Page 245 - Revista da Armada
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durante os quais parte da guarnição do cru-  experiência ultramarina fez parte da delega-  qualidades do seu Superintendente.
         zador “República” desembarcou para prote-  ção metropolitana à 1ª Conferência Económi-  Em Maio de 1937 o Contra-Almirante Mat-
         ger a colónia portuguesa ali residente e foi,  ca do Império Colonial Português, realizado  ta Oliveira volta pela última vez ao Estado-
         a partir de 1930, a reacção dos comunistas à  em Lisboa em 1934.      Maior Naval, agora apenas por dois meses,
         até então preponderância dos nacionalistas   Publica, em 1935, a obra “No Mar-Episó-  como seu Chefe, nomeação que não só com-
         do general Chiang Kai-chek. O Comandante  dios da Vida dos Marinheiros”, edição da  prova os valiosos serviços que tinha ali pres-
         Matta Oliveira conseguiu, apesar das graves  Liga Naval Portuguesa, onde recorda os seus  tado como também lhe dá oportunidade de
         perturbações verificadas no continente chi-  tempos de embarque. Em Março de 1936 é  actualizar conhecimentos relativos à situação
         nês, que a vida no pequeno enclave sob seu  promovido a contra-almirante e nomeado  operacional da Marinha.
         governo se mantivesse sem quaisquer turbu-  Superintendente dos Serviços da Armada   Finalmente, em Julho, atinge o cargo mais
         lências. Compulsando o Boletim Oficial da  passando-lhe a competir a direcção dos ser-  elevado da sua carreira ao ser nomeado Ma-
         Colónia constata-se ter sido positiva a acção  viços do ramo naval do Ministério da Marinha.  jor General da Armada e promovido a Vice-
         do Governador, especialmente nas reestrutu-  Desempenha então, a par com o Chefe do  -Almirante.
         rações do ensino e do turismo, na construção  Estado-Maior Naval, o mais alto cargo da   A Guerra Civil em Espanha continua vio-
         de infraestruturas portuárias e no desenvol-  Marinha, logo a seguir ao de Major General  lenta e unidades navais irão ao país vizinho
         vimento das comunicações radiotelegráficas.  da Armada.                evacuar cidadãos portugueses e participar em
         Foi, durante o seu governo de apenas                                      variadas missões e operações delicadas,
         seis meses, vendida em hasta pública a                                    numa Europa cada vez mais instável. Em
         ex-canhoneira “Pátria” (1903-1931), mais                                  todas estas situações o Chefe da Marinha
         tarde incorporada na Marinha da China                                     decide com prontidão e eficácia. A nível
         com o nome de “Fu-yú”. Esta canhoneira                                    interno concretizaram-se vários projectos
         e a “Macau”, durante mais de duas déca-                                   dos quais se destaca a inauguração do
         das, constituíram o símbolo da Marinha                                    novo Arsenal do Alfeite, em 3 de Maio
         Portuguesa na Colónia. Em Outubro o                                       de 1939. Nesse ano as convulsões termi-
         Comandante Matta Oliveira cessa as fun-                                   nam em Espanha, mas logo em Setembro,
         ções de Governador, lugar que exerceu com                                 rebenta na Europa a II Guerra Mundial.
