Page 10 - Revista da Armada
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Submarino “Tridente”
A primeira viagem
Chegados a Kiel em 15 de Junho para Saída de Kiel No decorrer deste trânsito, o treino da
a recepção do navio, após cerca de guarnição, as verificações aos sistemas e
6 meses de treinos intensos para a os testes ao comportamento da platafor-
obtenção do Safe-to-dive Certificate1, a ma foram constantes, de forma a permitir
guarnição do N.R.P. “Tridente”, encontra- conhecer o mais rapidamente possível, as
va-se pronta e desejosa para a partida de- reais capacidades do navio e fomentar o
finitiva rumo à nossa terra natal. maior à-vontade na sua operação por par-
te da guarnição.
Após a cerimónia de entrega do navio a O dia 2 de Agosto, era o dia da chega-
17 de Junho de 2010, seguiu-se um perío- da (!), a primeira aparição do submarino
do para as últimas reparações e beneficia- à superfície foi na aproximação por sul à
ções, treino e apetrechamento do navio. No Tejo baía de Cascais, onde embarcou o VALM Foto 1SAR FZ Pereira
Saldanha Lopes, Comandante Naval, que
Para isso, o navio teve de estar a seco, quis compartilhar com os militares de bor-
não havendo grande espaço para o treino, do a alegria da primeira entrada na barra
servindo este tempo para a recepção e con- de Lisboa, rumo à BNL.
ferência de todo o material de bordo, des- A recepção foi admirável, passada a Bar-
de o simples garfo às ferramentas especiais ra Sul, assim que o navio guinou para 090
para a “Fuel Cell”2. aproado à Ponte 25 de Abril, o N.R.P. “Tri-
dente” foi desde logo escoltado pela Polícia
A 18 de Julho, praticamente um mês Marítima e acompanhado durante todo o
após a recepção, o navio foi finalmente trajecto até ao canal do Alfeite por um he-
para o seu habitat natural, tendo a sua flu- licóptero Lynx da Marinha e por diversas
tuação decorrido sem qualquer incidente embarcações embandeiradas em arco, das
e onde o CTEN Salgueiro Frutuoso, Co- quais se podem destacar os barcos dos Pilo-
mandante do navio, aproveitou para efec- tos do Porto de Lisboa, os rebocadores que
tuar os primeiros testes à plataforma, uma cumpriram com a tradição naval de receber
curta navegação pelo fiorde até Labou e o navio com os típicos jactos de água, as
regresso às instalações da HDW. características canoas doTejo e ainda diver-
sas embarcações de recreio, algumas delas
Já com o navio na água, em espaço de- pertencentes à “Marinha do Tejo.”
dicado para embarque de materiais perigo- Ao chegar ao nosso porto de abrigo, a
sos, foi possível iniciar o embarque e res- Base Naval de Lisboa, o mais recente na-
pectiva estiva do material a bordo, trabalho vio da esquadra foi acolhido de forma gra-
hercúleo, pois decorreu entre o embarque tificante, com todos os navios atracados
de Oxigénio3, carga da bateria e embarque na BNL a fazerem soar as suas sereias e a
de combustível, nuns curtos dois dias antes presença de inúmeros camaradas e fami-
da ansiada partida para Lisboa. Chegada à BNL Foto CAB L Figueiredo liares no cais, acompanhados pelas melo-
Chegado finalmente o dia da despedida dias interpretadas pela Banda da Armada
de Kiel, passados que foram três anos e meio provocou um conjunto de sentimentos de
após o inicio da primeira formação, a guar- alegria e dever cumprido, ao atracar pela
nição iria finalmente poder largar os cabos primeira vez com o N.R.P. “Tridente” no
de amarração do seu navio e rumar à sua cais 6 da BNL.
estimada Base Naval de Lisboa. Assim, no Agora venha a imensidão do nosso Mar,
dia 21 de Julho às 10h 44m (locais), o navio que o “Tridente” está cá para servir a Mari-
largou do cais 6 do estaleiro HDW4 com o nha e o País, garantindo a terceira dimen-
Comandante da Esquadrilha de Submarinos são do oceano.
embarcado, CMG Gouveia e Melo, conjun- No dia 23AM, e por um período de 24 horas,
tamente com três técnicos do estaleiro5.
foi embarcada uma equipa da HDW, acompa- (Colaboração do COMANDO
Com o fiorde de Kiel repleto de embar- nhada por dois elementos da MCSUB-PNID7 DO NRP “TRIDENTE”)
cações de recreio, o N.R.P. “Tridente” ru-
mou a norte, fazendo o tradicional cumprimen- para a realização das provas de mar agendadas, Notas:
to ao Memorial dos Submarinos6 às 11h 28m, relativas às intervenções realizadas no período 1 Certificado obtido após o período de treino de Mar de
seguindo a navegar em direcção ao Skagerrak, que precedeu a partida do navio de Kiel.
pelo Báltico, passando perto das costas de Ale- 01Março a 19 de Abril de 2010, na Noruega
manha, Dinamarca e Suécia, numa navegação Terminadas as provas prosseguiu-se o trânsi- 2 A Célula de Combustível proporciona a capacidade de
sempre atenta e apertada, devido à densidade
de tráfego mercante e ao elevado número de o navio navegar durante longos períodos sem ter necessida-
bóias e zonas de perigo existentes, tal como to- to para Lisboa, primeiro à superfície pelo Mar de de efectuar indiscrições tácticas para carregar a bateria.
dos os que já tiveram a sorte de navegar naque- do Norte, passando perto das muitas platafor- 3 Necessário ao funcionamento da Fuel Cell
las águas bem sabem. mas de extracção de gás aí existentes. Passado 4 HDW - Howaldtswerke Deutsche Werft
o estreito de Dover e já no Canal da Mancha, 5 Os técnicos do estaleiro embarcaram por razões con-
Já no Skagerrak, entre a península da Jutlândia o Submarino fez jus à sua designação, e logo tratuais, devido à garantia que se estenderá pelo menos
e a costa Sul da Noruega, um dia e meio depois 1 ano após a entrega
da largada, fez-se a primeira imersão, aprovei- que foi possível, assim que as sondas o permi- 6 Möltenort U-boat Memorial - http://www.ubootehren-
tando sempre, as alturas mais relevantes para tiram, o N.R.P. “Tridente” entrou em imersão, mal.de/
treinar e melhorar o adestramento da guarnição fazendo o trânsito até às águas nacionais sem-
na condução do navio. pre em imersão. 7 MCSUB – Missão para a Construção dos Submarinos
– Direcção de Navios
PNID – Portuguese Navy Inspection Delegation
10 setembro/outubro 2010 • Revista da aRmada