Page 332 - Revista da Armada
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Mas esta cerimónia de abertura do ano operacional, apesar de tural, fruto da sua obra, da sua competência e da sua colaboração aberta
conduzida pelo Comando Naval, comando operacional por exce- com outras instituições científicas, nacionais e estrangeiras, conquistar o
lência da Marinha, constitui também uma oportunidade para deixar seu próprio prestígio e ganhar o estatuto de Laboratório de Estado.
uma palavra de regozijo e orgulho pelo desempenho operacional Mas aquilo que o distingue dos outros, de novo, é a capacidade
de outras áreas funcionais da Marinha, designadamente as da Au- de saber estar no mar, de saber operar meios costeiros e oceânicos
toridade Marítima e da Investigação e Desenvolvimento. e tudo isto apenas é possível, mais uma vez, por estar inserido na
Durante os últimos três anos, e muito especialmente durante o Marinha e na sua estrutura.
último, continuei a consolidação da componente da autoridade A dimensão do Programa de Estudos para o alargamento da Plata-
marítima, apoiando, consciente e determinadamente, todos os ór- forma Continental em trabalhos de mar e de gabinete, é também uma
gãos dependentes da Direcção-Geral da Autoridade Marítima. Por demonstração das suas capacidades, de novo ao alcance de poucas
conhecer a dimensão da sua estrutura, por sentir no dia-a-dia o seu Marinhas dos nossos parceiros europeus.
cada vez maior envolvimento a nível nacional, por ser evidente a É pois, de novo, que manifesto o meu profundo orgulho por
dedicação, devoção e empenho das suas gentes, quer na ajuda às ter na minha dependência directa uma instituição nacional úni-
populações, quer no exercício da autoridade do Estado. ca, onde trabalhei significativos anos da minha vida, onde muito
Foi com enorme orgulho que pude observar a resposta dada a aprendi, que a Marinha tanto apoia e em que se revê, e que de
todas as solicitações, o envolvimento de Capitães de Portos e Polí- forma tão positiva contribui, também, como factor do desenvolvi-
cia Marítima, to- mento económi-
dos imbuídos do co de Portugal.
mesmo espírito de Foto Júlio Tito Senhores Almi-
missão e de servir rantes,
Portugal na Mari- Ilustres convi-
nha. E muitas ve- dados,
zes me interroguei Militares, mili-
se em algum outro tarizados e civis,
País, ou mesmo Tudo o que
em Portugal, seria acabei de vos
possível fazer o transmitir não sur-
mesmo com estes giu por acaso. Foi
meios e recursos uma construção
(designadamente de décadas, sábia
com 500 Polícias na sua simplicida-
Marítimos e ape- de, poderosa nos
nas alguns milita- seus resultados
res, militarizados que me orgulho
e civis), mas cujo de ter ajudado a
factor multiplica- consolidar.
dor é exactamente É que Portugal,
o estarem inseri- como País sobe-
dos na Marinha e rano, teria sempre
na sua estrutura. E convém não esquecer que a sua área de respon- que ter uma Marinha combatente, para assumir a quota-parte das suas
sabilidade inclui águas interiores, domínio público marítimo, mar responsabilidades na garantia da paz e segurança nacionais e interna-
territorial e ZEE, até às 200 milhas da costa. cionais, uma Marinha de Serviço Público, para defender os seus recur-
Continua, no entanto, a percepcionar-se haver ideias diferentes sos no seu vasto espaço oceânico, e uma Marinha capaz de estudar,
para esta área de autoridade do Estado. Eventualmente bem inten- cartografar e potenciar as riquezas do mar português, contribuindo as-
cionadas. Mas convinha que antes de se efectuar qualquer mudan- sim para as descobertas na última fronteira do homem, os Oceanos.
ça se demonstrasse a sua racionalidade, as poupanças e os ganhos A nossa singularidade é sermos capazes de o fazer com uma só
em eficiência que daí adviriam para Portugal, o que raramente se Marinha, um único sistema de Comando e Controlo e um esforço
faz, para além de ser difícil de entender que se entreguem respon- logístico único nas áreas do pessoal, material e infraestruturas.
sabilidades de Autoridade Marítima a quem não sabe, nem alguma É esta construção equilibrada, efectivamente integrada, baseada
vez teve vocação para andar no mar. em capacidades, de múltipla aplicação, em que todas se apoiam
O exercício de autoridade partilhada entre Comando Naval e Di- mutuamente, que constitui a virtualidade do modelo, no reconhe-
recção-Geral de Autoridade Marítima, face ao continuum do meio cimento de que o País, não é rico, tem muito mar a envolvê-lo, e
e à complementaridade dos recursos, tem inegáveis vantagens, os meios humanos e materiais são caros, pelo que há que tirar o
mas obriga a um grande entendimento entre as partes. E porque melhor partido dos escassos recursos existentes.
ele sempre existiu é também com enorme orgulho que manifesto É claro que há outros modelos, também válidos, mas para ou-
publicamente o meu apreço pela forma como os VALM Coman- tros países com outros recursos, com outros níveis de ambição e
dante Naval e Director-Geral da Autoridade Marítima souberam com outros mares.
ultrapassar todas as dificuldades de gestão de situações, algumas Deixei intencionalmente para o fim uma referência à ética e aos
críticas, que obrigaram ao envolvimento coordenado das duas par- valores, uma constante de todas as minhas intervenções públicas
tes, sem que alguma vez se tornasse necessária a intervenção da ao longo do mandato e a que, ocorrências recentes, dão actuali-
Autoridade Marítima Nacional, eu próprio. dade acrescida.
É mais uma razão de orgulho e que demonstra bem a coesão da A Marinha que comandei e comando é uma instituição com valores,
estrutura superior da Marinha e o seu sentido de missão e serviço. de marinheiros e militares que têm orgulho em o ser, que sabem quem
Todas estas razões me levaram, num sinal claro de respeito pela os comanda, como sabem que só há uma linha de comando. É uma
actividade da Autoridade Marítima a autorizar, pela primeira vez, Marinha que sabe que a sua condição de militar lhe traz um conjunto
a integração no desfile de meios militares que se seguirá ao desfile acrescido de deveres e direitos, susceptíveis de evoluir ao longo dos
das forças em parada, alguns meios atribuídos à Polícia Marítima, anos, mas que por ser matéria demasiado séria, não deve nem pode,
numa clara mensagem pública de que há só uma Marinha. ser discutida na praça pública, ou em ambiente de mercado. Estão em
O Instituto Hidrográfico soube, ao longo dos anos e de uma forma na- causa valores que não se compram, nem se vendem.
6 NOVEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA