Page 311 - Revista da Armada
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Esta fase da sua carreira naval ligada ao  navegou até ao Extremo Oriente,
         material de guerra será interrompida por dois  tendo previamente escalado La
         breves espaços de tempo. O primeiro, quando  Spézia para ali embarcar material
         em 1914 comanda o contratorpedeiro “Liz”.  de guerra destinado a Macau.
         É interessante a história deste navio. Construí-  De Março a Junho de 1922 o
         do em Itália e destinado à Marinha daquele  “República” deu apoio à I Traves-
         país, foi cedido à Inglaterra que se encontrava  sia Aérea Lisboa-Rio de Janeiro. O
         envolvida na Grande Guerra. A neutralidade  salvamento dos aviadores junto
         italiana levou a transferir a posse do navio  dos Penedos de S.Pedro e S.Paulo,
         a um intermediário, Portugal, então ainda  o rendez-vou do “República” com o
         neutral. O tenente Muzanty trouxe o “Liz”  “Paris City”, que lhe tinha forne-
         de  Génova e entregou-o em Sesimbra à Ma-  cido uma posição errada, a cuida-
         rinha Inglesa. Foi o primeiro navio português  dosa procura dos melhores locais
         de propulsão a nafta e o que menos navegou  para a operação dos hidros ao lon-
         com bandeira portuguesa, apenas dois me-  go dos possíveis pontos de escala
         ses e meio! A segunda interrupção sucede  e a procura constante de informa-
         após a sua promoção a capitão-tenente em  ções metereológicas, demonstram
         1915. Na complexa política da época os Go-  bem o modo exemplar como a mis-
         vernos duravam muito pouco tempo, e por  são foi cumprida. Após a amara-
         isso o comandante exerceu apenas de Agosto  gem do hidro “Santa Cruz” no Rio
         a Novembro o cargo de Chefe de Gabinete do  de Janeiro, escalou diversos portos
         Dr. José de Castro, Presidente do Ministério e  do Brasil com os aviadores a bor-
         Ministro da Marinha.               do. Em Setembro o cruzador pres-
           Promovido a Capitão-de-fragata, em 1917,  tou honras à chegada ao Rio de Ja-
         continua a servir em organismos e comissões  neiro do Presidente da República
         relacionadas com a Artilharia Naval até que  de Portugal, Dr. António José de
         em fins de 1920 é nomeado Comandante do  Almeida, então de visita oficial ao
         cruzador “República”. Será o seu ultimo co-  Brasil comemorando os 100 anos
         mando no mar. Foi buscar o navio a Ingla-  da independência do país.
         terra, onde tinha sido construído e efectuou   Com o regresso a Lisboa em Ou-  O Almirante Oliveira Muzanty em 1934.
         missões nos mares dos Açores, tendo sido  tubro Muzanty terminava o seu comando,  guinte. Assim, à semelhança de outras áreas,
         louvado pelo Major General da Armada  tendo sido louvado pelos actos e relevantes ser-  a Artilharia e o material com ela relacionado
         pela  forma como desempenhou a sua comissão  viços prestados durante a Travessia Aérea Lisboa-  sofrem uma rápida modernização tendo tido
         às ilhas dos Açores, aproveitando para realizar es-  Rio de Janeiro e era-lhe concedida a Medalha  o Comandante Muzanty um papel fulcral
         tudos sobre o navio e outros trabalhos nos quais  Militar de Bons Serviços.  em toda a evolução verificada.
         mais uma vez demonstrou a sua competência e   Tinha concluído o seu serviço nos ma-  Sucedem-se as suas idas ao estrangeiro,
         zelo pelo serviço. No último trimestre de 1921  res e rios de Angola e de Moçambique e no  a fábricas de armamento, a fim de receber
                                                            Atlântico, na paz e na  material de guerra. Igualmente são impor-
                                                            guerra e demonstra-  tantes os seus estudos técnicos com vista à
                                                            do plenamente as suas  montagem do armamento nas novas uni-
                                                            excepcionais aptidões  dades navais, as constantes do “Programa
                                                            marinheiras.       Magalhães Correia”.
                                                              A partir de 1923 re-  De salientar que de 1924 a 29 fará parte do
                                                            torna ás actividades  Conselho da Ordem da Torre e Espada.
                                                            no âmbito do material   Em 1934 é promovido a contra-almirante
                                                            de guerra. Inicialmente  e assume o cargo de Chefe do Estado Maior
                                                            Chefe da 2ª Repartição  Naval, o orgão de concepção e o orientador
                                                            irá assumindo lugares  da actividade naval da Armada, dependen-
                                                            de mais responsabili-  te directamente do Ministro. Será o seu úl-
                                                            dade, até que em 1930,  timo cargo na Marinha.
                                                            quando promovido     Sócio desde guarda-marinha do Clube
                                                            a capitão-de-mar-e-  Militar Naval, foi Presidente da respec-
         Cruzador “República”.                              guerra, é nomeado Di-  tiva Mesa da Assembleia Geral no ano
                                                            rector dos Serviços do  de 1935.
                                                            Material de Guerra e   Em 1936 é ainda nomeado para acompa-
                                                            Tiro Naval.        nhar a delegação portuguesa encarregada
                                                              No inicio dos anos  de representar o Governo da República nos
                                                            vinte, do século passa-  funerais do Rei Jorge V de Inglaterra mas,
                                                            do, sob a orientação do  em Março do ano seguinte, termina os seus
                                                            Ministro Pereira da Sil-  dias aquele que foi um dos mais distintos
                                                            va a Marinha foi pro-  oficiais que serviu a Marinha, durante os
                                                            fundamente reorga-  últimos anos da Monarquia e as primeiras
                                                            nizada, com base nos  décadas da República.
                                                            ensinamentos adquiri-                              Z
                                                            dos durante a Grande                    J. L. Leiria Pinto
                                                            Guerra, facto que pos-                          CALM
                                                                               Nota
                                                            siblitaria a recepção
                                                                               Arquivo Histórico da Marinha
                                                            de modernos meios   Livros Mestres: D/90, H/33/118, I/155, K/182 e L/181
         A Oficialidade do “República”.                      navais na década se-  Documentação avulsa: CX 759 e 1417.
                                                                              REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2006  21
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