Page 7 - Revista da Armada
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entrada na hotelaria flutuante que se encontra        Durante a breve visita pela ilha, podemos ain-    estavam muito acessíveis a partir do navio. Numa
em franco desenvolvimento. A guarnição apro-        da constatar que esta ilha se mantém na van-        visita organizada pelo município de Nagasaki foi
veitou os tempos livres, para visitar alguns pon-   guarda do desenvolvimento tecnológico, tendo        possível observar o Parque da Paz, a Estátua da
tos turísticos. Em Tóquio visitaram-se a Cidade     localizado num dos seus extremos um moderno         Paz e o Museu da Bomba Atómica. Um simbó-
Electrónica, os Templos Budistas, os Palácios e     Centro de Lançamento de Foguetões.                  lico monumento representa a altitude na qual a
os Jardins Imperiais. Na vizinha cidade impe-                                                           bomba deflagrou e algum do “ground zero” foi
rial de Kamakura visitaram-se templos e jardins       Uma breve navegação levou-nos à cidade            deixado sem reconstrução. A observação atenta
e degustou-se a extraordinária cozinha japone-      portuária de Nagasaki. Nesta também se pode         do museu e do seu espólio não só nos faz reflec-
sa, saborosa e saudável. A bordo, perante as di-    sentir a influência Europeia. Na arquitectura, o    tir sobre a destruição imposta pelo engenho, mas
ficuldades da língua, tivemos o apoio de uma        património português foi destruído pela segun-      também sobre a capacidade reconstrutiva deste
organização de voluntários amigos dos Grandes       da e última bomba atómica da Segunda Guer-          povo, que tão bem soube reordenar a sua cidade.
Veleiros, os “Salty Friends” que nos apoiaram na                                                        Outros pontos de interesse visitados foram o mo-
recepção aos nossos visitantes.                      Sua Alteza Imperial a Princesa Hisako Takamado.    numento dos Vinte e Seis Mártires, as Catedrais
                                                     Budismo no Japão.                                  de influência Cristã e o “bairro holandês” de De-
  Largámos a 29 de Julho em direcção a Ta-           Representação dos primeiros atiradores Japoneses.  jima. O seriado de eventos continuou, ressaltan-
negashima, uma pequena ilha que constitui o          Festival em Nagasaki cujo tema deste ano foi       do um intercâmbio desportivo, (uma futebolada),
símbolo máximo das relações entre Portugal e o       “A Nau Portuguesa”.                                com os nossos anfitriões e o desfile no cais de um
Japão. Foram quatro dias de navegação que nos       ra Mundial. Porém, na língua e nos costumes,        carro alegórico. Este último, participará no Festi-
obrigaram a afastar muito do caminho directo        uma organizada comunidade Luso-Nipónica             val Okun-chi, o festival da cidade, que este ano
para fugir à corrente Kuroshio, agora com velo-     mantém a cultura portuguesa. Esta comunidade        tem por tema rotativo a Nau Portuguesa. A nau
cidades que chegavam aos cinco nós. Encon-          recebeu-nos numa recepção de boas vindas e          representada no carro alegórico tem aproxima-
trada a respectiva contra-corrente, junto à costa,  desenvolveu reconhecidos esforços para o su-        damente 8 metros e 6 toneladas, a um ritmo vivo,
fizemos o percurso sem problemas.                   cesso da nossa estadia.                             marcado por percussão tradicional. Este colosso
                                                      O navio atracou no centro nobre da cidade,        perfaz coreografias, girando e saltando com a
  Apesar de curta, (aproximadamente doze ho-        num moderno cais, adjacente a um verdejante         boa vontade de vinte homens que o agarram ao
ras), a estadia teve muito significado. A atraca-   e arborizado jardim, no centro do qual se situa     longo da borda. O navio esteve aberto todos os
ção pelas nove da manhã foi seguida de uma          um Centro Cultural e Museu de Arte Moderna.         dias a visitas, recebendo a aceitação do povo da
singela cerimónia de boas vindas, realizada em      A cidade tinha muitos pontos de interesse, que      cidade que aderiu com entusiasmo e curiosidade.
