Page 231 - Revista da Armada
P. 231
pela Standing NATO Maritime Group 1. militares vão ser enviados do velho conti- não é consensual. A capacidade de resposta
Esta força naval, composta por navios de nente para combater a ameaça terrorista. a problemas fora de um âmbito estritamen-
vários países, entre os quais uma fragata O Presidente norte-americano lembrou aos te militar, como os ataques cibernéticos,
portuguesa, é comandada por um Almirante Aliados que a luta contra o terrorismo é um as catástrofes provocadas pelas alterações
português. Esta operação, que agora decor- problema de todos, pelo que a Europa terá climáticas ou a segurança energética - no
re sobretudo no Golfo de Adem, colabora de participar mais. “A Al-Qaeda está activa qual o combate contra a pirataria na costa
na contenção da pirataria em conjugação na região fronteiriça do Afeganistão com o da Somália pode ser visto como exemplo
com outras operações, da qual destacamos Paquistão. Os terroristas ameaçam todos -, bem como a luta contra o terrorismo, o
a operação “Atalanta” da União Europeia, os membros da NATO. Atacaram tanto na narcotráfico e proliferação de armamento,
num teatro de operações mais a sul, ao lar- Europa como na América do Norte. Estão são novas ameaças e desafios que a NATO
go da costa somali do Índico. a preparar novos ataques e é por isso que vai, por certo, contemplar na sua nova es-
a minha administração lançou uma revisão tratégia.
abrangente da nossa estratégia.” A prioridade máxima da NATO vai para a
O QUE SE PASSOU NA CIMEIRA Os aliados sabem que a credibilidade da estabilização do Afeganistão, a maior ope-
DOS 60 ANOS Aliança depende de uma vontade política ração militar de sempre da NATO e primeira
A cimeira decorreu em solo francês e em forte e consensual no sentido de manterem missão de combate terrestre. É uma grande
solo alemão, podendo ser um sinal de que a NATO como uma grande instituição. preocupação, atendendo a que se aproxima
o eixo franco-alemão pretende assumir-se Foi definido um caminho para a elabo- um período eleitoral. Faltam meios e há li-
na liderança do pilar europeu da NATO. A ração de um novo conceito estratégico da mitação à acção das forças no terreno. Nes-
França deixa de ter um pé dentro e um pé NATO. Esta orientação política está contida te sentido, os europeus cederam à pressão
fora, ao passar a integrar, de novo, passados na “Declaração de Segurança da Aliança”, norte-americana para enviarem dinheiro e
43 anos, a estrutura militar. Certamente que “um breve documento político”, que con- pessoal para o Afeganistão, embora só para
esta decisão vai implicar a redistribuição tém os principais temas a desenvolver, con- um horizonte de 3 meses até às eleições de
das chefias dos co- 20 de Agosto.
mandos NATO. A NATO tem ape-
A França deu si- lado constantemente
nais de querer cen- a um empenhamento
trar mais a agenda mais alargado, que se
da NATO na defesa traduz na contribui-
dos países-membros. ção de países como
A Alemanha, através o Japão, a Austrália,
da chanceler Merkel, a Coreia do Sul ou a
já recusou uma pers- Nova Zelândia, mas
pectiva da NATO ao qual as organiza-
como «organização ções humanitárias
de segurança mun- têm mostrado reticên-
dial», ambicionada cias, devido ao cariz
pela diplomacia nor- militarista da Aliança
te-americana. e à falta de segurança
A Aliança deu as no Afeganistão.
boas vindas a mais dois membros, a Albâ- forme explicou o secretário-geral da NATO, A solução para o problema do Afeganis-
nia e a Croácia, passando a contar com 28 Jaap de Hoop Scheffer. tão, como referiu recentemente o Tenen-
países membros. Este conceito irá ser desenvolvido por sá- te-coronel Proença Garcia num excelente
Foi escolhido um novo Secretário-Geral, bios que irão elaborar uma primeira refle- artigo sobre a NATO, não é militar, já que as
o primeiro-ministro dinamarquês Anders xão. Atendendo a que é necessário o con- guerras de cariz subversivo, apesar de não
Fogh Rasmussen. Este nome foi aprovado senso, vai ser interessante ver como é que se vencerem militarmente, perdem-se pela
pelos 28 países membros, o que é significa- os aliados vão receber o primeiro projecto. inacção militar. A eliminação da Al-Qaeda
tivo, atendendo ao consenso que foi neces- Prevê-se que a aprovação do novo conceito do Afeganistão e do Paquistão irá requerer
sário reunir. Não se sabe que contrapartidas venha a ser feita em Portugal, em 2010 ou uma estratégia total, obedecer ao que agora
terão levado a Turquia a alterar a sua oposi- 2011, na próxima cimeira da NATO. se designa por Comprehensive Approach,
ção inicial, já que não aceitava o primeiro- com o envolvimento de actores regionais,
-ministro dinamarquês, por este ter apoiado designadamente a Rússia, o Irão, a China, a
a publicação de caricaturas do profeta Mao- OS DESAFIOS PARA O FUTURO Índia, o Paquistão e uma miríade de organi-
mé, por um jornal dinamarquês, em 2005. CONCEITO ESTRATÉGICO zações e agências internacionais e não go-
O novo secretário-geral tomará posse no dia DA ALIANÇA vernamentais, onde a Aliança desempenha
1 de Agosto de 2009, data em que termina O conceito estratégico é um documen- apenas o papel do instrumento militar.
o mandato de Jaap de Hoop Scheffer. to ratificado por todos os países membros O segundo grande objectivo da Aliança
Tal como no passado, o presidente norte- da Aliança que define e aprofunda as li- é o reatamento das relações com a Rússia,
-americano esteve presente para manifestar nhas orientadoras da organização a mé- o que já terá levado a uma “não decisão”
que a relação EUA-NATO não mudou com dio prazo. sensata em relação à entrada da Geórgia e
a nova administração. “Ouvir, aprender e O ambiente estratégico internacional da Ucrânia para a NATO. Recorda-se que o
liderar”, eis como Barack Obama resumiu mudou, outras ameaças à Democracia, alargamento da NATO tem sido feito à custa
a postura dos Estados Unidos na cimeira aos valores e ao estilo de vida aparecem da entrada de países da ex-União Soviética.
da NATO. Disse ainda que foram dados no horizonte. A NATO quer repensar o seu Entraram 12 países nos últimos dez anos.
“passos importantes para renovar a Aliança Conceito Estratégico e as suas capacidades Este alargamento a leste e a iniciativa
transatlântica”. para fazer face às novas ameaças, para não norte-americana de implementar um siste-
O Presidente Obama conseguiu o apoio ouvir vozes crescentes, que insinuam a sua ma de defesa antimíssil balístico na Polónia
pretendido para a nova estratégia america- obsolescência. Mas, logo para começar, a e na República Checa não tem facilitado as
na em relação ao Afeganistão. Mais 5000 definição e identificação de novas ameaças relações diplomáticas da Aliança Atlântica
REVISTA DA ARMADA U JULHO 2009 13