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NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA REVISTA DA ARMADA | 491
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DEPOIS DO ÉBOLA,
A LEGIONELLA… E O NATAL...
Depois do sucesso da minha última história (sobre o Ébola), com cartas e manifestações várias de apreço, decidi enveredar pelo mesmo
caminho. Assumo, deste modo, o duvidoso título que determinado Oficial, de relevo no mundo das letras, produziu em relação aos meus
textos: "Eh pá, você é mais conhecido na Marinha, que uma estrela do Rock-and-Roll"… Avancemos para o "bicho" seguinte…
A LEGIONELLA: a Legionelose é uma doença descoberta seu Fado e na ausência de um D. Sebastião, ainda ausente no
após uma convenção de veteranos de guerra, americanos, Álcacer Quibir da nossa alma, resistimos num Portugal emo-
em 1976, manifestando-se por uma pneumonia potencial- cionalmente ausente… Não ligamos os "piscas" nas rotundas
mente grave, dita "atípica". Ao contrário do agente anterior e outras interseções da vida, porque "ninguém tem nada que
(o Ébola), trata-se de uma bactéria. A principal diferença en- saber para onde queremos virar…", não cumprimentamos nos
tre bactérias e vírus são as seguintes: as primeiras são, na elevadores, ruas e locais de trabalho, porque "somos superio-
maioria dos casos, tratáveis com antibióticos (agentes que res aos estranhos que nos rodeiam…", somos demasiado or-
têm salvo milhões de vidas, desde que Alexander Flemming, gulhosos para agradecer aos raros automobilistas que param
em 1928, descobriu o primeiro agente: a Penicilina). Os ví- nas passadeiras, "pois não cumprem mais que a sua obriga-
rus são mais resistentes e, depois da SIDA, houve um desen- ção". O preço de tanta austeridade parece ser um mecanismo
volvimento de agentes antivirais, que têm a capacidade de de autodefesa… que parece corroer o âmago da alma portu-
modular o desenvolvimento de alguns vírus, sem erradicar o guesa: por natureza afável e respeitadora.
vírus. A verdadeira arma de erradicação das doenças virais é
a vacinação… quando esta está disponível. Feliz Natal aos meus amigos leitores…
O recente surto de infeção por Legionella também tem con- Doc
tornos políticos importantes, a nível local e imediato… A disse-
minação, como foi largamente noticiado, é evitável… E apesar
das estranhas condições climatéricas deste outono, muito fica
por explicar. Ora, não parece nada estranho que seja em perío-
do de crise que surgiu este acontecimento. A prevenção tem
custos e, como noutras situações, sempre que as empresas têm
dificuldades económicas poupa-se nos bens "não essenciais",
como a prevenção...
Por outro lado, reparará o leitor paciente e atento, este surto
serviu muitos e bons propósitos. Alimentou muitos noticiários,
sempre ávidos de notícias dramáticas, e, em particular, marcou
longamente a agenda política. Compreende-se que é preferível
o foco sobre a Legionelose, em vez do débito externo, tróica,
impostos e outras deprimentes tristezas... que nos ensombram
a alma…
Aos militares estes surtos infecciosos, potencialmente fa-
tais, deveriam alertar para outro facto não menos importante.
Por tradição, os hospitais militares sempre constituíram uma
reserva de camas para situações de catástrofe (como aconte-
ceu no defunto Hospital da Marinha, com o potencial surto de
gripe A). Na situação atual, um único e pequeno hospital, já
em dificuldades para suprir as necessidades quotidianas, ha-
verá, isso sim, necessidade de recorrer ao Serviço Público, se
um evento destes atingisse uma qualquer unidade militar de
grandes dimensões…
O NATAL: fiel ao estatuto descrito acima, gosto sempre de es-
crever umas palavras sobre o Natal que se adivinha. Infeções
à parte, parece mesmo que os portugueses (e os marinhei-
ros não são exceção) se habituaram ao sofrimento. Fiéis ao
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