Page 342 - Revista da Armada
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dizer-se aluno deles, sem o que '-,
lhe seria interdita a participação
nas exposições do Salon.
Em 1864, com 24 anos, envia ao
Salon o primeiro busto, tendo
sido recusado. Rodin eviden-
ciava já um tão marcado vigor no
modelado e uma procura tão fre-
nética - através do essencial - do
carácter e dos sentimentos da
pessoa que não é de espantar
aquela recusa. Trabalhavá o barro
em toques pronunciad íssimos e de
grande agitação, deixando de
parte e negligenciando tudo o que
não contribuisse para a caracte-
I
rização do modelo. Daí uma certa
rudeza selvática dos seus gessos
e bronzes. Ainda estava para vir
t
o tempo em que os artistas estabe-
lecidos e o público estariam
à altura de poder apreciar a sua
obra. Quando juntou algum dinhei-
ro; foi a Itália estlldar as obras de
Donatello e Miguel Ângelo. O tra-
balho que produziu a seguir foi
a estátua que hoje se chama
«A Idade de Bronze» e que intitu-
lou, inicialmente, «Homem Acor-
dando para a Natureza». Sente-se
a influência de Donatello, mas,
no entanto, a obra era suficiente-
mente original para o celebrizar,
quanto mais não fosse pelo escân-
" Mulher Acocorada "
dalo que suscitou. Vários críticos
e colegas afirmaram que a obra aquilo que pudesse contribuir resolveu a atacar em definitivo
era uma burla descarada obtida para traduzir melhor o carácter ou o mármore e o bronze, era já
de um molde directo sobre o mo- o movimento. «Uma obra, mesmo o entardecer da vida , e a obra,
delo. Muitos artistas no entanto depois de acabada, nunca está apafentemente concluída, nunca
o defenderam e o Estado reparou perfeita» , dizia. Mais de 20 anos foi no entantQ completamente
a ofensa adquirindo o bronze
trabalhou ele no célebre «Portão acabada. Recebeu muitas enco-
e outros trabalhos do escultor.
do Inferno». São 186 figuras dota- lJIendas de governos e entidades
Existe uma réplica desta estátua das umas de força indómita, outras oficiais. A maior parte delas dava
no nosso Museu Nacional de Arte de frágil graciosidade, outras de origem a controvérsias tremendas,
Contemporânea. Começava a sua bestial rudeza, todas elas vida a mais famosa das quais se cen-
carreira ascendente e o caminho em movimento em transes de trou na célebre estátua de Balzac.
estava aberto para a celebridade. angústia, pavor, voluptuosidade Nunca discutia, e quando as
Não a conquistou fàcilmente. O ' ou desespero. Sobranceira a tudo críticas eram inabaláveis, limita-
seu lema era o trabalho. É dele isso, a célebre figura do «Pensa- va-se a recolher a obra sem um
a frase «a arte é 90 % de técnica dor» contemplando as misérias protesto, ainda que ela o tivesse
e 10 % de inspiração». Nunca humanas. Esta tarefa ciclópica ocupado durante 7 anos, como
tinha press~, a não ser naquelas fascinou-o, por assim dizer. Con- no caso do seu «Balzac». '
alturas singulares em que com sumiu-lhe anos de estudos e esbo- Seguir a Natureza foi sempre o seu
meia dúzia de toques tinha de ços - não em pura perda, porque objectivo. A Natureza nU/lca é
definir um senllmento ou um o «Portão do Inferno» foi uma feia, dizia. «Aquilo que vulgar-
gesto. Depois, vinha a contempla- espécie de repositório donde mente se chama feio, na Natureza,
ção e a meditação, procurando saíram muitas das suas obras pode tornar-se belo eni arte.»
com serenidade e paciência tudo futuras. Quando finalmente se «Porque é simplesmente l a força
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