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REVISTA DA ARMADA | 505

mudanças, em campos tão diversos como a exploração de recur-          NATO UNCLASSIFIED-PUBLICLY DISCLOSED
sos, a biotecnologia e a manufatura, influenciando as interações
económicas, políticas e sociais. A segunda tendência está relacio-
nada com o aumento do acesso à tecnologia, designadamente
por atores não-estatais, criando problemas graves no quadro da
segurança e defesa. Por último, é salientada a centralidade das
redes informáticas, fator que aumenta consideravelmente os ris-
cos associados a qualquer disrupção dessas infraestruturas.

Tema económico e de recursos                                          Strategic Foresight Analysis
  As previsões sobre este tema assentam em três tendências.
                                                                      2013 Report
A primeira consiste na globalização dos recursos financeiros, ca-
racterizada por uma interdependência entre as economias e os
sistemas monetários dos vários países. A segunda diz respeito
à cada vez maior escassez de recursos naturais, contrabalança-
da pela evolução tecnológica, que potenciará novas formas de
exploração dos (escassos) recursos. Finalmente, antecipa-se a
tendência para a redução dos orçamentos de defesa nos países
Ocidentais, admitindo-se que, mesmo que a economia mundial
entre numa fase de crescimento, as opiniões públicas continua-
rão a resistir aos investimentos militares.

Tema ambiental                                                                                         N North Atlantic Treaty Organization
  Apresentam-se, no âmbito deste tema, duas tendências. Em                                                      Headquarters Supreme Allied Commander Transformation

primeiro lugar, uma esperada aceleração das alterações ambien-                                                                                                      NATO UNCLASSIFIED-PUBLICLY DISCLOSED
tais e climáticas, que o estudo afirma estarem a tornar-se evi-
dentes em muitos locais do globo. Em segundo lugar, o aumento         Planning Process), através do qual são ciclicamente revistas e de-
do efeito devastador de desastres naturais, como terramotos,          finidas as prioridades das capacidades a edificar pelos Aliados.
maremotos, erupções vulcânicas, impactos de meteoritos ou as-
teroides, etc.                                                        CONSIDERAÇÕES FINAIS

REVISÃO INTERMÉDIA DE 2015                                              A revisão da SFA evidenciou como um reduzido número de
                                                                      eventos concretos pode alterar significativamente o ambiente de
  No final de 2015, foi feita uma revisão intermédia do documen-      segurança e defesa mundial. Neste caso, isso aconteceu com o
to original. Embora já estivesse inicialmente prevista, essa revisão  envolvimento da Rússia na Ucrânia e a ascensão do autodenomi-
justificava-se pela ocorrência, nos anos anteriores, de alterações    nado Estado Islâmico. A intervenção russa na Ucrânia pode ser
significativas no panorama geoestratégico. Apesar disso, a revisão    definida como uma surpresa estratégica (i.e. um cisne cinzento).
de 2015 reafirma praticamente todas as tendências assinaladas na      Parece-me, contudo, que não atingiu o nível de um choque es-
SFA 2013, embora reconheça que algumas aceleraram, enquanto           tratégico, pois vários sinais presentes nos discursos e nas ações
outras abrandaram. Assim, o tema em que houve mais alterações         anteriores de Putin, bem como os precedentes conflitos conge-
foi o político, o que se compreende pela sua volatilidade.            lados na Abecásia e na Ossétia do Sul, permitem caracterizar a
                                                                      anexação da Crimeia como não totalmente imprevisível. Além
  A postura da Rússia (cada vez mais assertiva e agressiva) enqua-    disso, apesar do seu enorme impacto, a realidade é que a rea-
dra-se, genericamente, na tendência (já identificada) para a trans-   ção da comunidade internacional (centrada sobretudo em san-
ferência de poder do Ocidente para o Oriente, embora muitas das       ções económicas e nalgum reforço da parceria NATO/Ucrânia) foi
suas manifestações (como a anexação ilegal da Crimeia e a inter-      relativamente moderada. Já a emergência do autodenominado
venção no Leste da Ucrânia) tenham sido largamente imprevistas.       Estado Islâmico constitui, em minha opinião, um verdadeiro cho-
                                                                      que estratégico (o tal cisne negro de Nassim Nicholas Taleb), por
  Contudo, a tendência em que se verificou o maior retrocesso         ter ocorrido de forma absolutamente inesperada e pelas con-
foi a que apontava para a transição para formas de governo mais       sequências imediatas e duradouras: Ambiente de insegurança
democráticas. Nessa ótica, na revisão de 2015 reconhece-se que        global nas sociedades democráticas, Estados falhados, exacerbar
“a expetativa ocidental de que o mundo Árabe poderia tornar-se        do terrorismo islâmico, crise de refugiados, impacto no preço do
mais democrático desvaneceu-se”. De facto, o rumo invernal das        petróleo, etc. Contudo, como referido acima, as fronteiras entre
Primaveras Árabes acabou por ter consequências relevantes na se-      choque e surpresa estratégica são muito difusas e aquilo que
gurança e defesa, contribuindo decisivamente para a emergência        parece, hoje em dia, um cisne cinzento pode muito bem vir a
do autodenominado Estado Islâmico.                                    revelar-se, no futuro, um cisne negro…

  De qualquer forma, o projeto SFA é um excelente contributo                                                                                 Sardinha Monteiro
para tentar perspetivar o futuro, procurando estabelecer o enqua-                                                                                              CFR
dramento de referência que balizará a edificação, organização e
emprego das forças militares aliadas até 2030 e influenciando o
atual Processo de Planeamento de Defesa da NATO (conhecido
pelo acrónimo da designação em inglês, NDPP, de NATO Defence

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