Page 28 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA 96
O FRADE INVENTOR
ntre os leitores que ainda vão tendo O aproveitamento destes elementos
Epachorra para “passar os olhos” pelas seria obtido através de uma roda, munida
linhas que aqui se vão deixando, poucos de palhetas, colocada no convés, no caso
serão, se até mesmo algum, os que desco- do vento.
nhecem quem foi frei Bartolomeu de Gus- Através de um cilindro, com palmetas
mão e a sua associação ao invento da “Pas- ou asas, semi-submerso e preso ao navio
sarola“; entre esses, alguns haverá que por 2 hastes que o mantivessem sempre
saberão ter sido este frade o inventor de à mesma distância, não permitindo qual-
um sistema para a elevação da água, pos- quer movimento transversal, no caso da
sibilitando assim o abastecimento regular corrente.
do seminário de Cachoeira, no Brasil, onde No caso do balanço, por meio de um pên-
se encontrava. dulo instalado numa coberta ou de uma
O que poderá constituir novidade para calha BB-EB, onde deslizaria uma esfera de
muitos, assim o julgo, é o facto deste frade latão.
ter apresentado, em 1710, um opúsculo, No caso da ondulação, por um conjunto
onde apresentava alguns seus inventos, de tubos com a mesma inclinação instala-
cujo título era o seguinte: “Vários modos dos desde o porão à borda, no sentido de
de esgotar sem gente as naus que fazem BB-EB, tubos esses ligados entre si, tendo
água”. na ligação uma válvula que só abriria num
Talvez tal desconhecimento decorra do sentido, permitindo assim a entrada da
facto da publicação correr com o nome água cuja saída só seria possível para o
de Bartolomeu de Lourenço, verdadeiro tubo seguinte, sendo este o único sistema
nome do frade em causa, e não pelo que que dispensaria o uso de bomba, já que a
adoptou e é conhecido. água passaria de tubo em tubo até ser lan-
Considerava Gusmão que o esgoto da çada para o exterior do navio.
água embarcada era o maior problema Os primeiros sistemas transmitiriam o
com que a navegação se deparava, mor- movimento através de cabos ou alavancas
mente a portuguesa cujas principais car- ao êmbolo da bomba de esgoto, garan-
reiras se efectuavam bem longe de terra, tindo assim o propósito desejado.
problema esse muito mais preocupante O próprio inventor apresentava, para cada
do que o do desconhecimento da Lon- um dos seus inventos, algumas limitações,
gitude, para a solução do qual se encon- como fossem a dificuldade de manobra de
trava estabelecido um elevado prémio velas, o risco de danos provocado pela bola
pecuniário, argumentando, em defesa do de latão, a dificuldade na progressão do
que afirmava, que o conhecimento da lon- navio e a impossibilidade de utilização em
gitude não era preciso tantas vezes como mar calmo ou com falta de vento.
o esgoto da água, que tinha de ser perma- Perante tais inconvenientes, é perfeita-
nente, até porque eram muitos mais os mente justificável que nenhum dos siste-
navios que se perdiam por embarcarem mas tivesse sido, tanto quanto consegui
água, do que aqueles que se perdiam por apurar, alguma vez posto em prática.
desconhecimento da longitude.
Defendia Bartolomeu de Gusmão que as Cmdt. E. Gomes
soluções que preconizava decorriam do
aproveitamento do vento, da corrente de N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
água provocada pela deslocação do navio
e pelo balanço provocado pela ondulação. Fonte: Biblioteca de Ajuda 154 – I – 8 nº 11
DR