         competência, zelo e patriotismo.                                          Torna-se necessário reforçar o dispositi-
           Em Dezembro, depois de um interre-                                      vo naval dos arquipélagos portugueses
         gno de cerca de dois anos e meio, volta                                   no Atlântico e ter especial atenção às co-
         a chefiar a 1ª Secção do Estado-Maior                                      lónias do Extremo-Oriente, especialmen-
         Naval. Inicia então a última fase da sua                                  te Macau, onde é reactivado o Centro de
         carreira naval, correspondente ao perí-                                   Aviação Naval para fiscalização aérea das
         odo de 1932 a 1941, durante o qual irá                                    águas do território. No Atlântico são esta-
         sucessivamente exercer os mais altos                                      belecidas missões de Busca e Salvamento,
         cargos da Armada. Foi uma época mar-                                      tendo em águas açoreanas sido recolhi-
         cante para a Marinha. Em Março de 1933                                    dos largas dezenas de náufragos de na-
         era aumentado ao efectivo o aviso de 2ª                                   vios mercantes torpedeados. A Marinha
         classe “Gonçalo Velho”, o primeiro na-                                    chefiada pelo Vice-Almirante Matta Oli-
         vio do já atrás referido “Programa Ma-                                    veira desdobra-se em várias frentes e no
         galhães Corrêa”, a que se seguiram mais                                   seu âmbito são tomadas decisões que irão
         três avisos de 2ª classe, dois de 1ª classe,                              ser fundamentais para a manutenção e o
         três submersíveis e cinco contratorpedei-                                 reforço da sua operacionalidade durante
         ros, tendo o Programa ficado completo,                                     o conflito mundial. Entre muitas medidas
         em Outubro de 1937, com a entrada ao   VALM Matta Oliveira.               refira-se a construção do petroleiro “Sam
         serviço do aviso de 2ª classe “João de Lis-                              Brás“ que nos últimos anos da Guerra foi
         boa”, o último navio a ser construído no ve-  O ano de 1936 será para a Marinha, depois  fundamental para o reabastecimento de com-
         lho Arsenal da Ribeira das Naus. Em apenas  dos da sua intervenção na Grande Guerra, o  bustível ao país.
         quatro anos e meio tinham sido aumentados  mais significativo da primeira metade do sé-  Mas a lei do tempo é inexorável e assim, em
         ao efectivo dos navios da Armada, 14 uni-  culo XX. Em Janeiro tomara posse o novo Mi-  Maio de 1941, o Major General da Armada
         dades, num total de 23.400 toneladas!. Facto  nistro, o capitão-tenente Ortins Bettencourt,  atinge o limite de idade e passa à situação de
         único na Marinha Portuguesa e que permitirá  que promoverá profundas transformações na  reserva. Apesar de ter deixado o serviço efec-
         manter a soberania em águas nacionais du-  Marinha. É o ano da reforma da Escola Na-  tivo ainda preside à Comissão que estuda as
         rante a conturbada década dos anos quarenta  val, que vigorará cerca de vinte anos e da sua  novas instalações para o Museu de Marinha,
         do século passado.                 mudança para o Alfeite, local onde começa-  dedica-se mais intensamente à investigação
           Capitão-de-mar-e-guerra em Novembro  rá a ser edificado o novo Arsenal e a nascer a  histórica, nomeadamente à participação da
         de 1932, Matta Oliveira torna-se indiscutivel-  primeira Base Naval do país. A 8 de Setembro  Marinha nas Guerras Liberais (1832-1834) e
         mente um elemento de referência do Estado-  acontece a chamada “Revolta dos Marinhei-  escreve para os Anais da Marinha a “Bata-
         Maior Naval, organismo a que na época com-  ros” em que as guarnições dos avisos “Afon-  lha do  Cabo Matapan”, que foi a sua última
         petia todos os movimentos das forças e unidades  so de Albuquerque”, “Bartolomeu Dias” e  obra publicada.
         da Armada e a respectiva distribuição.  do contratorpedeiro “Dão” se sublevam em   Faleceu em Lisboa a 24 de Julho de 1948 o
           Em Janeiro de 1934 ascendia a Subchefe do  apoio à Organização Revolucionária da Ar-  Vice-Almirante Matta Oliveira, distintíssimo
         Estado-Maior Naval. Além das tarefas ineren-  mada, com o intuito de se juntarem às forças  oficial que conduziu a Marinha nos primeiros
         tes a um estado-maior mantinha uma intensa  republicanas de Espanha, entretanto em ple-  dezoito meses da II Guerra Mundial e deve
         actividade relacionada com a formação de ofi-  na guerra civil. Os resquícios da revolta, cujos  ser considerado um verdadeiro paradigma
         ciais. De salientar uma série de seis conferên-  efeitos se irão repercutir durante largos anos e  de Marinheiro, de Oficial de Estado -Maior
         cias, em 1934, destinadas ao Curso Elementar  a integração dos novos navios, com a necessi-  e de Chefe.
         Naval de Guerra, reunidas no seu trabalho in-  dade da consequente actualização da gestão             Z
         titulado “Elementos Constitutivos das Forças  do pessoal e do material, vão sobrecarregar os   J. L. Leiria Pinto
         Navais e Factos Internacionais”. Devido à sua  serviços e comprovar plenamente as elevadas         CALM
                                                                                       REVISTA DA ARMADA U JULHO 2009  27
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