Page 73 - Revista da Armada
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Setting Sail
                                   Setting Sail








              10. GALERA


              Encetamos com o presente número, um extenso périplo que nos   Pau de cutelinho - Verga de pequena secção que corre enfiada
            vai levar de visita aos principais tipos de armação, ou aparelho, que   em aros existentes nas vergas de gávea, sobrejoanete e sobrinho,
            caracterizam os grandes veleiros. Inicialmente previsto para dar cor-  servindo de suplemento e prolongando o respectivo comprimento.
            po a um artigo no anterior formato, aceitámos o desafio de desenvol-  Recebe designação idêntica à da verga com a qual se prolonga: pau
            ver cada uma das armações mais representativas, em igual número   de cutelinho do joanete de proa (12), pau de cutelinho do joanete
            de contracapas da Revista da Armada. Não obstante a excelência do   grande (13), pau de cutelinho do sobrejoanete de proa (14), pau de
            espaço, julgamos que o maior desafio se coloca ao nosso poder de   cutelinho do sobrejoanete grande (15) e pau de cutelinho do sobri-
            síntese. Dito isto, certos, só estamos quanto ao carácter parcial da   nho grande (16). O mesmo que verga de cutelinho.
            abordagem que agora se inicia…
                                                               Sobrinho – Quinta vela ou verga a contar de baixo, caso não exis-
              A denominada galera é o veleiro por excelência. Qualifica um navio de  tam vergas partidas ou dobradas, de um mastro redondo. Com idên-
            três ou mais mastros, donde espigam dois mastaréus, cruzando vergas de   tico significado também se utiliza o termo joanetinho.
            pano redondo em todos eles. Dispõe de velas latinas triangulares, à proa   Varredoura (17) – Vela suplementar do traquete redondo, cuja for-
            e de entremastro, podendo também existir velas latinas quadrangulares,   ma pode ser triangular ou quadrangular. Se quadrangular a respec-
            aparelhadas com retranca e carangueja, por ante a ré de cada um dos   tiva escota amarra no pau de surriola, pelo que a sua utilização se
            mastros reais. As maiores galeras alguma vez construídas tinham casco   encontra consignada à existência de ventos relativamente fracos e
            em ferro e cinco mastros, sendo que este tipo de aparelho também é co-  largos. O mesmo que varredeira ou barredoura.
            nhecido como armação de clipper, pelo facto de estes haverem armado
            em idêntico preceito. Quanto à palavra galera, parece derivar do grego   Velas de proa – Vela de estai (18), bujarrona de dentro (19), bujar-
            galéa ou galê, ambos sinónimos de toninha, uma espécie de golfinho, o   rona de fora (20) e giba (21).
            que de pronto nos remete para linhas finas e forma elegante, requisitos
            fundamentais para se atingir uma boa velocidade na água. Relembramos,   Velas do traquete – Traquete redondo (22), velacho baixo (23), ve-
            em qualquer dos casos, que ao longo dos tempos, este termo foi sendo   lacho alto (24), joanete de proa (25) e sobrejoanete de proa (26).
            utilizado no Mediterrâneo para designar sortidos tipos de navios, nem   Velas do grande – Grande redondo (27), gávea baixa (28), gávea
            sempre veleiros, mas cuja característica – a velocidade –, os diferencia-  alta (29), joanete grande (30), sobrejoanete grande (31) e sobrinho
            va dos demais, proporcionando-lhes o essencial: vantagem em combate   grande (32).
            e consequente supremacia no mar.
                                                               Velas da gata – Gata baixa (33), gata alta (34), sobregata (35) e
              Cutelinho – Denominação pela qual são conhecidas as velas auxiliares   sobregatinha (36).
            que se prolongam por fora das testas dos joanetes, sobres e sobrinhos,
            embora as primeiras também possam ser conhecidas como cutelos. Re-  Velas auxiliares – A denominada andaina de velas auxiliares é com-
            cebem o nome das velas redondas que prolongam, ou seja, cutelo ou   posta pelas varredouras, cutelos e cutelinhos, sendo que todas elas habi-
            cutelinho do joanete de proa (1), cutelo ou cutelinho do joanete grande   tualmente existem aos pares, uma por bombordo e outra por estibordo
            (2), cutelinho do sobrejoanete de proa (3), cutelinho do sobrejoanete   das velas redondas que ampliam. Podem, no entanto, sempre que as
            grande (4) e cutelinho do sobrinho grande (5).    circunstâncias assim o aconselhem, ser caçadas isoladamente.
