Page 153 - Revista da Armada
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No cais, braços caídos, os homens es- - Força, rapaz! barco. Fallava-Ihe apenas orranjar d/ulS
perl/III. O rio e mar de I'agas e de anseios. Não era preciso o pai dizê-lo. Pernas sacas e convencer Gai/inhas, que recllsava
Saem a.~ filias dos bOCM, /lUIS é paro ele que retesodas COlllm a am/lradu e mdos como ser If!drão defrll/o.
os olhos se valiam. Olhos de llllimal que tenazes 110 cabo da fatám, doíam-lhe as A /arde, porém, opa} cltamOI/-O ao
perdoo. canelas, rallgeu os delltes; mas o rio foi ce- cais. Já algul/s barcos haviam largado
_ Se eu pudesse, inda viral'fl de rumo dendo 1/0 III/a. O lambor encallroul/o bar- paro outras paragens; os carregadores for-
-diz Manuel l/O BO/e, co e os dois marÍlimos içaram-lIo a poder migavam nas prllnchas; e o Boa Sorte,
Mas são palallros para o rio ouvir. (II' braço. o/mcado de ballda, recebia carga.
Deixa-se andar ali a rondar o cais, bellfll - Bom trabofllO! -comel/toll Mal/uel - Saímos 1I0]e- informou Mal/uel do
esquecida lias beiços. miios armstodos l/e do BOle. BOle, risonho. - Arralljei um frete pró
(mfibio. Ginete sorriu com or8/III/O, limpando MOlllijo. pago ti ponta da pral/cha.
_ E se a gell/e mol/wsse li goela? As- à mOl/ga da camisa a tesla SI/ada. PasseOIl Gil/ete permal/eceu mI/do, a ofhar de
sim com 'assim. o olhar pelo wis distallle, ol/de gellte sem esguelha o rio agitado.
Algl/lls 1'110. Sellltlm-se IIOS bal/cos el/- borco recolhia sll/vados (/ue a correI/te es- - 'tãscom medo? Um home ..
cardidos e bebem. As cartas (I/Idom de prai(/\'a. Para lá do casario, no MiraI/te, - Nã senhor - i/lterrompeu o filllo.
l/ul0 em mão, e os copos, dl'.~ mllos pam ollfra gel/te saía de carros luzidios e COII- t que eu 1;lIha cá 11111 biscate ... Vomeci ga-
as boclIs. desenlarameladas. Mas a /aber- templava o rio. «Vimm-me decerto», pel/- nltava por um Imlo ... e ell poroll/ro.
na fica cl beira do cais - e o rio eSI"eita tI SOIl o rapaz. E encheu o peito lle ar, COII/O -AIt ... largas-me de mão?/,.
porta. Pode o Chico Undil/1l0 garganleor se {/1I/&(/lIil/a fOlográfica do senhor gordo Coçou devagar a barba de tr€s dia.ç, a
todos os fados, que é o rio quem se Ol/lIe. estivesse emfrellte dele. dar tempo ao raciocíl/io, pois já sabio que
Mal/ue/lio BO/e emralielllro do bllfCO. - Já posso apal/har as laralljas? à brllfa nada lucrava.
Ajciltl os oleados, o/ivia os cubos. como se O pai ocel/Oll qlle sim, ellqu{/llto calcu- - E 1'11 a dezer há bocado, pra quelll
fosse pur/ir em brel'e_ Tal e qual o pai do lalla o valor (lo salvado. Com pressa. quis octvir, que fCI ias sem medo lIem que
Gue,/el/ws. que, mesmo desempregado, como se o caseiro da Q/tima Alia viesse fosse prós Brasis,
corre (IS rlUlS COI/lO ({uem lel'll deslillo. ali, Ginete pôs-se a recolhera frllfa. -Pois ia. p"i,- mas,.
-llIda baldeias pela borda fora Esfregava os mãos lias calças, como
ModerOCI o lIfã. - Se opanlrasse tIIdo que a seg/lmr a vOlltade abalado,
de 11/11 folgo, atiravll-me ó mar. - Mas lião vois, Ollviste contar que as
Col1le/lte, elllrOl1 IIlI bml!ira e (/lIis re- O pai disfarçou um sorriso. - Tinha c"~ias meteram fragatas 1/0 fUI/do - e 11110
I1llIrsozinho, que puxarCOII/ 'ó tambor .. vais.
Larga isso, moço - opôs-se o poi. - - Não SOIl c"paz?! - E tirou fora das O pai de Molesso, que baldeara a Ulti-
O mar lião 'tá pra graças. colços a fralda da camiso, ma saca, il/terveio também: - Dei.ms o
SelllOI/-se em frell/e. Os remos chia- A voz rouca do pai S/Isteve-o, - 'tás teu pai fiOllf moI, rapaz?! Nestas ocasiôes
VlII// lias to/eles, e o vellto, I/{/S vl/g"s que mall/co, pá? Nã vim pr'aqui laurear. é que se querem veros arraises,
empinawlf11 o barco. A correllle lIrrasltlva- Oulros restos tle derrocadas aproxima- - Tem me(lo-escarneceu Mal/llel do
-o pllm juslllue, e Mlllllle/ ,lo BO/e concel/- VOlll-se, O gemido dos remos tomaI/-se BOfe, pousando-lhe as mãos nos cabelos
IraViI todos os musculos 1/" remada, opon- m"ior 1/0 solidão do rio, revoltos. - Des/a vez,liava-teofato.,
do a força conseieme cl força bm/a lias - Olha acolá, pai.' Gillete encolhell os ombros e Mal/uel
ágllC/S. Um remo parlido - e a bmeira se- Em cima de um fordo de pOI/IO. empo- do Bot't julgou que era por di/vido.
ria impelida rio abuixo, como o lrollCO de leirado, UIII galo seguia viagem para o - A certa, Nem q/te passasse fome.
