Page 17 - Revista da Armada
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Fig.5 - Bote do Pinho “Fernando I”, de Sarilhos Pequenos. Fig. 6 - Falua atracada na Quinta do Esteiro Furado (Sarilhos Pequenos).
do I”, de Sarilhos Pequenos - conhecido bordo, e a outra por ante-a-vante do mastro do Montijo, do Seixal e do Barreiro, Canoa
como “Bote Gaião” -, que armava uma principal. O convés da ré é muito reduzi- do TAraltfoa,riCa)a.noa Grande e Canoa Pequena
grande vela latina triangular). Estas embar- do, porque o espaço normalmente ocupa- da
cações destacavam-se também pelas suas do pelo leito da popa é sacrificado para Por sua vez, os Catraios apresentavam-
minuciosas pinturas, apresentando cores aumentar a casa de carga aberta, também -se como embarcações de pequeno porte
garridas, motivos florais e figuras míticas utilizada pelos passageiros” (Leitão, 2002: (“embarcações miúdas”), cujo comprimen-
(Figura 5). 111). Em termos funcionais, o convés de to não ia além dos 6,5m. Eram normalmen-
vante era muito utilizado como alojamen- te utilizados no transporte de pequenas
Os Botes do Pinho transportavam pinho a to, onde os passageiros se abrigavam do mercadorias e passageiros, na pesca artesa-
partir de vários pontos, incluindo a Raposa frio, da chuva e do calor durante a viagem. nal e ainda como embarcações de recreio.
(Seixal), Corroios, Samora, Lançada ou Sa- Este convés servia ainda de resguardo para Usualmente armavam uma vela latina
rilhos Pequenos. Ocasionalmente transpor- as mercadorias. quadrangular de carangueja e uma vela
tavam palha, proveniente dos mouchões triangular de estai, existindo ainda alguns
do Tejo, para Sarilhos Pequenos, Alcoche- Estas embarcações armavam, geralmente, Catraios aparelhados com vela de espicha
te, Moita, Rosário e Montijo, onde era utili- duas velas latinas, tendo havido segundo e vela latina triangular.
zada para cobrir as serras do sal produzido Leitão (2002) uma evolução ao longo do
nas salinas aqui existentes. tempo nas suas velas, passando a predomi- André Fernandes
nar as Faluas de um só mastro.
Quanto aos Botes-de-fragata, estes asse- Instituto de Dinâmica do Espaço (FCSH-UNL)
melham-se ora a uma Fragata (ainda que A Falua era utilizada no transporte de pas-
de dimensões substancialmente inferiores sageiros e de mercadorias, oferecendo “um Mário Pinto
a estas embarcações), ora a um Bote, daí serviço de transporte relativamente regular,
serem considerados um tipo híbrido. Leitão de passageiros, numa rota certa, em oposi- Associação Naval Sarilhense
(2002: 109) identifica, contudo, as seguin- ção ao transporte de carga geral, sem horá-
tes particularidades neste tipo de embarca- rio pré-estabelecido, e eram utilizadas para Fontes das Figuras
ção: “nas bordas; no número de cabeços carregar produtos deterioráveis, tais como
à popa; na existência ou não de barbados batatas, uvas, figos, laranjas e legumes fres- Fig.1 - Centro de Documentação e Informação da APL
na proa, e no tipo de barbados montados à cos até à cidade e voltar com mercearias na - Administração do Porto de Lisboa, SA (Autoria: Desconhecido).
ré; na existência ou não de paus de entre viagem de retorno. Tinham, por isso, de ser
cintas; na construção do painel de popa; na de bom porte e rápidas, visto que cobriam Fig.2 - Mário Pinto (Autoria: Desconhecido).
existência ou não de falquitos”. nesta ocupação distâncias que podiam
atingir 50 km” (Leitão, 2002: 110). Fig.3 - Centro de Documentação e Informação da APL
Estas embarcações tinham, normalmen- - Administração do Porto de Lisboa, SA (Autoria: Desconhecido).
te, uma capacidade de carga entre 20 e 50 Finalmente, são de referir as embarca-
ton., aparelhando uma pequena vela latina ções vocacionadas, essencialmente, para Fig.4 - Mário Pinto (Autoria: Desconhecido).
triangular à proa (estai) e uma grande vela o transporte de passageiros e pequenas
latina quadrangular de carangueja junto mercadorias, designadamente as Canoas Fig.5 - Museu de Marinha (Colecção Seixas).
ao mastro. Os Botes-de-fragata eram muito (ou Botes-canoas) e os Catraios (ou Botes-
utilizados no transporte de cortiça, ferro, -catraio). Fig.6 - Extraído de Joaquim Baldrico, Montijo, Aldeia Galega:
cereais e carga geral entre as duas margens Memória Fotográfica, 2002.
do Tejo. No que se refere às Canoas, identificam-
-se diferentes tipos, decorrendo as suas es- Referências Bibliográficas
No seu “Barcos do Tejo”, Carrasco (1997: pecificidades técnicas das funções e áreas
23) descreve as Faluas como situando- privilegiadas de operação. Destaca-se a Baldrico, J. (Org.) (2002) – Montijo, Aldeia Galega: Me-
-se entre o Bote e a Fragata em termos de Canoa Cacilheira e a Canoa do Tejo. A pri- mória Fotográfica. s.l.: Cygnuscolor Design, Lda., C.M.
dimensão. Por sua vez, Leitão (2002: 111) meira utilizada no transporte de pessoas, Montijo/J. F. Montijo.
destaca, entre outras especificidades, que animais (Cf. Ecomuseu Municipal do Seixal
as linhas de água destas embarcações “são e CCDRLVT, 1995: 114) e pequenas merca- Carrasco, E. (1997): Barcos do Tejo, Lisboa, Edições Ina-
muito mais delgadas que as dos botes, e dorias entre Lisboa e Cacilhas. A segunda, pa, 153 p.
que são prolongadas à proa e à ré para pro- destinada, essencialmente, ao transporte
duzir entradas finas que alargam para cima, de pequenas mercadorias e mercearias Ecomuseu Municipal do Seixal, CCRLVT (1995)
e saídas compridas terminando num painel entre as povoações ribeirinhas do Estuário “Os Barcos Típicos do Tejo – Caracterização
de popa pequeno e estreito” (Figura 6). Tejo (embora tivesse sido também utiliza- Genérica”. In Magalhães, F. (Coord.), Navegando no Tejo.
da na pesca), sobrevivendo no exercício Lisboa: CCRLVT, pp. 110-117.
Outra característica da Falua prende-se destas funções até à década de 1970. Os
com a especificidade do convés: “O con- demais tipos de Canoas eram utilizados, es- Leitão, M. (2002): Barcos do Tejo. Lisboa, Museu de Ma-
vés de vante ocupa um pouco mais que sencialmente, na pesca e no transporte do rinha, 216 p.
uma metade do barco e tem duas escoti- pescado (Canoa da Picada, Canoa Enviada
lhas, uma no bico da proa, no lado de esti- Nabais, A. (2009) – “Barcos do Tejo”. In AÇAFA On-Line
(n.º 2). Vila Velha de Ródão: Associação de Estudos do
Alto Tejo, 6 p.
Fontes Orais
António José Fernandes – Entrevista realizada em 2011.
Natural de Sarilhos Pequenos, Marítimo entre 1963 e
1967 (61 anos).
António Fernandes Júnior – Entrevista realizada em
2011. Natural de Sarilhos Pequenos, Marítimo entre
1942 e 1961 (84 anos).
NR - Os autores não adotam o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2013 17