total segurança para as respec- para, em colaboração com aliados e amigos, combater as amea-
tivas guarnições. ças à segurança de pessoas e bens que se multiplicam em todos
Trata-se de um ponto de honra da Marinha Portuguesa e disso os mares e oceanos.
darei prova ao embarcar na próxima segunda-feira no Submarino Por isso a Marinha continua a aguardar, com serenidade, que seja
Delfim, em vésperas do seu abate ao fim de 36 anos de actividade tomada a decisão que permita concretizar a substituição das fragatas
consecutiva, 11 anos para além dos 25 inicialmente previstos. da classe “Cte. João Belo”, através da única solução possível, a da
Os fuzileiros continuam a ser a força de elite de que a Marinha aceitação de uma oferta irrecusável, não só pelas condições, mas
sempre se orgulhou, cada vez mais capaz, mais integrada na rela- por ser irrepetível.
ção com os navios, e a que só falta de significativo as viaturas de A Marinha terá dificuldades em entender outra solução. Até por-
desembarque anfíbio e a capacidade própria de projecção que lhe que a História de Portugal não a merece, a Geografia não a acon-
será dada pelo Navio Polivalente Logístico. selha e a globalização do terrorismo não a permite.
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2005 5