Page 9 - Revista da Armada
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parte do efeito produzido pela tripulação a total ausência de filas para a entrada nos percorrer se alguma vez optarmos por fazer
trajada a preceito e em sentido. Mesmo navios. No melhor dos três dias, quando a algo do género.
assim – saber-se-ia mais tarde – as honras intempérie deu algumas tréguas, a Sagres
prestadas, que incluíram três “vivas” ao rei registou 4 mil visitas, embora em todo o Foi na doca de Willemsoord, numa área
holandês, foram imensamente apreciadas recinto não chegasse sequer a haver uma assinalada por uma gigantesca roda de
pelas mais altas autoridades holandesas aglomeração digna de registo. Mesmo as- parque de diversões e uma tenda gigante,
e os embaixadores e adidos militares dos sim, esse foi o único dia em que o local que se desenrolaram algumas das activi-
países representados no evento que os assumiu um aspecto festivo. dades paralelas, como o teatro de rua, ten-
acompanhavam. do sido anulada, devido ao mau tempo, a
De quando em vez, entre os visitantes, al- tão aguardada corrida de barcos dragão.
UM PATRIMÓNIO ASSUMIDO guém dava a conhecer a sua origem lusa e A festa das guarnições decorreu num dos
E ACARINHADO o nosso embaixador em Haia teve o cuida- hangares ali próximos, na denominada
do de fazer uma visita de carácter privado, Katedral, mesmo por detrás do café res-
Contrariamente ao que estava previsto até porque não fora programada qualquer taurante Kade 60, um dos poucos locais
no planeamento, a Sagres acabaria por fi- cerimónia ou recepção oficial a bordo. com wi-fi gratuita.
car atracada na nova doca da base naval,
não junto ao Santa Maria Manuela, an- Nos estaleiros navais de Willemsoord, Partiria da doca de Willemsoord a para-
tigo bacalhoeiro português, exemplarmente requalificados, agora como da das guarnições que, ao longo de duas
mas sim ao lado do Sedov, o zona de lazer e pólo museológico, com horas, percorreria as ruas dessa cidade de
maior veleiro do mundo, que
viria a ser protagonista do 58 mil habitantes, só que, desta
primeiro e único incidente vez, a habitual pompa dos ma-
do evento, ao abalroar a nau rujos mexicanos foi totalmente
alemã, Lisa von Lubeck, des- ofuscada pelos batuques car-
troçando-lhe a proa e danifi- navalescos dos representantes
cando seriamente o gurupés. do Cisne Branco, que cativa-
ram a população local.
Mostravam também os seus
atributos, nessa montra prin- Com o cancelamento das
cipal, o navio escola brasilei- corridas de barcos dragão,
ro Cisne Branco, os «gigan- por mais estranho que pareça,
tes» Dar Mlodziezy e Mir, primaram pela ausência as ini-
rotineiros vencedores de re- ciativas de cariz desportivo no
gatas, e o sempre exuberante Sail Den Helder 2013.
Cuauthemoc, onde se ouvia
em permanência música em cafés, restaurantes, museus, passadiços e SOL PARA
alto som. espaço de sobra para caminhadas, encon- A DESPEDIDA
travam-se alinhados os veleiros de classe B,
Digamos que esta era a li- caso do sueco Falken, do polaco Iskra, ou Como se estivesse a zombar
nha da frente do festival. Para do francês Belle Poule, todos pertencentes à de todos nós, o astro-rei daria
completar a visita, havia que Marinha dos respectivos países. Mais adian- um ar da sua graça a meio da
atravessar duas pontes leva- te, ao longo de um dos canais que atraves- manhã de domingo, dia de
diças e percorrer novo mo- sam Den Helder, dava gosto ver o amon- partida, precisamente na altu-
lhe, onde, de um lote de vá- toado de embarcações, veleiros ou não, ra em que os seguranças auto-
rios veleiros, se destacavam qual delas a mais bonita, a mais arranjada, rizavam a entrada das pessoas
os ilustres e muito visitáveis prova provada do empenho com que este aglomeradas junto às duas
Gotheborg (réplica de um povo do norte preserva as suas tradições pontes levadiças que davam
navio sueco naufragado em marítimas. Podemos apontar-lhes muitos acesso à base naval e respec-
finais do século XVII), e os defeitos, mas neste capítulo temos tudo a tivos cais. Também nesse dia
franceses Belem (que trans- aprender com eles; e um longo caminho a houve desfile náutico no Den
portava cacau do Brasil para Helder Roads, desta feita pre-
a Europa) e Etoile du Roi, na- sidido pelo Chefe de Estado-
vio corsário vedeta de cine- -Maior da Armada holandês
ma já por diversas ocasiões. que seguia a bordo de um
patrulhão novinho em folha.
Em toda a extensão do re-
cinto deparávamos com bar- Malgrado a meteorologia
racas de comes e bebes onde, a troco de desfavorável, valeu a pena
bilhetes pré-comprados, eram servidas ter viajado tão a norte. Quan-
salsichas, batatas fritas, pizas e arenque to mais não fosse para nos lembrarmos
cru, tudo com muita maionese, mostarda que também Portugal podia, devia, tinha
e ketchup. Raras eram as barracas com a obrigação de assumir-se como um ver-
produtos alusivos ao festival, raros os ar- dadeiro país de marinheiros, como se as-
tistas de rua e os vendedores ambulan- sume, na realidade, a Holanda. E contra
tes, como acontecera em Rouen. Havia factos não há argumentos.
a destacar a presença de plasmas gigan-
tescos transmitindo vídeos promocionais Joaquim Magalhães de Castro,
da Marinha holandesa, que assim apro-
veitava para dar a conhecer as suas ac- Investigador da História da Expansão Portuguesa
tividades, esperando certamente recrutar
pessoal que engrossasse as suas fileiras. Fotos:
Joaquim Magalhães de Castro.
Uma das características deste festival foi
N.R.
O autor não adopta o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO-OUTUBRO 2013 9