Page 149 - Revista da Armada
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I Nota de Abertura
A história de uma estátua
Em «Nota de Abertura» do 0. 158fNov. de 84 Feita a plantação, previa-se a colocação de es-
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desta Revista, insurgia·me contra o facto de não tátuas de navegadores nos relvados respectivos,
haver na cidade de Lisboa um monumento ao especialmente de Vasco da Gama e de Afonso de
grande Vasco da Gama, o maior marinheiro portu- Albuquerque, que se sabia estarem guardadas no
guês de todos os tempos, segundo uns, o mais Convento de Mafra.
afortunado, segundo outros, e, sem duvida, o mais Sucedeu que o comandante Jaime do lnso fale-
conhecido no país e no estrangeiro. ceu, e foi o almírante Ramos Pereíra, seu sucessor
Dias depois, escrevia-me o vice-almirante Lino na direcção do Museu, que conseguiu autoriza-
Paulino Pereira, informando que essa estatua já ção para que as estátuas que estavam no Conven-
existiu. Feita de pedra, esteve implantada em Be- to de Mafra, e se destina vam, conjuntamente com
lém, no local onde agora é a fonte luminosa, e foi outras peças escuJtóricas, a um museu de arte
dali retirada e guardada no Convento de Mafra, comparada, fossem transferidas para o Museu de
onde ele próprio a viu. Como prova do que dizia, Marinha.
mandou-nos fotocópia duma folha da «História As diligências levaram tempo mas, finalmente,
dos Descobrimentos)I. de Damião Peres. onde ela reuniram-se no Museu todas as estátuas de nave-
aparece com a legenda Vasco da Gama (Belém - gadores que éstavam guardadas no Convento,
Lisboa). destinadas, segundo ideia do almírante Ramos
Fizemos várias diligências para descobrir o seu Pereíra, a ser colocadas sobre o relvado que cerca
paradeiro, visto já não se encontrar em Mafra, to- alargo fronteíro ao Planetário.
das sem resultado, apesar de haver várias entida· Dada a diversidade de tamanhos e a fragilida-
des interessadas no assunto. de de algumas (gesso patinado) a ideia não che-
Prestes a desistir, ou a lançar um apelo a quem gou a ser concretizada, limitando-se a colocar na
soubesse desvendar o mistério, tivemos a sorte de relva um busto em baixo relevo do infante D. Hen-
contar a história ao nosso ilustre colaborador, pin- rique, que pertencia ao Departamento de Obras
tor Alberto Cutileiro e tudo ficou esclarecido, gra- do Mosteíro de Santa Maria de Belém, e diversos
ças aos seus vastos conhecimentos e à sua prodi- fragmentos escuJtóricos. Na altura foi para o Mu-
giosa memória. seu um busto de Camões que se encontrava na Bi-
São dele as palavras que se seguem: blioteca Central da Marinha, e cuja proveniência
Em 1963/64, sendo director do Museu de Mari- desconheço. Uma das estátuas, não me lembro se
ha o esforçado e competente comandante Jaime a de Vasco da Gama se a de Afonso de Albuquer-
do Inso. criticava-se asperamente a construção do que, estava bastante danificada, sendo restaura-
edificio do Pavilhão das Galeotas, por ser de efeito da uma das mãos e a guarda do punho da espada.
desastroso na hrrmpnia arquitectónica em que se E pronto, apareceu a estátua de Vasco da
enquadrava. Gama que durante anos e anos esteve erguida nos
Para, tanto quanto possível, remediar o caso, jardins de Belém e dali desapareceu para nunca
ocultando o pavilhão, concebeu-se um plano de mais voltar! Com a devida vénia, entendemos ser
arborização adequado, com a colaboração do en- Vasco da Gama grande demais para estar fechado
genheíro Boneville Franco e da Repartição dos no Museu ... Deve vir novamente cá para fora, pelo
Monumentos Nacionaís, dirigida pelo arquitecto menos para local escolhido no átrio exterior d o
Vaz Martins. Museu. Para que os miL'1.ares de visitantes que ali
Entretanto o director do Museu adoecia e era acorrem anualmente possam testemunhar que a
amputado de uma perna, não esmorecendo, mes- Armada actual o não esqueceu, nem o esquecerá
mo assim, de realizar o seu plano. E, numa reunião jamais.
no Museu com o ministro da Marinha, almírante
Ouintanilha Mendonça Dias, e o minístro das
Obras Públicas. engenheiro Arantes e Oliveira, foi
decidido pedir â Câmara Municipal de Lisboa, da
presidênCia do general França Borges, a cedência
de árvores dos seus viveíros privativos. clalrn.
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