Page 29 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA 		                         RREEVVIISSTTAA DDAA AARRMMAADDAA || 449966

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FRAGATA SANTA TERESA

  Nicolau Duplessis, ou Du Plessis como        A entrada em Lisboa ocorreu no dia 14
também o apelido aparece registado, era      de Março de 1655, embora o comandante
um oficial, oriundo de Malta, ao serviço     Marques Esparteiro refira, a meu ver erra-
da Armada Real Portuguesa.                   damente que a entrada terá ocorrido em
                                             8 de Maio (1), sendo o navio integrado na
  A primeira referência que encontrei        Armada Real Portuguesa com o nome de
relativamente a este oficial foi no de-      Santa Teresa.
sempenho do cargo de Capitão-de-Mar-
-e-Guerra da nau Conceição mas, na se-         A 13 de Maio desse ano de 1665 já a
gunda metade do mês de Novembro de           Santa Teresa, armada com 18 peças e
1664, já desempenhava idêntico cargo         186 homens de guarnição e hasteando o
a bordo da fragata São Bernardo, a qual      pavilhão português, saía a barra do Tejo
havia sido lançada à água em 9 de Julho      em cruzeiro de guarda costa, sob o co-
desse ano, sendo possível, o que não se      mando do Capitão-de-Mar-e-Guerra Car-
conseguiu apurar, que desempenhasse          los Gentil de la Mota. No fim do mês de
tal cargo desde esse dia.                    Abril de 1667 a fragata foi a França e em
                                             Julho já estava novamente em Lisboa,
  No início do ano de 1645 a São Bernar-     data essa a partir da qual não mais se
do encontrava-se em cruzeiro no Estreito,    encontrou qualquer referência a seu res-
não só para impedir a passagem dos cor-      peito. Quanto ao comandante Duplessis,
sários argelinos, como também, talvez en-    pouco tempo depois, devido à traição de
tão o mais importante, para combater os      uns quantos, também o seu navio passou
navios espanhóis.                            a integrar a Armada Espanhola.

  No decurso desse cruzeiro havia já con-                                              Com. E. Gomes
seguido apresar vários navios de Espanha,
os quais, com o agravamento do tempo,          (1) O convencimento de que a data apon-
lograram escapar-se.                         tada em Três Séculos no Mar, da autoria do
                                             comandante Esparteiro, está errada resulta
  Talvez em consequência dessa fuga pla-     de não ser essa a data apontada no Mercúrio
neou Duplessis levar a cabo uma acção        Português, publicação da época dos aconte-
que poderia, para além do grande impac-      cimentos e porque seria quase impossível
to que teria, conduzir ao apresamento de     descarregar o navio e pô-lo operacional no
alguns navios espanhóis.                     curto espaço de 4 dias, pois tal como o co-
                                             mandante Esparteiro também refere a saída
  Assim, sem hastear qualquer bandeira,      para o mar ocorreu a 13 de Maio.
entrou no porto de Málaga com o intui-
to de capturar alguns dos navios que ali       				
encontrasse, acção que decorreu com to-
tal sucesso já que conseguiu apresar um      N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
navio biscainho, que ali se encontrava já
carregado e prestes a seguir viagem para     Fonte
Ostende, conseguindo sair do porto, com      "Mercúrio Português", Novembro 1965.
o navio apresado, apesar do fogo de arti-    "Três Séculos no Mar".
lharia das posições espanholas em terra.

  Acompanhado da presa dirigiu-se para
Lisboa, tendo ainda, no percurso, dado
caça a alguns navios de Hamburgo que
avistou e que, transportando soldados, se
dirigiam da Andaluzia para Cadiz; embora
não os tendo conseguido alcançar conse-
guiu, mesmo assim, com sua acção toma-
da, libertar um navio português, que in-
tegrando a frota do Brasil, havia sido dias
antes por eles apresado.

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