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Navio-Escola “Sagres”
Volta ao Mundo 2010
7ª PARTE
ON.R.P. “Sagres” continua a cumprir com
audácia a missão que lhe foi atribuída giram as dificuldades para vencer a dirigentes da Sociedade Luso-Nipónica, vários
para este ano de 2010. Nesta etapa da fortíssima corrente Kuroshio e lidar amigos e uma banda que tocou a nossa “Mar-
circum-navegação do globo, deixou o arquipé- com um radar repleto de contactos cha dos Marinheiros” enquanto atracávamos.
lago Havaiano com destino a outro aglomerado que navegavam em todas as direc- Realizou-se uma cerimónia de boas vindas com
de ilhas, desta feita o Império Japonês. ções.Após um percurso de algumas vários discursos e troca de lembranças.
horas no complexo de Esquemas de
A experimentada plataforma preparou-se Separação de Tráfego, a “Sagres” A estadia da “Sagres” foi reconhecida como
para mais uma tirada oceânica, será a terceira iniciou a 24 de Julho mais uma es- um acontecimento fulcral nas celebrações do
vez em 73 anos que cruza o Pacifico Ociden- tadia no Império do Sol Nascente, Tratado e como tal, algumas personalidades
tal. O grupo de osmose inversa foi reparado e efectuando vinte e uma salvas de de topo do panorama político japonês fizeram
a expectativa sobre o seu funcionamento era artilharia a terra e obtendo outras questão de visitar o navio. No almoço oficial
elevada. Isto, porque na tirada anterior havía- tantas em resposta. Estava iniciada recebemos o líder do principal partido da opo-
mos navegado aproximadamente duas sema- a nossa participação na comemo- sição e a Princesa Imperial Hisako Takamado,
nas com regime de água fechada e tal facto, ração dos cento e cinquenta anos representando a Casa Imperial.
não deixando de constituir uma experiência da assinatura do Tratado de Paz,
de viagem, condicionou a qualidade de vida Amizade e Comércio entre Portu- Desde logo se sentiram as discrepâncias en-
da guarnição. gal e o Japão. tre as culturas.A sociedade japonesa envolve-se
num conjunto minucioso de regras de etiqueta
Apesar destas adversidades, não perdemos O navio atracou numa zona pri- e protocolo, que fizemos questão de cumprir.
a concentração no nosso objectivo principal a vilegiada da cidade do Yokohama. Porém, não nos livrámos de algumas situações
formação dos Cadetes do Curso Padre Fernan- Lado a lado com o “Host Ship”, em- caricatas impostas pelo rigor daquele povo. Re-
do de Oliveira. Os cadetes iniciaram esta tira- bandeirando em arco e iluminando cordamos, a título de exemplo, o facto de terem
da mais seguros, já interiorizaram o seu papel de gala após o pôr-do-sol, abrilhan- criado espontaneamente uma fila única para en-
enquanto formandos. A convivência continua tamos por alguns dias a paisagem de trarem no navio, cinco minutos antes da hora
na coberta, um espaço confinado e de dimi- uma nova centralidade reclamada proposta nos convites para a Recepção e terem
nuta privacidade, desvenda os aspectos mais e ao mar e a antigos estaleiros e ar- também saído praticamente em fila, após a saí-
menos positivos das suas personalidades. Desta mazéns. À chegada aguardava-nos da das principais autoridades locais e das che-
mistura de vivências, reinventa-se o grupo, que o Embaixador de Portugal com vários elemen- fias militares. Nesta breve estadia ainda houve
é agora mais coeso e mais conhecedor das suas tos da embaixada, uma comitiva da Marinha, lugar para a diplomacia económica. A Asso-
capacidades. No atarefado quotidiano de bordo ciação das Industrias da Madeira e do Mobiliá-
aprendem a gerir o tempo. Entre os serviços do Ponto Astronómico ao crepúsculo. rio de Portugal aproveitou a presença do navio
navio, as aulas teóricas, as tarefas práticas de li- Temperatura da água do mar = 25ºC. para promover o mobiliário português e a sua
derança, (executadas com o auxilio do velame Concerto de musica a bordo do navio. marca “Associative Design” emTóquio, fazendo
do navio), os briefings ao comando e os quartos, uma exposição e convidando os seus potenciais
é difícil encontrar tempo para descansar. clientes para uma recepção a bordo da “Sagres”
onde se podiam observar alguns apontamentos
Entre o preenchido planeamento semanal dos seus associados que incluíam a decoração
criou-se o tempo necessário para o internacio- completa de um camarote. Uma tentativa de
nal Torneio do Pacifico Ocidental em Futcon-
vés. Internacional, pois a companhia de cade-
tes contribui com uma equipa composta pelos
oficiais e cadetes das marinhas estrangeiras que
estão representadas nesta viagem.Apesar de te-
rem inscrito três equipas, duas delas mistas, os
cadetes não se fizeram representar nos lugares
das meias-finais, que foram preenchidos pelos
experientes conjuntos da guarnição. Como a
experiência parece ser pedra basilar nesta va-
riante vélica do futebol, ganharam os já bicam-
peões – Bollycaos.
Entre os momentos a recordar desta pernada,
consta ainda uma efeméride caricata, a passa-
gem pela Linha Internacional de Mudança da
Data, no sentido oeste, tal facto, obrigou à eli-
minação de vinte e quatro horas do nosso ca-
lendário. De forma a minimizar o transtorno na
vida de bordo convencionou-se que ao meio
dia do sábado, dia 17 de Julho, passasse a ser
meio-dia de domingo, dia 18. Na prática, levou
a que três elementos da guarnição dispusessem
de apenas doze horas para festejar os respecti-
vos aniversários.
No final de dezanove dias de navegação al-
cançámos a movimentada baía deTóquio. Sur-
6 Setembro/outubro 2010 • Revista da aRmada