              Cutelo – Nome que designa cada uma das velas quadrangulares su-  Vela-ré (37) – Nome atribuído à vela latina quadrangular, armando
            plementares, que trabalham nos paus de cutelo, por norma utilizadas   com retranca (38) e carangueja (39), que é caçada no mastro situado
            com ventos largos e bonançosos, tal como sucede com os cutelinhos e   mais a ré no navio tipicamente redondo, como são os casos da galera
            varredouras. Recebem o nome da vela em cuja testa se prolongam, ou   e do brigue. Ao que sabemos, em tempos antigos, esta era considerada
            seja, cutelo do velacho (6) e cutelo da gávea (7). Do navio que navega   uma vela de bom tempo, sendo a mezena, igualmente envergada no
            com todo o pano caçado, diz-se que «vai com cutelos e varredouras».  mesmo local, utilizada para capear, debaixo de temporal. Também
                                                              pode ser apelidada de mezena, apesar de ser menos comum neste
              Latino grande (8) – Vela latina quadrangular, dispondo de carangue-  tipo de armação. Com idêntico significado, mas de uso menos vul-
            ja, e por vezes retranca, que enverga pela testa por ante a ré do mastro   gar, podemos ainda encontrar os termos draiva e gala.
            grande redondo. O mesmo que rebeca ou rabeca, recebendo as respec-
            tivas carangueja e retranca igual designação.      Verga seca (40) – Trata-se da verga de papafigo do mastro real da
                                                              gata. Recebe esta designação devido ao facto de, regra geral, não
              Mastros – Gurupés (A), traquete (B), Grande (C) e Gata (D).  envergar nela qualquer pano. Resta acrescentar que na época dos
              Mastaréus – Velacho (E), gávea (F), joanete (G), gata (H) e sobregata (I).  clippers, muitos deles envergavam aí uma vela redonda – papafigo
                                                              da gata –, com o propósito de maximizar a velocidade. Assim, para
              Pau da varredoura (9) – Verga de pequena secção que corre enfiada   vento de marcação até aos 120º/130º, essa vela era mantida ferrada.
            em aros existentes na verga de papafigo do traquete, servindo de su-  Quando a marcação do vento superava aquele valor, uma vez que
            plemento e prolongando o seu comprimento, com o objectivo de aí se   o desempenho da vela-ré já pouco representava para a velocidade
            largar um pequeno pano denominado varredoura. O seu comprimento   do navio, passando inclusivamente a comprometer seriamente o seu
            máximo regula pela metade do da verga com a qual se prolonga, ca-  equilíbrio vélico e obrigando a navegar com leme metido, esta era
            racterística que de igual modo se aplica aos paus de cutelo e cutelinho.   carregada. Caçado o papafigo da gata, de imediato se sentia o seu
            O mesmo que verga de varredoura.                  efeito propulsor em prol da velocidade, com a vantagem de, simul-
                                                              taneamente, se ver eliminado o efeito pernicioso enunciado relati-
              Pau de cutelo – Verga de pequena secção que corre enfiada em aros
            existentes nas vergas de papafigo, gávea, velacho e joanete, servindo   vamente ao governo do navio.
            de suplemento e prolongando o respectivo comprimento. Estas vergas
            recebem, respectivamente, as designações de pau de cutelo do velacho        António Manuel Gonçalves
            (10) e pau de cutelo da gávea (11). O mesmo que verga de cutelo. Em                          CTEN
            todos os paus que visam envergar velas auxiliares, a extremidade de fora          am.sailing@hotmail.com
            é designada por lais, enquanto que a do centro se chama pé.                        Desenho: Aida Colaço
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