árvore que I'illha perto, mar. O filho esboçou 11m sorriso. Fome pas-
- Cuidado, pai. Olhe "quefe fOro. - Vai 10l/ge - obserVO/Ia marítimo. ml'a ele desde que o Inverno apol/tara ..
Uma gllin",i" for/e, e o barco safou-se. - Já tláo o coçamos. - E vira/I a proa do - Emão, Mal/el? - perguntou o Cabo
Ginete sorriu. Assim, entre perigos, gosltl- barco para a lezíria. de Mar, qlle se aproximara. - 'tás à espera
VII de lIIlllar emb"rcado. Vida com risco de Sobre o I'alodo- ilha perdida 110 ocea- :fUI' o barco fique 110 chão?
I'üla e chei" de imprevistos. tlifereme do- 1/0 das cheias - rastejavam lagartos e co- Malluel do Bote ia a responder, mos o
quela que lel'''vo qual/do o rio era mar de bros; I/as oliveiras, piavam pássaros; e rlls filho exclamou logo: - Eu VOU, pai; mas
I/(lfa. assustadas sUllliam-se I/as ervas, aos PI/- /lã é pelo fato .. _
Manl/el do Bo/e seg/liu o toro com o Ias, Além, I/as povooçôes arrasadas, ou- Saltaram plira II cober/a,da proa, -Iça
olhar. tros biellos deviam estar assim, sobre a o es/oi! - ordel/oll o arrais, ellqualllo re-
- TOII/o leI/ira perdida ... - I//C/rmu- ervo dos valados, à espera ... O"wriam tal- colhia as amarras. A vela, empapada de
rou, vez a cllpela da Sal/to de Alcamé - SeI/ho- água, deslizou sobre as odriças como ball-
- Não.~e apanha, pai? Com um bllfCO ra das cheitl.\·. Ma.f o sillo da torre lião toca- deira de gl/erra; o arrais deitou mão ti callo
gr{/lule ... va ... E o rebocador, tinico qlle havia, cus- do leme; e as defel/sllS roçaram a borda do
O rosto de Mal/uel do BOle ensom- tal'o cem mil por hora .. cais. em despedido.
brou-se. O barco gr",ule enferrujava no O barco de vela branca, que lembrava O Ti Befllo chegou-se oínda, agoi-
cais, jullto de I/tllilos outros. com aspecto mortallra, villha reli/e ao valado, carrega- rento:
triste de coisa Clbmulol/ada: I'elas Qrrü/(I"s do de gell/e_ Quando cruzou com a batei- - Olha que vai haver (rabl/zana! Pras
e mastros opolltmrdo o céu inClcessivel, ra, Malluel do Bale SOlidO/I: - Boa via- lado da barra 'fá aficar feio ..
sem brilho de astros. gem! Manuel do Bote estendell-lhe o braço,
- Pega lia fa/eixa - ordelloll o rema- Viagem triste. Borco ajoujado de car- II/lm atleus, e disse quaisquer palavras que
dor. ga, que ia ficar em qualquer cais, sem abri- s6 o vel/to ouviu. Sob o cavemame, o rio
Es/{/vam agora a meio do rio. A 11m go. Por isso, o remador escutou apel/as o bramia contra a quilho que lhe cortava as
lmio e O/llro tio borco passavolI/ /Manjos, eco da própria voz. E Ginete lembra/I-se águas altas. Parecia que o barco se ia par-
restos de palheiros e coelhos lle borrigll il/- de certo navio com lenços lia amurado e tir em dois, de momento a mameI/to; mos
c/rada, entre molhos desfeitos lle caniço. coslado bral/co como peito de gaivota, a a vela grande, bojuda, impelia-o para a
- Tan/alaranja, pai.' VaI/pescá-las. quem tlesejara também boa viagem. freme.
- Tem tempo, Foz o que te mando. A tarde agollizava. No /IIar de lula,
Gílle/o lembrara-se do negócio em deslizav(lll/ sombras e restos de vida por
perspectil·a. Ali lião havia mllros nem CII- sah'ar ...
seiros.. Mas /1111 vulto estrallho vinJra (la - Larga afa/eixa, 'tollfarto d'auga-
longe a rolar. disse Mal/uel do BOle com voz dolellle.
- Temos obra - llisse Mali/II'/ do Meteu a proa à terra e atracou. (50('i'O P('Tt'ira GO/n('s-Obras Comp/('/as,
BOle, BibliO/('ca Europa-América)
- Puxa-o pra fora da lil/ha d'allga, "
A fateixa roçou o tambor de gasolina, Gil/ete premeditara o ossalto pora
vazio, e fixo/I-se-lhe 110 bojo. aquela semalla.qualldoopai.va{sse com o ***********
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