frente ao monumento dedicado aos marinhei-                                                              Na hora da partida, algumas centenas concentra-
ros, trata-se de uma escultura que abrilhantava                                                         ram-se no cais, ouvindo as palavras de agrade-
o pavilhão de Portugal na Exposição Mundial                                                             cimento e amizade do comandante do navio. A
de Osaka e que foi oferecida no final da expo-                                                          manobra, inicialmente realizada com a ajuda dos
sição, a esta província japonesa. A cerimónia                                                           rebocadores, levou o navio até ao centro do canal
de recepção contou com as palavras do Pre-                                                              e em frente à multidão realizou-se pela primeira
sidente da Câmara, do Vice-Governador que                                                               vez neste navio uma faina de largada caçando o
leu uma mensagem do Governador e discurso                                                               pano redondo de tacada.As máquinas fotográfi-
do Comandante; no final registou-se uma de-                                                             cas e admiração do povo de Nagasaki registaram
monstração de tiro dos arcabuzes que descen-                                                            o momento para a posterioridade.
dem da espingarda portuguesa. Na verdade, a
história desta província está intimamente ligada                                                           A incursão no oriente rumou ao Estreito da
à chegada dos portugueses em 25 deAgosto de                                                             Coreia. Nesta zona frequentemente fustigada
1543, altura em surgiu no Cabo Kadokura o pri-                                                          pela violência dos tufões, estivemos muito aten-
meiro navio português, arrastado por um tufão                                                           tos às previsões meteorológicas. A formação do
e bastante danificado. A bordo deslocavam-se                                                            tufão Daemon e a previsão da sua extensão para
empreendedores comerciantes lusos, que rapi-                                                            a zona do estreito levou-nos a prosseguir rapida-
damente transmitiram a sua mensagem de paz,                                                             mente para o abrigo do canal de Incheon. Em
amizade e comércio. Os portugueses estreita-                                                            consequência desse adiantamento acabámos por
ram relações com o Senhor feudal desta ilha e                                                           fundear aproximadamente vinte e quatro horas
consta que venderam ali duas espingardas, por                                                           mais cedo e nessas circunstâncias aproveitou-se
aproximadamente dois milhões de euros a pre-                                                            para cumprir a tradição. Organizando os cade-
ços actuais. A indústria metalúrgica dominada                                                           tes de bordo em quatro grupos, realizou-se uma
na perfeição pelos locais, que produziam em                                                             competição de remo, nas tradicionais baleeiras
série, lâminas de espadas, facas e tesouras foi                                                         de bordo, seguida de uma pequena competição
prontamente ajustada na replicação desta nova                                                           de vela, nas mesmas embarcações. Na manhã do
tecnologia.A introdução massificada desta nova                                                          dia seguinte, seguimos em direcção a um sistema
tecnologia no arquipélago contribuiu de forma                                                           de comportas, que nos elevou para a “Baia sem
fulcral para a unificação do Império Actual, na                                                         maré”. Esta foi a solução engenhosa encontrada
medida em que a espingarda foi utilizada para                                                           pelos Coreanos, para minimizar as implicações
estabelecer a paz entre os grandes senhores                                                             da elevada amplitude de maré nas cargas e des-
feudais do Japão. Esta breve história pôde ser                                                          cargas do porto comercial. Fechada pelo comple-
complementada com a observação de vários                                                                xo sistema de comportas a baia mantém sempre
artefactos históricos no Museu da Espingarda de                                                         a cota da maré alta, nos nove metros. Incheon é
Tanegashima onde há também um grande real-                                                              o porto comercial que serve a capital sul-core-
ce a duas anteriores visitas da “Sagres”, a última                                                      ana de Seul e a nossa estadia entre os grandes
das quais transportando o então Presidente da                                                           cargueiros não granjeou tanta visibilidade como
República, o Dr. Mário Soares. Nas conversas                                                            noutros portos visitados. A estadia foi marcada
com os locais percebe-se rapidamente a admi-                                                            pelos eventos protocolares habituais, a apresen-
ração que estas pessoas têm pela audácia e o                                                            tação de cumprimentos às chefias municipais e
espírito empreendedor dos descobrimentos por-                                                           militares, a recepção e o almoço VIP. Para além
tugueses que no século dezasseis navegou meio                                                           destes, a barca também esteve ao serviço da di-
mundo, iniciando a globalização.                                                                        Revista da aRmada • Setembro/outubro 2010 7
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