Page 250 - Revista da Armada
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lembrasse dele. Enganou-se, quando o vi tivos, que tanto impressionam pela sagaci- que melhor sintetizam estas qualidades da
soube-me logo na alma o doce do licor co- dade. É, por fim, a capacidade (muitas ve- gesta portuguesa, pois em poucas profissões
lombiano e a memória desta história. E nes- zes posta à prova) para sobreviver para lá se reúne tanto desconforto, tanta adversida-
se preciso momento, tantos anos passados, da adversidade, num “logo se vê” tranqui- de, por vezes mesmo tanta incompreensão
ocorreu-me que este velho marinheiro sin- lizador. Esta é a essência da nossa alma, de e, apesar de tudo, um saber levar a vida com
tetizava o fundamental da alma portuguesa. reis das pequenas coisas, que permitiu a um tanta alegria e adaptabilidade. É este o se-
A essência da alma portuguesa – conclui- povo pequeno sobreviver e agigantar-se – gredo deste Rei das Pequenas Coisas, o Sr.
rá a este tempo o leitor – é certamente este em determinado momento histórico – para Cabo Alcino, que viverá sempre na minha
desembaraço no contacto com culturas e lá, muito para lá da pequenez, que a alguns memória e que, espero sinceramente, irá
povos, por mais estranhos que eles nos se- atormentava (…e que para muitos, acredito, recuperar rapidamente.
jam. È esta capacidade para conseguir mais ainda parece incomodar). Z
pela arte do que pela força simples objec- É também seguro que são os marinheiros Doc
LIVROS
Batalhas e Combates da PALHEIROS DE MIRA
Batalhas e Combates da PALHEIROS DE MIRA
Marinha Portuguesa Formação e declínio de um
Marinha Portuguesa
I VOLUME aglomerado de pescadores
Comandante Saturnino Monteiro, O
A estudo agora apresentado é
obra “Batalhas e Combates da Ma-
rinha Portuguesa” da autoria do
a 3ª edição, facsimilada da
obra da Prof.ª Doutora Raquel
consta de oito volumes publicados em Lis- Soei ro de Brito, editada conjuntamen-
boa pela Sá da Costa Editora, entre 1989- te pela Câmara Municipal de Mira
-1999. Este estudo, que se refere às acções (CMM) e pelo Centro de Estudos do
mais importantes da Marinha Portuguesa Mar (CEMAR).
durante o dilatado período de oito séculos A primeira edição foi publicada em
(1180-1970), tornou-se uma referência in- 1960, pelo Centro de Estudos Geográfi-
contornável para os investigadores históri- cos – Centro de Investigação do Institu-
cos que se dedicam ao tema. O 1º Volume, to Nacional de Investigação Científica
entretanto galardoado com os prémios “Al- – e uma 2ª em 1981, já facsimilada, por
mirante Pereira Crespo-1988”, da Revista iniciativa desse mesmo Instituto.
da Armada e “Almirante Sarmento Rodri- Esta última edição deve-se ao facto
gues-1992”, da Academia de Marinha, foi agora reeditado. de a CCM e o CEMAR estarem a repor algumas obras respeitantes
O lançamento da reedição efectuou-se no passado dia 14 de Maio, na à terra e às gentes gandarenses, numa tentativa de se manter viva
Livraria Buchholz tendo sido apresentada pelo Prof. Doutor António José a chama de um passado recente porque este trabalho pela sua ín-
Telo. A presente reedição, correcta e aumentada, à semelhança da 1ª edi- dole continua a “viver” com a população piscatória da Praia de
ção, corresponde ao período (1139-1521) é denominada “Poder Naval à Mira (nome actual do velho lugar de Passeios de Mira), “foi um dos
Escala Planetária” e constitui mais um meritório trabalho do Comandante escolhidos para uma primeira série” destas publicações.
Saturnino Monteiro sobre a História da Marinha Portuguesa. Z Z
“RONDA FILIPINA”
“RONDA FILIPINA”
a autoria do Tenente César Magarreiro, de reflexão. Envolto numa prosa que seduz o enredo
vencedor do Prémio Maria Rosa Colaço - assenta num facto verídico ocorrido em 1617, ano
DAlmada 2008, o livro “Ronda Filipina” foi em que uma frota composta por oito embarcações
lançado no evento Literatura em Viagem 2009, em de corsários argelinos saqueou a ilha do Porto San-
Matosinhos, onde participaram cerca de 40 escri- to (Madeira), levando consigo, cativos, para o Norte
tores de diversos países. de África, 900 dos seus cerca de 1000 habitantes.
Seguiram-se duas apresentações, uma no dia 25 Regra geral, além da pilhagem, a intenção destes
de Abril na Fragata “D. Fernando e Gloria” e outra corsários não era a de simplesmente escravizar esta
no dia 26 de Abril na Ria de Aveiro. gente, mas sim a de pedir por ela avultados resgates
“Ronda Filipina” convida o leitor a viajar para aos ocupantes do Reino Português, ao tempo Filipe
um tempo quase secreto onde se sobrepõem o ima- II de Portugal, Filipe III de Espanha. Paginas lidas
ginário e a memória. Uma narrativa histórica que com interesse e proveito, um encontro de culturas,
o vai situar no século XVII, durante o período da ideias, ideais, esforços. Uma aventura vivida num
dominação filipina. Altura em que os corsários do mundo composto por duras realidades, um tempo
Norte de África efectuavam incursões e saques por dominado por crenças, corsários, caravelas, xave-
território europeu. Numa narração ágil e envolvente, o autor cria cos, desertos, mares, diferentes povos, diferentes religiões, mas os
um universo rico e multifacetado onde as relações entre os indiví- mesmos sonhos e desejos a cumprir.
duos, bem como a relatividade das ideias sobre o outro, são causa Z
32 JULHO 2009 U REVISTA DA ARMADA