Page 78 - Revista da Armada
P. 78

A Marinha na Cooperação Técnico-Militar
            A Marinha na Cooperação Técnico-Militar

               Cooperação, entendida como um  na direcção da execução técnica dos Pro-  Cabo Verde, foi ministrado o 12º Curso de
               das vertentes da Política Externa  jectos CTM que lhe são atribuídos, o Gabi-  Fuzileiros. E, em Timor-Leste foi iniciada,
         A  (PE), tem como objectivo primordial  nete para a Cooperação do Estado-Maior  em MAR06, uma 2ª acção de formação
         a ajuda ao desenvolvimento, quer este seja  da Armada, na dependência do Vice-Che-  para as guarnições das lanchas da Com-
         perspectivado em sentido lato, como a pro-  fe do Estado-Maior da Armada, através  ponente Naval.
         moção global do progresso económico-so-  da coordenação das acções de cooperação,   Mas a Marinha presta, também, o apoio
         cial, ou em sentido restrito, no âmbito espe-  acompanha, analisa e avalia o desenvolvi-  necessário à reparação e manutenção dos
         cífico dos diversos sectores que constituem  mento destas acções nos vários países, uti-  meios navais destes países, nomeadamente
         peças importantes da sociedade.    lizando para isso diversos meios de comu-  na República da Guiné-Bissau (RGB) e em
           Assim, sentindo a necessidade de imple-  nicação e efectuando inclusivé uma análise  Timor-Leste. Foi com esta finalidade que se
         mentação de uma política de cooperação,  da imprensa semanal focada nos PALOP e  deslocou à RGB, nos períodos de 17MAR a
         foi aprovada, em Dezembro de 2005, “Uma  Timor-Leste.                 07ABR06 e de 23JUN a 21JUL06, uma equi-
         Visão Estratégica para a Cooperação Portu-  Por outro lado, o pessoal cooperante no  pa do Arsenal do Alfeite tendo por tarefa a
         guesa”. Este documento, tendo por finalida-  terreno tem uma tarefa muito especial. A  realização de trabalhos de beneficiação e
         de dotar as nossas iniciativas de maior rigor,  par dos requisitos de competência especí-  recuperação da operacionalidade das lan-
         racionalidade e coerência estratégica, reflec-  fica na área, o cooperante, terá de agir como  chas “Cacine” e “Cacheu”. Com a mesma
         te também a PE nacional essencialmente em  um “diplomata” no país de destino, em que  finalidade de manutenção e reparação, des-
         três aspectos: o relacionamento com os Paí-  além de pró-activo e empreendedor, deverá  ta feita dos faróis e farolins da Rede de Aju-
         ses Africanos de Língua Oficial Portuguesa  saber ganhar a confiança dos locais, favore-  das Visuais à Navegação, entre Outubro e
         (PALOP) e Timor-Leste (um dos três pilares  cendo uma relação dinâmica e de respeito  Dezembro do ano transacto, deslocou-se a
         da PE, a par da integração europeia e alian-  entre as partes.        São Tomé e Príncipe uma equipa da Direc-
         ça atlântica); a difusão da língua portugue-  O modelo de cooperação da Marinha de  ção de Faróis.
         sa no mundo; e a promoção de uma melhor  Guerra Portuguesa adaptado à realidade   No âmbito destes Projectos destacaram-
         inserção nos mecanismos internacionais e  de cada país, traduz-se em três vertentes  -se, ainda, no ano transacto, a realização
         malhas da globalização.            básicas de assessoria: ao comando e estado-  de um exercício naval conjunto em Ango-
           A Cooperação Técnico-Militar (CTM) é  maior; à área técnico-naval; e à área técnico-  la, entre 8 e 10ABR, aquando da visita do
         uma forma sectorial de cooperação, que  militar (Fuzileiros).         NRP “Corte Real” a Luanda, que envolveu
         visa colmatar as assimetrias entre Estados   No apoio ao comando e estado-maior  efectivos das duas Marinhas de Guerra, in-
         no domínio técnico-militar, através do de-  enfatiza-se a assinatura, a breve trecho, do  cluindo forças de fuzileiros e mergulhado-
         senvolvimento de Projectos com objecti-  novo Programa-Quadro 2007-2009 para  res; e do exercício da NATO, STEADFAST
         vos específicos, que têm como fim último  Angola, contendo um Projecto autónomo  JAGUAR, em Cabo Verde, entre 12 e 27JUN,
         o desenvolvimento das Forças Armadas  de Marinha com assessoria directa ao co-  e no qual participaram elementos da Uni-
