Page 33 - Revista da Armada
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Ángelo Frondóni (com chapéu alto) com a filarmónica 1. ode Dezembro. que abrilhantou os festajos no PaSSfJIo Público, em Lisboa, em 1 de Abril
          de  1878, comemorativos da Revoluçlo do Minho de 1846 (Daguerre6tlpo rarfssimo, pertencente ao Centro de CoIflCCionadoles ~Casa do Cava-
          /eiroaPorIa»).
          cial  adequada,  escrita  pelo  inspirado  maestro  italiano   mesma água disse-lhe: Então que porcaria é essa?! E
          Ângelo Frondóni, que ao tempo vivia no nosso país, trazi-  ele, de costas para mim, virando-se ligeiramente foi di-
          do pelo abastadíssimo barão de Quintela para orquestrar   zendo: tufti Frondôni, tutti Frondôni» (é ludo Frondôni).
          em S. Carlos, e que a compôs ao piano, numa noite:
                                                                                                 Alberto Cutileiro
                A Maria da Fonte
                 Ê uma mulher como as mais
                 Tem um cinto  de pistolas
                 Para matar os Cabrais

                 Eia, avante, portugueses
                 Eia, avante, sem temer
                 Pela santa liberdade
                                                                 N. A.  -  Ângelo Frondôni nasceu em Parma. em 1812.  e falec6u
                 Triunfar ou perecer.
                                                              em Lisboa, em 1891. Autor de inumeras composições,  eslreou-se no
                                                              Teatro S. carlos em 21 de Jafl8iro de  t838, com a mUsica para dois
             Terminada  a  revolta  das  valentes  mulheres  portu-  bailados "A Ilha dos Portenlos" e apresentou em 20 de Março "A Volta
          guesas, estas voltaram  às  lides da casa, arrumando a   de Pedroo Grandede Moskow",. Ambas obtiveram estrondoso eXlto.
                                                                 Escreveu musicas para comédias,  farsas para o Teatro da Rua
          um canto, mas à mão para o que desse e viesse, os anci-
                                                              dos Condes. eem 1874 apresentou no Teatrodo Principe RealaOpera
          nhos, gadanhas e forquilhas. Hoje, o instrumento de que   burlesca "O FilfIo da Senhora Angot". tambem com muito svcesso.
          fazem mais uso para exteriorizar o seu génio guerreiro   MUIto dado à  literatura, escreveu na "Revolução de Setembro".
          é o rolo da massa, que utilizam com mestria para agredir   periódico  jacobino. diversos artigos e poesias. sendo rido por individuo
           maridos recalcitrantes ou noctivagos ...           cieideias anarquistas.
                                                                 Vendo-sa cercado de animosidade. caiu em misantropia. iSCJlandO-
              O hino de Frondóni, dedicado à valentia e beleza das
                                                              -sedetudoedetcdos.
           portuguesas, viria a causar-lhe alguns engulhos. A rai-  O seu hino da Maria da  Fonte. quando tocado pela pflfTlelra vez
           nha proibiu que ele se tocasse ou cantasse,  fosse sob   na Praça de Touros do Campo Pequeno. foi vaiado pelo povo. que ape-
          que pretexto fosse. O maestro passou a ser perseguido   dr8JOU a  tribuna da charanga, havendo correrias e debandada geral
                                                              Mais tarde. sob forte protecção de forças da ordem, passou a ser ali
           e teve que se esconder para nâo ser preso. D. Maria es-
                                                              locado. sempre que o representante do Governo ou um mlfl/S(fOsurgla
           palhou, parece que com verdade, que Frondóni poupava   nalribuns.
           muito a água para a sua higiene. A este respeito, escre-  DepoIs do advento da RepúblICa. fOi adoptado como tuno m/mste-
           veu um dos seus biógrafos: «Era pouco dado a lavar-se!   fiaI, o que amda fIoj8 se mantém.
           Um dia fui buscá-lo a casa para irmos a uma festa dada   Deve  ainda  dizer-se que.  quando  Frondóni veiO  para  Portugal,
                                                              onde foi sempre apoiado por Quinte/a. se enraizou profundamente no
          pelo ministro da Âustria e havia-lhe recomendado que se
                                                              nosso meio. acamaradando com os perslví/fIos da época e frequentan-
           aperaltasse. Quando entrei noquartodei com ele a lavar-  do os salões da me/flor sociedade.
           -se numa bacia em que mergulhava os pés. Depois de se
           ter lavado de baixo para cima, ao vê-lo lavar a cara na   ••••••••••••••••••••••••••••••

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