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O DESAFIO DE ONTEM, TORNA-SE
              O DESAFIO DE ONTEM, TORNA-SE

                             A ESPERANÇA DE HOJE
                             A ESPERANÇA DE HOJE


              er membro da raça humana é hoje, como ontem, um destino  a luz do seu rosto? Parecem que constituem uma colecção infinita
              glorioso, embora seja uma raça entregue a muitos absurdos  de anunciadores de desgraças, de coleccionadores de horrores, de
         Se cometa erros terríveis. Apesar de tudo o que possa aconte-  charlatães de café, de mexericos de tertúlia. O verdadeiro drama do
         cer ou vir a acontecer, a verdade inequívoca é que o próprio Deus  nosso tempo é quando são os cristãos a inscrever-se nas fileiras dos
         se glorificou ao fazer-se membro da raça humana. Ser Homem é ser  desconfiados do amor e dos que apostam na sua eficácia, consegui-
         muito mais! A grande crise                                                        da sem ele. O que abunda en-
         que o nosso mundo atraves-                                                        tre nós é a fuga para o ontem
         sa não é tanto uma crise de                                                       ou para o amanhã, a venda
         fé ou de moral mas de espe-                                                       à nostalgia ou à evasão do
         rança. No Homem há muitos                                                         efémero. Quantas situações
         mais motivos de admiração                                                         se criaram ou engendraram
         do que desprezo. Ainda não                                                        para não estarmos verdadei-
         percebemos a onda do entu-                                                        ramente vivos! Parecemos
         siasmo que significa o nasci-                                                      estátuas de sal que não con-
         mento de Jesus Cristo e o que                                                     seguem viver o presente de
         foi a sua vida. A sua chegada                                                     tanto olhar para trás.
         ao mundo esteve rodeada de                                                         Como muitos não gostam
         um vento de loucura com                                                           do presente, como não pa-
         que todos os que O conhe-                                                         recem ter capacidade para o
         ceram ficaram transtorna-                                                         modificar, refugiam-se a sabo-
         dos. O acontecimento está aí                                                      rear as suas recordações como
         ao alcance de todos os que                                                        quem chupa um rebuçado de
         o quiserem ver. É um Deus                                                         morfina ou se deleita a desa-
         desconcertante que celebra-                                                       parecer nas areias movediças
         mos e bendizemos.                                                                 dum pântano sem vida.
           Quando Deus se mostra                                                            Não se devia perguntar
         há sempre uma revelação                                                           para onde vai o mundo, mas
         de alegria. Podemos, se qui-                                                      para onde vou eu. Vivemos
         sermos, sermos felizes por-                                                       no mundo é certo, mas cada
         que fomos chamados à vida;                                                        um filho das suas obras. Não
         porque entre a infinita multi-                                                     foi o mundo que ficou pior,
         dão de seres possíveis fomos                                                      nós é que envelhecemos e fa-
         nós os escolhidos, amados                                                         zemos do passado um oásis
         antes de nascer, escolhidos                                                       no deserto, como se só ele pu-
         para este milagre de viver.                                                       desse saciar a nossa sede.
         Um dos maiores milagres                                                            É já tempo de cada um se
         da humanidade é o dom                                                             atrever a agarrar o próprio
         da vida, verdadeira dádiva                                                        destino com ambas as mãos e
         que nos concede o Criador.                                                        a navegar se for preciso con-
         Por ser gratuito, nem sem-                                                        tra a corrente. Não resignes
         pre lhe atribuímos o devido                                                       da tua condição de celebran-
         valor, menosprezando a sua                                                        te, de vidente, de inveterado
         guarda e depreciando a sua                                                        construtor de sonhos. Não re-
         preservação. Deus não nos                                                         gresses e não pares enquan-
         espera amanhã. Cruzar-se-                                                         to não detenhas essa aurora
         -á hoje connosco. É um pre-                                                       da vida. Ninguém pode ser
         sente eterno e uma presença                                                       agradecido e infeliz.
         sempre próxima e eterna.
         Que é de nós? Hoje, aqui e agora – eis a única questão válida. Quer   A todos os que cruzam os mares da vida, peregrinos do inespera-
         queiramos quer não, somos felizes porque Deus nos amou primei-  do: ansiai, buscai, ide em demanda do presépio original onde a vida
         ro, porque não esperou para saber se merecíamos esse amor e quis  assume rosto humano.
         começar a amar-nos antes do nosso nascimento.         A todos os marinheiros e marinheiras, em terra ou no mar, mi-
           Apesar de sabermos e conhecermos, desde há milénios, esta fe-  litarizados e civis – obreiros da Família Naval, bem como às suas
         liz notícia, continuamos a fabricar um Deus triste, um Cristo triste,  Excelentíssimas Famílias, um Santo e verdadeiro Natal, um Novo
         uma igreja triste e, consequentemente um mundo triste de cristãos  Ano pleno de Alegria e Esperança. Que o Deus menino seja a dá-
         enfastiados.                                         diva mais desejada!                              Z
           Deus tornou-se insípido porque não sabemos descobrir o seu “sa-                     António Gomes Beltrão
         bor”. Aposentamo-Lo e remetemo-Lo para o céu com uma pensão   NOSSA SENHORA DO MAR             CMG-Capelão
                                                              Estatueta em pé sobre base formada por ondas
         pelos relevantes serviços prestados.
                                                              Alt: 255 mm; Larg: 115 mm
           Nas ruas e vielas do nosso peregrinar, os procurados pelo Ema-  Assinatura: Leonel – VALM Leonel Gomes Cardoso
         nuel – Deus connosco, distinguem-se pelo brilho dos seus olhos e   Col: Família Cardoso
         4  DEZEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA
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