         destes Estados. Neste sentido, os Projec-  mando e estado-maior, e apoio na reestru-  dade de Fuzileiros de Cabo Verde.
         tos do âmbito da Marinha tomam especial  turação do sistema de formação profissio-  Registe-se que foi a formação em Portu-
         relevo dada a importância do mar não só  nal na área técnico-naval da Marinha de  gal que deu início às actividades de CTM da
         para Portugal, como para cada um destes  Guerra de Angola. Paralelamente em fun-  Marinha. Até aos dias de hoje, nos diversos
         países isoladamente. Incumbindo à Direc-  ção da reestruturação das Forças Armadas  estabelecimentos de ensino, já foram forma-
         ção-Geral de Política de Defesa Nacional  cabo-verdianas e santomenses, a assessoria  dos mais de 500 militares das várias classes
         (DGPDN) a análise, planeamento e coorde-  portuguesa tem vindo a colaborar com os  e categorias. No corrente ano lectivo a Ma-
         nação da política de CTM, estas iniciativas  respectivos Comandos das Guardas Costei-  rinha está a ministrar acções de formação
         são desenvolvidas com seis países de lín-  ras na elaboração do correspondente edi-  a 25 militares dos seis países anteriormen-
         gua portuguesa: Angola, Cabo Verde, Gui-  fício legislativo, onde estão deduzidas as  te mencionados, assim distribuídos: 4 nos
         né-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe  necessidades de formação de âmbito téc-  Cursos do IESM, 10 nos Cursos da Escola
         e Timor-Leste.                     nico-naval. Ainda em São Tomé e Príncipe  Naval, 8 na ETNA, e 3 no CEFA.
           Nestes Estados, em que as vias de co-  decorreu, em JUN06, a deslocação de uma   As principais dificuldades à implemen-
         municação são ainda exíguas, as trocas  equipa técnica da Direcção-Geral da Auto-  tação do modelo da MGP surgem, natural-
         comerciais são efectuadas na sua grande  ridade Marítima (DGAM) a fim de apoiar  mente, da limitação de meios destes países,
         maioria por via marítima, o que torna es-  a edificação de um Sistema de Autoridade  reforçado pela falta de tradição de um ramo
         sencial uma componente marítima com  Marítima naquele país e inventariar, pro-  com um historial tão recente, não se encon-
         dimensão adequada, que consiga dar uma  gramar e avaliar as acções que permitam  trando os diversos Projectos com o mesmo
         projecção de força e de defesa da integri-  incrementar a operacionalidade da Capi-  grau de desenvolvimento.
         dade territorial, da soberania e do patri-  tania dos Portos.           No futuro, é intenção da Marinha con-
         mónio nacional.                      No que concerne à formação, foram lec-  tinuar a promover as acções de CTM nos
           No entanto, os conflitos por que alguns  cionados em Moçambique, no ano transac-  PALOP e Timor-Leste, no sentido de ajudar
         destes países passaram recentemente, en-  to, no Centro de Formação de Fuzileiros,  na edificação das respectivas componentes
         volvendo exclusivamente a componente  na Catembe, o 10º e 11º Curso de Forma-  marítimas. Esta actividade, não muito co-
         terrestre das Forças Armadas do país, con-  ção de Praças FZ (estando a decorrer o 12º  nhecida da generalidade das pessoas, para
         dicionaram o desenvolvimento de outros  CFP) e o 3º Curso de Formação de Quadros  além de promover a confiança mútua, con-
         ramos das Forças Armadas, nomeadamente  (para Oficiais e Sargentos), e no Grupo de  tribui certamente para um aumento da se-
         da Marinha, facto que, a par dos elevados  Escolas da Marinha de Moçambique o 8º  gurança nacional e regional, e, consequen-
         custos para fazer “nascer” de raíz uma com-  Curso de Formação de Grumetes, nas es-  temente, para o crescimento económico e
         ponente marítima, torna a CTM de Marinha  pecialidades de Abastecimento, Condutor  social destes Estados.
         um projecto realmente ambicioso.   de Máquinas, Comunicações, Electricida-                            Z
           Assente nesta visão estratégica, e aten-  de e Manobra. No Centro de Instrução        (Colaboração do Gabinete
         dendo às responsabilidades da Marinha  Militar do Morro Branco, no Mindelo, em         para a Cooperação do EMA)

         4  MARÇO 2007 U REVISTA DA ARMADA
   73   74   75   76   77   78   79   80   81   82   83