Page 368 - Revista da Armada
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O Almirante Vidal Abreu cessou
O Almirante Vidal Abreu cessou
as funções de CEMA
as funções de CEMA
o passado dia 24 de Novembro o Almi- Tudo isto é mau para a instituição militar. É certo de idade estatutários dos almirantes. Entendo que
rante Francisco António Torres Vidal que todas as dificuldades enunciadas poderiam ser o CEMA deve ter a capacidade de decidir da opor-
NAbreu cessou as suas funções de Che- ultrapassadas com decisões políticas tomadas em tunidade de fazer alterações na estrutura superior
fe de Estado-Maior da Armada, passados os tempo útil, em antecipação a todas estas actuações, do Ramo, não ficando limitado nas escolhas que me-
três anos previstos pela lei, no desempenho do diga-se quatro a seis meses antes, como sucede nou- lhor possam assegurar a continuidade e a solidez do
mais alto cargo da Marinha Portuguesa. tros países, permitindo uma transição suave e com futuro da Marinha.
A cerimónia teve lugar nas Instalações Cen- Foto CAB L Figueiredo De acordo com a actual legislação, tal só é possível
trais da Marinha, tendo-se iniciado na Casa da com a colaboração expressa dos oficiais, a qual sempre
Balança onde se encontravam grande número obtive. Dentro deste conceito, cinco vice-almirantes
de almirantes, oficiais, sargentos, praças, mili- aceitaram antecipar a data da sua passagem à Reser-
tarizados e civis da Marinha, além de civis que va, por interesse da Marinha, e a pedido do CEMA.
quiseram estar presentes. Ora, quem assim procede, não pode dar sinais de estar
O Almirante Vidal Abreu chegou às 15.30 agarrado ao lugar, mesmo que eventualmente pudesse
horas proferindo, de seguida, a sua alocução. pensar que isso poderia ser útil para a Marinha.
Mas sucede exactamente o contrário. Pelas duas
Senhor Almirante Vice-Chefe do razões apontadas, as principais, mas também por
Estado-Maior da Armada um conjunto de muitas outras, não menos im-
Senhores Almirantes portantes, continuo firmemente convencido que é
Prezados Amigos e Entidades que vantajoso para a Marinha que o seu Comandante
quiseram associar-se a esta cerimónia mude, de uma forma natural, no final do mandato
Senhores Oficiais, Sargentos, Praças, Militarizados espectável, embora ele tenha uma duração inferior
e Civis da Marinha ao desejável, no meu ponto de vista, claro.
Minhas Senhoras e Meus Senhores Todas as directivas, todos os planos, foram feitos
para três anos. Um mandato após prorrogação, nem
Durante três anos tentei que a emoção, sempre alguma vez poderia ser conduzido como um novo
presente em qualquer dos nossos actos, nunca tol- mandato, como teria dificuldade em ser a continua-
dasse a razão que deve presidir a todas as decisões, ção do primeiro, por não ter sido planeado para tal. É
mas apenas a temperasse. difícil programar para uma incerteza temporal.
Ao decidir não estar disponível para prolongar o decisões concertadas com a futura chefia, mas a prá- E as mudanças de Chefe do Estado-Maior devem
mandato por mais dois anos, antes de saber se ha- tica tem demonstrado que assim não acontece. ser encaradas com naturalidade, principalmente
veria ou não convite para tal, tentei, mais uma vez, Em coerência com este meu pensamento, os que quando se dão após o cumprimento completo de
seguir o mesmo princípio. trabalham mais próximo de mim, e vários respon- um mandato. Naturalidade que deve ser prepara-
Porque, eventualmente, terei surpreendido sáveis políticos, ouviram-me repetidamente defen- da, quase desde o primeiro dia.
alguns com a minha atitude, considero ser útil der que os mandatos dos chefes militares deveriam Sempre o fiz ao longo de toda a minha vida de Ma-
explicá-la. ser de quatro anos, mas sem renovação. Espero que rinha, explicando o porquê das decisões, deixando
Uma observação atenta do que se foi passando, não se perca a oportunidade de mudar, por ocasião escrito o que penso, facilitando assim a continuidade
ao longo dos últimos anos, em resultado da redac- da próxima revisão da Lei da Defesa Nacional e das da linha que vinha seguindo, se essa for a vontade
ção do Artº 59º da LDNFA (aquele que especifica Forças Armadas. de quem me substituir.
serem os mandatos dos chefes Sempre pretendi, ao longo
de Estado-Maior de três anos, dos anos, que não fosse senti-
prorrogáveis por mais dois), foi da a minha saída. Se tal não
sedimentando em mim a ideia Foto CAB L Figueiredo vier a suceder é porque, desta
de que, por bem intencionado vez, não soube acautelar bem
que fosse o espírito do legisla- este aspecto. Falha minha,
dor, a prática demonstrava que que assumirei.
a decisão política, por demasiado Mas é preciso que tudo o
tardia, deixava normalmente os que acabei de dizer não dei-
chefes numa situação profunda- xe entender que se tratou de
mente ingrata, nada compatível uma decisão fácil. Mentiria
com a dignidade do cargo que se o dissesse, como faltaria
ocupavam, e afectando as nor- à verdade se deixasse a per-
mais condições de governabili- cepção que, desde o primei-
dade institucional, lesando pois ro dia, as ideias estiveram
o interesse nacional. assim tão claras.
Acresce que a indefinição Períodos houve, em que a
do que se iria passar no futu- razão vacilou e não faltaram
ro, levava, invariavelmente, a os habituais estímulos a favor
especulações jornalísticas e, muito pior, a divisões Mas não foi esta a única razão. Durante o meu da decisão de manter a disponibilidade para permane-
internas dentro dos Ramos, formando-se grupos mandato procurei, talvez pela primeira vez, e de uma cer à frente da Marinha. Hoje, felicito-me por ter tido a
e equipas prontas a trabalhar em torno dos proto- forma muito clara, que o comando e a administra- lucidez de decidir do modo que é conhecido, para o que
candidatos ao lugar, embora, felizmente, tal se não ção da Marinha não estivessem totalmente depen- muito contribuiu ter tido sempre a sorte de estar rodea-
tenha passado desta vez. dentes das datas em que seriam atingidos os limites do de conselheiros leais, amigos e capazes e que, como
6 DEZEMBRO 2005 U REVISTA DA ARMADA