Page 29 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 520

          INCORPORAÇÃO DE ABRIL                               CFS 95/96 | 4º CONVÍVIO
          DE 1972 | 45 ANOS
                                                               Decorreu em Ferreira do Zêzere, no passado dia 22 de abril, o 4º
           No dia 8 de abril decorreu em Vialonga a comemoração dos   convívio do Curso de Formação de Sargentos “Artilharia” 95/96.
          45 anos de incorporação dos “Filhos da Escola” de abril de 1972.  Estiveram presentes 12 camaradas acompanhados de familiares.
                                                              A organização esteve a cargo do 1SAR A REF Godinho.
                                                               Para o próximo ano navegamos para norte, Lousada, onde o
                                                              camarada SAJ A REF Alves será o anfitrião.


















          ESTÓRIAS                                                                                         33



          A ROTA DOS AMORES




            curioso.                                           A linearidade substitui a redondeza no olhar e no pensamento.
         É Durante muito tempo estive convencido que o Alentejo só   Apostamo-nos em seguir em frente guiando-nos pelas estrelas
          interessava, mesmo, aos alentejanos, aqui paridos e crestados   e pelos cheiros da murtinheira, do alecrim, da alfazema, do ros-
          pelo Suão.                                          maninho, do poejo e dos fenos cortados.
           Sempre achei que, quem como eu, não gostava de “almece”   A entrega total torna-se compulsiva à medida que se caminha na
          nem de sopa de beldroegas com queijo, jamais poderia consi-  descoberta do recôndito desta calmaria e temperança. Tempo de
          derar-se alentejano de gema, embora aqui nascido e criado até   espera de melhor tempo, que se espelha no arrastar da fala e no
          à altura de dar de frosques, antes que a cozedura do Sol ou as   cantar das décimas à padroeira de ouvidos duros de mercador.
          frieiras do Inverno lhe tolhessem os movimentos e a vontade.  Despojos de Roma e das suas grandezas e misérias. Despojos
           Mas a verdade é que as grandes ligações não começam sempre   da sabedoria de árabes nas artes do amanho da terra e do uso da
          pela paixão e muito raramente perduram para além dela.  água e na cor tisnada do rosto das gentes.
           O Alentejo tem que ser descoberto a pouco e pouco, como num   Gostava  que  a  descoberta  tivesse  sido  só  minha.  Ela  vai-se
          striptease.                                         fazendo todos os dias por gente que tem outra cor na pele e nos
           Há que retirar-lhe os véus com que cobre a sua nudez, um a um,   olhos, que fala sem acento ou com línguas desentendidas, gente
          sem avidez nem destempero.                          que leva mais do que traz, mas que um dia se renderá.
           A sua esbelta figura se projecta então no sobreiro solitário, em   Ninguém pode desmerecer desta serenidade campaniça.
          contraluz do sol nascente, para se espraiar diáfana pela campina                                    
          alargada a todo o horizonte derredor.                                                       Ferreira Júnior
           A luz perpendicular veraniça tira sombras até dos olhos e da                                     CMG
          alma.                                               Nota: Extraído do livro “TERRA-MAR-E-GUERRA – Cogitações de um Marinheiro
           A ligação vai-se estreitando no gosto das coisas simples, do pão   Alentejano”
          e do alho, azeite e coentros, rábano e “toicinho”.  N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
















           DR


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