Page 366 - Revista da Armada
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O DESAFIO DE ONTEM, TORNA-SE
O DESAFIO DE ONTEM, TORNA-SE
A ESPERANÇA DE HOJE
A ESPERANÇA DE HOJE
er membro da raça humana é hoje, como ontem, um destino a luz do seu rosto? Parecem que constituem uma colecção infinita
glorioso, embora seja uma raça entregue a muitos absurdos de anunciadores de desgraças, de coleccionadores de horrores, de
Se cometa erros terríveis. Apesar de tudo o que possa aconte- charlatães de café, de mexericos de tertúlia. O verdadeiro drama do
cer ou vir a acontecer, a verdade inequívoca é que o próprio Deus nosso tempo é quando são os cristãos a inscrever-se nas fileiras dos
se glorificou ao fazer-se membro da raça humana. Ser Homem é ser desconfiados do amor e dos que apostam na sua eficácia, consegui-
muito mais! A grande crise da sem ele. O que abunda en-
que o nosso mundo atraves- tre nós é a fuga para o ontem
sa não é tanto uma crise de ou para o amanhã, a venda
fé ou de moral mas de espe- à nostalgia ou à evasão do
rança. No Homem há muitos efémero. Quantas situações
mais motivos de admiração se criaram ou engendraram
do que desprezo. Ainda não para não estarmos verdadei-
percebemos a onda do entu- ramente vivos! Parecemos
siasmo que significa o nasci- estátuas de sal que não con-
mento de Jesus Cristo e o que seguem viver o presente de
foi a sua vida. A sua chegada tanto olhar para trás.
ao mundo esteve rodeada de Como muitos não gostam
um vento de loucura com do presente, como não pa-
que todos os que O conhe- recem ter capacidade para o
ceram ficaram transtorna- modificar, refugiam-se a sabo-
dos. O acontecimento está aí rear as suas recordações como
ao alcance de todos os que quem chupa um rebuçado de
o quiserem ver. É um Deus morfina ou se deleita a desa-
desconcertante que celebra- parecer nas areias movediças
mos e bendizemos. dum pântano sem vida.
Quando Deus se mostra Não se devia perguntar
há sempre uma revelação para onde vai o mundo, mas
de alegria. Podemos, se qui- para onde vou eu. Vivemos
sermos, sermos felizes por- no mundo é certo, mas cada
que fomos chamados à vida; um filho das suas obras. Não
porque entre a infinita multi- foi o mundo que ficou pior,
dão de seres possíveis fomos nós é que envelhecemos e fa-
nós os escolhidos, amados zemos do passado um oásis
antes de nascer, escolhidos no deserto, como se só ele pu-
para este milagre de viver. desse saciar a nossa sede.
Um dos maiores milagres É já tempo de cada um se
da humanidade é o dom atrever a agarrar o próprio
da vida, verdadeira dádiva destino com ambas as mãos e
que nos concede o Criador. a navegar se for preciso con-
Por ser gratuito, nem sem- tra a corrente. Não resignes
pre lhe atribuímos o devido da tua condição de celebran-
valor, menosprezando a sua te, de vidente, de inveterado
guarda e depreciando a sua construtor de sonhos. Não re-
preservação. Deus não nos gresses e não pares enquan-
espera amanhã. Cruzar-se- to não detenhas essa aurora
-á hoje connosco. É um pre- da vida. Ninguém pode ser
sente eterno e uma presença agradecido e infeliz.
sempre próxima e eterna.
Que é de nós? Hoje, aqui e agora – eis a única questão válida. Quer A todos os que cruzam os mares da vida, peregrinos do inespera-
queiramos quer não, somos felizes porque Deus nos amou primei- do: ansiai, buscai, ide em demanda do presépio original onde a vida
ro, porque não esperou para saber se merecíamos esse amor e quis assume rosto humano.
começar a amar-nos antes do nosso nascimento. A todos os marinheiros e marinheiras, em terra ou no mar, mi-
Apesar de sabermos e conhecermos, desde há milénios, esta fe- litarizados e civis – obreiros da Família Naval, bem como às suas
liz notícia, continuamos a fabricar um Deus triste, um Cristo triste, Excelentíssimas Famílias, um Santo e verdadeiro Natal, um Novo
uma igreja triste e, consequentemente um mundo triste de cristãos Ano pleno de Alegria e Esperança. Que o Deus menino seja a dá-
enfastiados. diva mais desejada! Z
Deus tornou-se insípido porque não sabemos descobrir o seu “sa- António Gomes Beltrão
bor”. Aposentamo-Lo e remetemo-Lo para o céu com uma pensão NOSSA SENHORA DO MAR CMG-Capelão
Estatueta em pé sobre base formada por ondas
pelos relevantes serviços prestados.
Alt: 255 mm; Larg: 115 mm
Nas ruas e vielas do nosso peregrinar, os procurados pelo Ema- Assinatura: Leonel – VALM Leonel Gomes Cardoso
nuel – Deus connosco, distinguem-se pelo brilho dos seus olhos e Col: Família Cardoso
4 DEZEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA