Page 8 - Revista da Armada
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SAIL DEN HELDER 2013
FESTIVAL NUM PAÍS DE MARINHEIROS
O Sail Den Helder 2013 tinha tudo organização como «navios charters». Es- Foto Marinha Holandesamar, sonoridade marcada pelo acordeão,
para ser um excelente festival tes iam fazendo saídas regulares ao longo o baixo eléctrico e a voz do solista. Entre
náutico, marco diferenciador do do dia, apinhados de passageiros, prontos os transeuntes, destacavam-se os deficien-
estio de 2013. Primeiro, pela razoável a apreciar os esbeltos veleiros de três di- tes motores (já em Rouen se notara essa
quantidade de veleiros que responderam ferentes classes, maioritariamente classe presença) e, claro, os inúmeros ciclistas
à chamada dos responsáveis do certame; A, ancorados nos múltiplos cais e molhes. das mais diversas faixas etárias.
depois, pela localização geográfica, um Aproximavam-se deles, fazendo mano-
histórico porto de mar com uma série de bras ousadas nas águas que separavam os DESFILE NÁUTICO E HONRAS
cais paralelos, o que permitia apreciar navios. Sentido de oportunidade à holan- MILITARES
devidamente a armação vélica dos par- desa? Sem dúvida, neste caso, bem aplica-
ticipantes; finalmente, pela do. Quanto aos eventos complementares, Os navios foram chegando ao longo do
própria natureza da calenda- temo que lhes tenham dado pouco desta- dia 20, tendo ficado, desde
rização, que associava o festi- que… Nesses três dias, foram raros os mo- logo, fundeados na designa-
val às comemorações dos 525 mentos em que me senti num festival ma- da Den Helder Roads, a «es-
anos da Marinha holandesa. rítimo. Vários factores terão contribuído trada marítima» que separa
O problema foi mesmo a me- para tal. Aponte-se o hostil factor climáti- a cidade da ilha vizinha de
teorologia, que se comportou co, mas também o factor espaço temporal. Texel, misto de ilha natural
bastante mal, reservando do- O Sail Den Helder durou apenas três dias e artificial com 16 mil ha-
ses de frio e chuva, miúda mas e não contou com qualquer nome sonante bitantes. As reservas aquí-
intensa, para o previamente no cardápio dos espectáculos programa- feras de Texel garantiam o
reservado fim-de-semana de dos para os diversos palcos distribuídos fornecimento da água para
21 a 23 de Junho, factor que pelo recinto. No mais pequeno, bem perto as naus e carracas que par-
reduziria de forma drástica a do navio escola português, coros e grupos tiam para as Índias Orien-
afluência de pessoas. de idosos, traje de marinheiro a rigor, in- tais no período áureo da
terpretaram temas tradicionais ligados ao colonização holandesa. Era
FESTIVAL HÚMIDO nesse canal que os navios
E CINZENTO aguardavam a chegada dos
ventos de noroeste que lhes
Mantinha-se elevada a fas- permitissem enfrentar o mar
quia. Talvez devido ao even- alto em busca das riquezas
to que ocorrera dias antes em que fizeram da Holanda
Rouen, a Armada 2013. De uma potência económica.
resto, muitos dos veleiros ali Evocando, de certo modo,
presentes viriam a participar esses tempos, vistosas e
no Sail Den Helder, etapa in- bem conservadas escunas
termédia para um outro certa- holandesas passeavam-se
me de grande relevância, ou entre os veleiros para que
seja, a já consagrada Regata os seus ocupantes os pudes-
dos Grandes Veleiros, agen- sem fotografar.
dada este ano para os países Para encerrar as come-
escandinavos e bálticos. Por morações dos 525 anos
isso, não suscitou estranheza da Marinha holandesa e,
a predominância de navios do de certa forma, dar início
norte da Europa, havendo a ao Sail Den Helder 2013,
destacar a Holanda, a França organizou-se um desfile
e a Rússia. náutico com a presença do
rei holandês. O navio esco-
Napoleão Bonaparte, senhor la espanhol Juan Sebastian
dos Países Baixos, desde a in-
vasão de 1795, achou por bem designar Del Cano, acabado de chegar de uma tra-
o então porto pesqueiro de Den Helder vessia transatlântica, como decano, faria
como a «Gibraltar do norte da Europa», as honras ao monarca com uma salva de
reconhecendo-lhe uma inegável impor- 35 disparos. Outras 21 salvas seriam dis-
tância estratégica, entre o Canal da Man- paradas à entrada do porto de Den Hel-
cha e o Mar do Norte, tendo para isso der, desta feita com direito a resposta. Bem
dotado o local com várias fortificações, ouvimos esses tiros, secos e curtos, crian-
hoje em dia relevantes atracções turísticas do manchas de fumo que se diluíam no
dessa cidade do norte da Holanda, onde intenso nevoeiro que dava aos navios um
está sedeada a mais importante base naval ar fantasmagórico. Apesar da importância
do país. do evento, nada de registo televisivo em
directo.
No penúltimo fim-de-semana de Junho
ali se juntaram vinte e cinco veleiros, 11 Foi pena que o Stad Amsterdam, o ve-
militares e 14 civis, para além de 12 outros leiro que transportava o monarca, tivesse
navios, todos holandeses, designados pela passado pela Sagres à proa, eliminando
8 SETEMBRO-OUTUBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA